Ainda a dar os primeiros passos no nosso país, o setor dos cuidados de saúde e residências sénior em Portugal foi analisado à lupa pela CBRE no estudo «Building a healthier and more thriving future», cujas conclusões acaba de apresentar.
O potencial da procura é elevado, começa por destacar a CBRE, adiantando que mais de um terço da população residente em Portugal em 2050 será sénior, ou seja, um total de 3,3 milhões de pessoas – mais 1 milhão que os atuais 2,3 milhões. Consequentemente, o índice de dependência está previsto quase duplicar nos próximos 30 anos, tornando-se em 2050 o mais elevado na Europa, com uma estimativa de 63 idosos para cada 100 pessoas em idade ativa.
Embora até aqui o elevado preço das residências séniores tenha sido um dos maiores entraves ao crescimento da oferta, a população começa a estar mais consciente e a criar complementos à reforma. Segundo os dados apurados, o preço médio num equipamento deste tipo com uma gestão profissionalizada ronda hoje os 1.200 euros, ou seja, é ainda elevado para o valor médio das pensões de reforma, que é de 5.811 euros anuais em Portugal, ou seja, 484,25 euros mensais; atingindo um valor máximo de 771,25 euros mensais no concelho de Oeiras.
Por outro lado, o nosso país continua a atrair a fixação de estrangeiros reformados que, de modo geral, têm um valor de reformas muito superiores aos dos portugueses; o que tenderá a refletir-se num crescimento da oferta de residências sénior de maior qualidade e com uma maior oferta de equipamentos e serviços.
Oferta escassa e pouco qualificada
Outra das marcas atuais deste mercado é uma oferta escassa e pouco qualificada. Segundo a CBRE, existem atualmente no nosso país 100.500 camas em Estruturas Residências para Pessoas Idosas (ERPI), das quais apenas 23% são detidas por entidades privadas com fins lucrativos. A estas somam-se ainda mais de 10.000 camas inseridas na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), mais de metade das quais geridas por Misericórdias.
Tendo em conta que segundo a Organização Mundial de Saúde, a oferta de camas em residências para séniores deve corresponder a um rácio de 5% da população idosa, isso significa que Portugal tem atualmente um défice de 4.500 camas e que até 2050 deveriam ser criadas pelo menos mais 55.000, ou seja, metade do que existe atualmente. No entanto, e tendo em conta a previsão de população acima dos 80 anos, a CBRE considera que as necessidades poderão ser muito superiores.
Para que essa meta possa ser atingida, será necessária uma maior participação do setor privado e, cientes do facto, recentemente temos vindo assistir à entrada em Portugal de diversos operadores de residências para seniores estrangeiros. É o caso da Orpea, a Domus Vi, a Domitys e a Clece, que têm já residências em funcionamento ou em projeto, juntando-se a operadores portugueses como a UHub, a Amera, a BF, entre outras, também a expandir neste setor.
Nesta fase, a CBRE identificou um pipeline de mais de 20 projetos em construção ou em fase de licenciamento, compreendendo uma capacidade superior a 1.500 camas. Mas, dada a escassez de oferta, prevê-se que possam surgir mais em breve.
Além disso, conclui a consultora, embora o investimento no setor ainda seja pouco expressivo, o desenvolvimento de novos projetos e a entrada e expansão de diversos operadores irá impulsionar o investimento nesta classe de ativos nos próximos anos, nomeadamente através de contratos de forward-purchase e forward finance, onde o investidor acorda a aquisição do imóvel antes do mesmo se encontrar concluído.