Foi apresentado esta quinta-feira, dia 21 de dezembro, no Salão Nobre da Associação Empresarial de Braga, o Observatório Urbano de Braga, uma iniciativa do Município, com a colaboração da Confidencial Imobiliário. Trata-se de uma nova plataforma de informação e de transparência que agrega os principais indicadores de mercado residencial de Braga de forma sintética e acessível.
Da dinâmica de preços, à dinâmica de transações, passando pelo arrendamento e promoção imobiliária, os números apresentados no Observatório Imobiliário, comprovam que «têm sido anos e, 2023, em particular, de uma dinâmica muito intensa do mercado imobiliário do concelho», comentou Ricardo Rio, Presidente da Câmara Municipal de Braga.
Os dados do Observatório Urbano revelam que, em Braga, em 2023, o preço médio de transação de uma casa foi de 1.668 euros por metro quadrado e o arrendamento rondou os 8,8 euros por metro quadrado. Números que, face à realidade nacional, fazem de Braga um concelho com preços de habitação «extremamente competitivos», sublinhou. «Apesar de termos consciência de que houve um agravamento do nível dos valores para a aquisição e para o arrendamento, temos conseguido dar uma resposta muito positiva graças aos investimentos que aqui foram concretizados e às respostas que o Município desenvolveu para apoiar esses investimentos e as famílias», referiu. Entre as principais respostas, Ricardo Rio destacou o reforço dos meios humanos e técnicos, a digitalização e desmaterialização dos processos, mas também a abertura e transparência da atividade dos serviços. Neste contexto destacou a importância do Observatório Urbano de Braga, criado com o objetivo de «facilitar o acesso à informação, conhecer bem o nosso mercado e as oportunidades que existem».
"Braga é uma terra de oportunidades", Ricardo Rio, Presidente da Câmara Municipal de Braga
Sobre a apresentação do Observatório Urbano, João Rodrigues, Vereador dos Pelouros da Gestão Urbanística, Regeneração Urbana e Habitação da Câmara Municipal de Braga, sublinhou a importância da transparência na responsabilização e na tomada de decisões. «Temos a confiança de que estamos a fazer um bom trabalho e, sobretudo, que vamos continuar esse bom trabalho. E temos a esperança de que tanto promotores como todos aqueles que se interessem pela cidade possam fazer desta plataforma uma ferramenta para tomar boas decisões».
João Rodrigues: "Revisão do PDM prevê aumento considerável da área urbana"
Para João Rodrigues, «os bons números», revelados pela análise da Confidencial Imobiliário para o Observatório Urbano de Braga, «não são fruto do acaso. São resultado da iniciativa privada e da resposta do Município». Uma resposta que se prepara para ir mais longe com a revisão do Plano Diretor Municipal (PDM) de Braga. «Não se trata formalmente de um novo PDM, mas de um processo de revisão absolutamente revolucionário e que vai, desde logo, contribuir para um aumento considerável da área urbana do território de Braga. Algo em contraciclo com o que vai acontecer com a grande parte dos Municípios e que vão ver as suas áreas urbanas drasticamente reduzidas», explicou.
"A revisão do PDM vai abrir uma nova janela de oportunidades aos promotores e, obviamente, às famílias." João Rodrigues, Vereador da Câmara Municipal de Braga.
Construir para a classe média é cada vez mais difícil
A sessão contemplou ainda uma mesa de debate, moderada por António Gil Machado, Diretor da Vida Imobiliária, e com foco na dinâmica do mercado imobiliário de Braga. Participaram João Rodrigues; Ricardo Guimarães, Diretor da Confidencial Imobiliário; Patrícia Santos, CEO da Zome; Pedro Ferreira, CEO do Grupo Acrescentar; e José Manuel Peixoto, Diretor da Remax Braga.
Um painel de convidados que reconheceu, por um lado, a dinâmica do mercado imobiliário de Braga e, por outro, os desafios de construir para a classe média. «Temos atraído muitas empresas e com elas cada vez mais pessoas, nacionais e estrangeiras», comentou Patrícia Santos, CEO da Zome, dando nota de que «se no início os estrangeiros tinham muito interesse por Lisboa e Porto, hoje também têm por Braga». José Manuel Peixoto, Diretor da Remax Braga, explicou que «o principal mercado são os portugueses (80% das transações) e depois temos o mercado internacional, com o Brasil a liderar (13 a 14% das transações). Entretanto o mercado alargou-se, com a chegada de cada vez mais franceses e americanos».
Considerando o preço dos terrenos, as subidas do preço da energia e dos materiais de construção, bem como a falta de mão-de-obra e a subida dos salários no setor da construção «é muito difícil uma construção média ter custo médio inferior a 2.000 euros», admitiu Pedro Ferreira, CEO do Grupo Acrescentar. Pelo que «construir para a classe média, hoje, em Portugal, não é rentável». Na sua opinião, nesta equação, é importante «conseguirmos aumentar o número de solos disponíveis para construção. E, não obstante, o esforço do Município, continuar o esforço de simplificação e uniformização dos procedimentos de licenciamento urbanístico». Estes dois aspetos «podem ser uma grande ajuda».
José Manuel Peixoto acrescentou que «precisamos de um mercado ainda mais dinâmico para que os preços da habitação sejam ainda mais acessíveis». E Patrícia Santos relembrou os riscos de uma crise na habitação: «fico preocupada quando vejo as pessoas a querer baixar o preço da habitação, sem perceber que para a grande maioria dos portugueses a habitação é o principal aforro». «Temos de preocupar-nos sim em garantir melhores salários às pessoas e, para isso, as empresas têm de ser mais competitivas», concluiu.
Ricardo Guimarães: "falta mercado de arrendamento"
Para o Ricardo Guimarães, Diretor da Confidencial Imobiliário, há ainda um outro aspeto essencial e a que não tem sido dada a devida atenção. «Falta mercado de arrendamento e a política pública nacional, ainda que bem-intencionada, não contribuiu para potenciar este mercado», disse explicando que «o mercado de arrendamento pela primeira vez numa crise [referindo-se à subida das taxas de juro no crédito à habitação] não está a ser um refúgio, porque os preços subiram». Ainda neste contexto, José Manuel Peixoto acrescentou que «o problema principal do arrendamento é um problema de justiça. Porque as pessoas preferem ter as casas fechadas a correr o risco do incumprimento e do despejo. Se conseguirmos resolver os atrasos de pagamento, os riscos de incumprimento e a morosidade dos despejos, o mercado de arrendamento vai ganhar força».