Prova disso é o volume acumulado até setembro na região Norte de Portugal, que atingiu os 400 milhões de euros, cerca do dobro do somado no mesmo período do ano passado. Os dados são do mais recente estudo Market 360º Porto 2020 da JLL.
Para Fernando Ferreira Head of Capital Markets da JLL, estes resultados mostram que «o Porto e a região Norte começam a ganhar uma expressão própria nos planos de investimento, sendo cada vez mais a primeira opção dos investidores como uma cidade ibérica para investir, ao invés de ser apenas a segunda cidade em Portugal», lê-se no documento apresentado na VIII Semana da Reabilitação Urbana do Porto.
Também Pedro Lancastre, diretor geral da JLL, não tem dúvidas que «o Porto posicionou-se ao longo do último ano como primeira opção de muitas empresas e investidores, não sendo olhado como um mercado alternativo face à escassez de oportunidades em Lisboa. Isso explica também o desempenho favorável quer do investimento quer da ocupação de escritórios», afirma em comunicado, salientando ainda que o Porto é «cada vez mais, uma cidade de eleição no mercado europeu».
A verdade é que, segundo Pedro Lancastre, «o mercado do Porto chegou à pandemia vindo de um ciclo de crescimento robusto e com um enorme potencial ainda por executar, o que explica que esteja não só a resistir como até a evoluir positivamente, mesmo neste contexto adverso». Neste panorama, a autarquia tem vindo a desempenhar um papel importante. «A Câmara do Porto tem uma capacidade de resposta muito célere, a exemplo dos processos de licenciamento, o que permite uma maior fluidez do investimento», sublinha ainda Pedro Lancastre.
O investimento em imobiliário comercial na região Norte do país tem vindo, assim, a acompanhar a dinâmica do mercado nacional, representando cerca de 20% do total acumulado até setembro – cerca de 2,2 mil milhões de euros, segundo as contas da JLL.
Este “forte crescimento” face aos cerca de 200 milhões de euros acumulados até setembro do ano passado é explicado também pela transação de ativos inseridos em portfólios multi-localização. Em destaque está a venda de 50% do Norte-Shopping, integrado no portfólio de centros comerciais da Sonae Sierra, e os edifícios de escritórios incluídos no portfólio PREOF. Para além destes, a venda do edifício Trindade Domus por mais de 40 milhões de euros também teve especial peso.
Nos primeiros 9 meses de 2020, o retalho representou a maioria do investimento no Norte do país, em concreto 68% do total. Neste segmento, o peso dos supermercados e centros comerciais está em destaque. Apenas 10% do capital foi alocado ao mercado de escritórios desta região e cerca de 3% foi aplicado no segmento industrial e de logística. Os restantes 22% foram investidos em outros segmentos, segundo o estudo.
Atividade deve “abrandar”, mas investidores continuam atentos
Hoje, o mercado continua “atrativo” e a JLL dá conta que há vários investidores «com elevados níveis de liquidez, que continuam ativamente a procurar produto para investir na região».
Um deles são as family offices. Estes investidores estão «especialmente ativos em busca de oportunidades, sendo o segmento industrial e de logística encarado atualmente como um dos mais apetecíveis, dada a forte apetência industrial da região, bem como a escassez de logística de proximidade», explica a consultora.
Na mira dos investidores está também o segmento de escritórios, «embora sejam um produto escasso dada a falta de construção especulativa», lê-se no documento.
Já os segmentos de retalho e de hotelaria continuam a deixar os investidores cautelosos, assumindo uma posição de “esperar para ver” quando e para onde a economia evolui. Mas enquanto a imagem dos centros comerciais foi «negativamente impactada pela legislação que a atual conjuntura impôs relativamente à forma de pagamento de rendas neste tipo de complexos», na hotelaria os investidores mantêm-se «expectantes e crentes» na evolução do setor, até porque há registo da entrada recente de dois operadores hoteleiros/ turísticos na cidade do Porto.
Como consequência da segunda vaga de Covid-19, o mercado deverá abrandar na reta final do ano, prevê a consultora. No entanto, a JLL garante que os investidores continuam interessados na região e acompanham «com muita atenção» o desempenho de todos os segmentos.