Esta é uma das principais conclusões da Prime Yield, na última edição do seu relatório anual “Keep an Eye on the NPL & REO Markets – Portugal, Spain, Greece & Brazil”. Embora o contexto macroeconómico desafiante, Portugal não deverá ir além dos 1.700 milhões de euros de volume transacionado em 2023.
Este é um volume idêntico ao registado em 2022, ano em que a atividade de venda de carteiras de NPL em Portugal registou uma quebra de 44%, não dando continuidade à tendência de recuperação pós-pandemia de 2021 e pressionando este mercado em níveis mínimos dos últimos anos.
Apenas em 2020 a atividade de venda de NPL foi inferior, ficando então em 1.000 milhões de euros. Recorde-se que era um contexto de paralisação dos negócios devido à pandemia. O pico de transações de malparado em Portugal registou-se em 2019, quando ascendeu a cerca de 8.000 milhões de euros, e que após a quebra de 2020 para os já referidos 1.000 milhões de euros, o ano 2021 assinalou uma recuperação para os níveis de 2017 e 2018, com cerca de 3.000 milhões de euros transacionados, numa tendência que 2022 não confirmou, relembra o relatório.
Portugal mantém o segundo rácio de NPL mais elevado da Europa do Sul
No 3º trimestre de 2022, o sistema financeiro nacional registava 7.200 milhões de euros em crédito malparado, montante que corresponde a 3,1% do volume total de crédito concedido no país (rácio de NPL). Pese embora ambos os indicadores continuarem a exibir uma trajetória de redução ao longo do último ano, a Prime Yield refere que Portugal mantém o segundo rácio de NPL mais elevado da Europa do Sul, apenas superado pela Grécia, onde o peso do malparado no crédito total foi de 4,9%. O rácio de NPL português continua a quase duplicar a média europeia, que posicionou este indicador em 1,8% no 3º trimestre de 2022.
Entre o 3º trimestre de 2021 e 3º trimestre de 2022, o stock de NPL em Portugal reduziu 14%, tendo saído 1.200 milhões de euros de incumprimento do sistema financeiro, de 8.400 milhões (3º trimestre 2021) para 7.200 milhões de euros (3ºtrimestre 2022).
Nelson Rêgo, CEO da Prime Yield, explica que «a redução do stock de malparado nos últimos anos reflete não só o bom ritmo de vendas, especialmente no período que antecedeu o Covid, como a postura de maior cautela do lado da banca na concessão de crédito, através de condições mais restritivas. Além disso, os receios relativos a uma nova onda de malparado advindo da pandemia não se confirmaram, o que contribuiu ainda mais para que esta trajetória de desalavancagem continuasse».
“Há ainda muito caminho a percorrer no esforço de redução do crédito malparado ”
Para o responsável «há ainda muito caminho a percorrer no esforço de redução do crédito malparado, pois não só mantemos o rácio de NPL muito acima da média europeia, como estamos em destaque na Europa do Sul, onde apenas a Grécia exibe um peso de malparado mais expressivo que o nosso. Além disso, estamos num momento de grandes desafios económicos e as probabilidades de o rácio de NPL aumentar são bastante fortes. No curto-prazo, isso pode acontecer por via da travagem na concessão de novo crédito, como já sinalizam os últimos dados do crédito à habitação. Se o volume de crédito concedido não aumentar, naturalmente o peso do malparado tende a ser mais expressivo».
Adianta ainda que «num prazo mais alargado, adicionalmente poderemos assistir ao crescimento efetivo do stock de crédito em incumprimento. As taxas de juro não dão sinais de abrandar a subida, cresceram mais rapidamente e durante um período mais alargado que o inicialmente previsto, num contexto de inflação em máximos de 30 anos e travagem do PIB. A incapacidade das famílias e empresas cumprirem as suas obrigações de crédito vai aumentar bastante e isso deverá ser visível já na reta final deste ano».
Tendo em conta os processos de venda de NPL em curso no 1º trimestre de 2023, observa-se um volume potencial de transações próximo dos 1.500 milhões euros, aponta o relatório da Prime Yield. Contudo, deverá aumentar progressivamente nos próximos meses, à medida que forem sendo lançados no mercado novos mandatos, esperando-se que o ano feche com um nível de atividade idêntico a 2022, em torno dos 1.700 milhões de euros.
A Caixa Geral de Depósitos destaca-se como a entidade mais ativa, liderando dois processos de venda em curso: o projeto Saturno, avaliado em 600 milhões de euros, e uma outra carteira no valor de 500 milhões de euros, incluindo ativos com e sem colaterais.
“A expetativa para 2023 é que venhamos a assistir a uma estabilização da atividade um pouco por toda a Europa”
Nelson Rêgo constata que «2022 revelou-se um ano de forte desaceleração da atividade em todos os países europeus monitorizados pela Prime Yield, fruto não só do maior amadurecimento dos próprios mercados, mas também do clima de incerteza económica. E a expetativa para 2023 é que venhamos a assistir a uma estabilização da atividade um pouco por toda a Europa, que deverá fechar com um volume global de vendas muito semelhante ao do ano anterior. Esta é uma tendência que observámos também em Espanha e na Grécia, que são outros países europeus onde a Prime Yield está presente e que se destacam por terem, respetivamente, o segundo maior stock de NPL (21% do total europeu, em €79.000 milhões) e o maior rácio de NPL na Europa (4,9%)».
Nelson Rêgo atenta ainda para o efeito do clima de incerteza económica que atravessamos, nas transações de NPL: «este cenário europeu de dinâmica contida, ao qual Portugal não é exceção, reflete o impacto negativo da subida das taxas de juro no mercado de venda de NPL, já que o aumento das taxas de referência veio não só intensificar o desencontro de expetativas de preços entre vendedores e compradores, mas também encarecer o financiamento que suporta muitas das transações concretizadas neste mercado e, assim, reduzir a atratividade desta tipologia de ativos face a outras classes de investimento».
No que toca a Espanha, a Prime Yield antecipa a venda de portfólios de NPL no valor de €10.000 milhões em 2023, numa quebra de 9% face aos resultados de 2022.