Supermercados sustentam investimento no setor do retalho

Supermercados sustentam investimento no setor do retalho

No ano passado, o investimento em supermercados na Europa somou os 5.200 milhões de euros no início do 4º trimestre, um aumento de 40% face a igual período de 2019, segundo a Savills.

Apesar da disrupção causada pela pandemia, em 2020 o investimento no setor do retalho manteve-se estável nos três primeiros trimestres do ano, com os volumes de investimento a atingir os 20.900 milhões de euros a nível europeu, acima do registado em 2019, e cerca de 17% do volume total investido no setor imobiliário na região.

O investimento na área do retalho excedeu mesmo os níveis registados em 2019 na Alemanha, França, Espanha, Suécia e Portugal. E as transações de supermercados foram muito superiores à sua média de cinco anos na Alemanha (+197%), em Espanha (+120%), na Polónia (+64%) e em Itália (+76%). Além disso, «a apetência por este segmento do retalho não mostra sinais de esmorecimento, já que, de acordo com a análise da consultora, os volumes de investimento nos supermercados e nas lojas de conveniência na Europa já aumentaram 40%, no trimestre corrente até à data, face ao período homólogo», diz a Savills.

Eri Mitsostergiou, Savills European Research Director, explica em comunicado que «a oferta do produto tem sido impulsionada por investidores que procuram reduzir a sua exposição ao setor do retalho e por proprietários-ocupantes que tentam mobilizar capitais através de operações de sale & leaseback. Adicionalmente, a atividade de investimento tem sido fortemente sustentada pela procura no setor retalhista alimentar e de conveniência, um segmento em que os lucros dispararam durante o confinamento».

Durante o período de confinamento, os volumes de negócio do setor do retalho alimentar registaram uma forte subida. Segundo a Savills, depois do confinamento os retail parks mostraram-se mais resilientes, «graças à sua configuração e acesso exterior. Supermercados e lojas de conveniência foram os ativos mais procurados pelos investidores, com esta tipo de transações a representar 40% da atividade total do investimento em retalho no acumulado do ano».

Por outro lado, os centros comerciais representaram 25% do total investido em 2020, o que «reflete o verdadeiro revés da sorte acelerado pela pandemia», segundo a consultora.

Investidos €120M em retalho alimentar em Portugal

Em Portugal, o investimento em retalho ultrapassou os 1.000 milhões de euros em 2020, graças à maior operação do ano, a venda de 50% do Fundo Sierra às seguradoras Allianz e Ello, num valor de cerca de 750 milhões de euros.

O setor foi um dos mais impactados pela pandemia, e verificou-se um aumento das transações de unidades alimentares, reflexo do impacto do período de confinamento. Foi registado um volume de investimento superior a 120 milhões de euros em unidades alimentares e stand-alones, 99 milhões dizendo respeito a operações de sale & leaseback de portfolios de supermercados.

Luís Vieira, Retail Director, da Savills Portugal, afirma que «com a nova realidade, o consumo, os clientes e a oferta adaptaram-se. A obrigação e vontade de ficar mais em casa, em teletrabalho e na vida quotidiana, fez com que o consumo mudasse. As pessoas comem em casa, redecoraram as suas casas, compram on-line. Este novo modo de vida, fez com que o retalho alimentar, o DIY, a decoração e as entregas on-line tenham tido um “boom” em 2020 e que continuará. Algumas marcas destes setores de atividade, tiveram o seu melhor ano de sempre, tendo inclusivamente tido menos custos de operação».

Considera que «o investimento observado, mostra a clara aposta em readaptar e expandir estes setores. Esta rápida adaptação, fez também com que estas empresas se tenham libertado do “peso” dos seus ativos, em operações de Sale & Leaseback, assegurando contratos de arrendamento de longa duração e capital disponível para continuar a sua rápida expansão».

Supermercados não são imunes ao ecommerce

«No ano corrente, os supermercados e o mercado de conveniência revelaram-se mais resilientes do que quaisquer outros segmentos de retalho, apesar de não estarem imunes ao aumento do comércio eletrónico, tendo a pandemia provado que têm de inovar», refere Eri Mitsostergiou.

Segundo o responsável, «os retalhistas inteligentes, que irão sobreviver e, provavelmente, prosperar após a pandemia, têm sido capazes de otimizar a sua oferta omnicanal e a sua cadeia de abastecimento, a fim de prestar melhores serviços de comércio eletrónico, disponibilizando lojas de conveniência em zonas urbanas e modernizando as suas lojas por forma a proporcionar um serviço melhorado de consumo no local – um conceito conhecido como “grocerants”».

Yields vão subir em 2021

De acordo com a Savills, as prime yields de retalho «são suscetíveis de subida» em 2021, ainda que não tão acentuada como em 2008, já que a atividade económica e o consumo deverão recuperar mais depressa.

Oli Fraser Looen, codiretor da equipa de Consultoria de Investimentos Regionais da Savills, EMEA, afirma que «é com confiança que prevemos, em 2021, uma correção significativa dos preços em baixa no setor, o que será suficiente para evidenciar o prémio de risco retalhista sobre outras classes de ativos e, por conseguinte, atrair investidores capazes de aproveitar as oportunidades».

E completa que «na segunda metade do próximo ano, assistiremos, sem dúvida, à realização de alguns negócios interessantes no setor do retalho e a uma vaga de transações de sale & leaseback no setor retalhista alimentar».