No primeiro ciclo de conferências do Portugal Real Estate Summit, a intervenção do economista António Ramalho incitou reflexões sobre o atual mercado imobiliário português. Depois de um programa de ajustamento difícil – Troika – criou-se, em primeiro lugar, «um regresso muito rápido à normalidade e, também, uma forte disciplina orçamental alicerçada num crescimento baseado em serviços, nomeadamente no turismo», aponta o ex-CEO do Novobanco.
“Estamos num momento em que se inicia um processo de crescimento sustentável”
O gestor argumenta que «a situação em Portugal melhorou muito nos últimos 10 anos, e, se olharmos com atenção, os últimos números são os mais importantes», a título de exemplo, «sustentámos um certo nível de emprego, iniciámos um processo de crescimento do PIB após a crise pandémica e fomos capazes de colocar a redução da dívida pública na lista de propriedades».
Neste período, António Ramalho refere que «resolvemos três pontos principais» da economia portuguesa: a tendência para a redução da dívida pública, o nível de desemprego e a capacidade de sustentação da economia em tempos difíceis por parte do sistema financeiro.
Nível dos depósitos das famílias continua estável
«O nível de depósitos continua a crescer a um ritmo constante e estável, sendo que o nível dos depósitos das famílias continua estável», sublinha o economista, acrescentando que o «nível de NPLs continua a estar em linha com as tendências (de descida), 1,1% do total dos empréstimos dos bancos».
“Setor imobiliário português é um mercado muito maduro que está a ser afetado pela falta de oferta”
Segundo António Ramalho, o preço da habitação cresce em Portugal «suportado por duas vertentes»: a falta de oferta, pois «não fomos capazes de construir e investir depois da crise», e porque há uma «forte procura doméstica e estrangeira – 10%, mas no fim de contas isto impulsionou os preços em alta, não foram só as transações que aumentaram», enfatiza o economista.
O rácio de novas casas também «está a reduzir drasticamente, pois o nível de construção não é suficiente para tudo o que a procura implica», como também a «oferta de habitação está a reduzir e os preços estão a subir até um certo nível que é, na opinião pública, impossível para a grande maioria», frisa.
“Nunca vamos ter uma bolha imobiliária em Portugal”
António Ramalho reitera que, apesar do que muitos dizem, «nunca vamos ter uma bolha imobiliária em Portugal». O «crescimento dos preços da habitação está a ser moderado, com efeitos de base adversos e condições financeiras mais rigorosas, a procura permanece resiliente, mas as transações estão a diminuir», sublinha.
Por conta de Portugal ser «um país periférico, o mercado local sofre com os investimentos estrangeiros em termos de valor e de preço, mas sobretudo em termos de volatilidade dos preços», afirma o ex-CEO do Novobanco, acrescentando que «ao contrário de outros destinos periféricos, Portugal continua a ser um mercado de baixo-risco devido à sua importância local».
O economista conclui a sua intervenção dizendo que «a situação não é a melhor» e que «não posso dizer que Portugal é o mercado mais seguro em termos de investimento imobiliário, mas certamente é um dos melhores».