Na edição deste ano do MIPIM, a maior feira de imobiliário do mundo, realizada em Cannes, o stand da Região de Lisboa apresentou uma agenda dinâmica para destacar a atratividade de investir em Portugal, com especial enfoque na capital.
No dia 13 de março, o mercado imobiliário comercial português esteve no centro de uma discussão sobre as razões que tornam o país um destino cada vez mais relevante para as SCPIs francesas. A Quick Talk, moderada por Alexandre Lima, Diretor da Iberian Property, contou com as intervenções de Jean-Marie Souclier, Presidente da Sogenial Immobilier, Jean-François Chaury, Diretor Geral Adjunto da Advenis, e Jorge Bota, CEO da B.Prime Portugal.
As SCPIs (Sociétés Civiles de Placement Immobilier), também conhecidas como pierre-papier, são veículos de investimento coletivo em imobiliário, abrangendo ativos como escritórios, retalho, unidades de saúde e edifícios residenciais. O objetivo é gerar rendimento, embora este não seja garantido e possa variar consoante as condições do mercado e o desempenho da SCPI. Os rendimentos distribuídos, geralmente pagos trimestralmente, provêm das rendas, dos ganhos financeiros da gestão de tesouraria e de eventuais mais-valias na venda de ativos. A sociedade gestora cobra honorários pela administração dos imóveis e pelas transações realizadas.
Para compreender como é que estes veículos franceses realizam as suas transacções, é importante ter em conta que as SCPI são veículos de investimento regulamentados com um limite de endividamento de 40%, o que significa que têm de se apoiar fortemente no capital próprio disponível. Oferecem aos investidores a possibilidade de diversificar geograficamente, assegurando ao mesmo tempo rendimentos estáveis e ambiciosos, alcançando frequentemente rendimentos líquidos de entrada de cerca de 7%.
É importante notar que estão sujeitos a tributação nas regiões em que investem, e o quadro fiscal português para o investimento imobiliário é considerado mais favorável do que o francês. Este facto, associado a um mercado imobiliário estável, fez de Portugal um destino atrativo para os fundos franceses SCPI.
Os membros do painel detalharam os tipos de ativos que mais captam o interesse dos investidores franceses em Portugal. Para as SCPIs, a localização é um fator prioritário, não tanto pelo seu valor estético, mas pela liquidez e pelo potencial de valorização a longo prazo. A atenção centra-se em regiões estratégicas como Lisboa, Porto e Algarve, que oferecem mercados dinâmicos, diversidade de inquilinos e um equilíbrio entre estabilidade e crescimento. Além disso, estes fundos reconhecem a importância de estabelecer parcerias com especialistas locais para navegar eficazmente no mercado português. Com um histórico de investimento em Espanha, a Sogenial e a Advenis (através da SCPI Elialys) estrearam-se em Portugal em 2024.
A Elialys optou por investir num ativo industrial no distrito de Lisboa, num negócio avaliado em cerca de 5 milhões de euros. O armazém, situado estrategicamente junto à autoestrada A8, foi arrendado por 20 anos a uma empresa de processamento alimentar com ligações de exportação para Espanha e França. Esta aquisição reflete a preferência da SCPI por ativos logísticos de elevado potencial, assegurados por contratos de longo prazo.
Já a Sogenial Immobilier apostou no setor do retalho com a aquisição do Évora Retail Park, um ativo com 8.000 metros quadrados. Jean-Marie Souclier destacou os fortes fundamentos do mercado português, sublinhando a resiliência económica do país e o seu crescente potencial de investimento no contexto da estratégia pan-europeia do fundo.
Apesar do interesse crescente, o investimento em Portugal apresenta desafios. Os especialistas reconhecem que, embora o mercado seja líquido, os processos de transação continuam a ser morosos, exigindo paciência e uma execução estratégica. No entanto, a perspetiva de valorização das rendas e a oferta de ativos de qualidade a preços mais competitivos sustentam o otimismo dos investidores e reforçam o compromisso em manter uma posição ativa no mercado.