Investimento pode disparar 40% em 2022

«O investimento imobiliário comercial deverá crescer 30% a 40% em 2022» face ao ano passado, podendo atingir o patamar dos 3.750 milhões de euros, estima Nuno Nunes, diretor de Capital Markets da CBRE Portugal. Admitindo que «um volume médio anual em torno dos 3.000 milhões de euros pode vir a ser o novo normal» neste setor em Portugal, o responsável realçou que este ano a atividade deverá ser impulsionada sobretudo pelo forte dinamismo esperado nos segmentos de escritórios e hotéis mas também, ainda que em menor medida, pela logística e alternativos. “De fora” ficam os segmentos dos centros comerciais, este último ainda a recuperar do embate da crise, e o do arrendamento privado (PRS – Private Rented Sector) que, contrariamente ao que seria esperado, ainda não conseguiu vingar em Portugal.«Atualmente estão em curso transações de escritórios que valem entre 500 a 600 milhões de euros, aos quais se deverão somar pelo menos mais 500 milhões de euros ao longo dos próximos meses», antevê Nuno Nunes. «Estão agora no mercado alguns projetos e empreendimentos de escritórios de grande dimensão que poderão estabelecer novos marcos no que respeita às transações deste tipo de ativos», como é o caso, por exemplo, da K-Tower ou do edifício Atrium.Simultaneamente, lembrou o diretor de Capital Markets da CBRE, «está prestes a ser finalizada uma das transações mais esperadas dos últimos meses, envolvendo um grande portfólio de hotéis que deverá ser o maior negócio do ano, na ordem dos 750 milhões de euros». E, pelas contas da consultora, esse valor poderá mesmo duplicar até ao final do ano, fruto de uma série de outras transações de menor dimensão protagonizadas por esta classe de ativos.Logo atrás dos escritórios e dos hotéis, a área de Capital Markets da CBRE destaca o franco dinamismo que já se sente no setor logístico, onde contabiliza cerca de 600 milhões de euros em transações potencialmente concluídas nos próximos meses.Outro dos segmentos a manter no radar é dos ativos alternativos, no qual «haverão grandes oportunidades em Portugal nos próximos dez anos», acrescentou por seu turno Igor Borrego, diretor da área de Capital Advisors da CBRE Portugal. Os primeiros sinais já estão à vista, com este responsável a prever que as transações de ativos na área do student housing «possam atingir os 200 milhões de euros no nosso país em 2022» e que «ainda que em menor escala, o self-storage também poderá vir a tornar-se uma classe de ativos de investimento imobiliário em Portugal, tal como o senior living».«Vivemos uma era entusiasmante no setor imobiliário»Estas e outras projeções foram divulgadas esta quinta-feira em Lisboa no já tradicional «Real Estate Market Outlook» da CBRE, o evento anual onde os especialistas da consultora e convidados sobem a palco para antecipar as tendências do ano imobiliário que se segue.«Entrámos em 2022 com algum grau de otimismo», começou por dizer o managing-partner da CBRE Portugal, Francisco Horta e Costa. Considerando que «estamos a viver uma era entusiasmante no setor imobiliário», o líder da consultora portuguesa realçou aquelas que considera serem as grandes tendências que transversais aos vários segmentos que irão marcar o rumo do setor imobiliário nos próximos meses. «Hoje em dia praticamente todos os ativos têm que ser curados», diz o responsável, lembrando que «todos os edifícios e espaços de trabalho passaram a ser também assumidamente um fator chave nas estratégias de captação e adaptação de talento». Além disso, realça, «a experiência do utilizador passou também a estar no centro das estratégias em todos os setores imobiliários, e já não algo exclusivo ao setor do retalho, como antes». A importância acrescida do ESG, a sigla que denomina as preocupações e critérios de sustentabilidade ambiental, social e de governança das empresas, é outra das grandes tendências em curso e que promete continuar a ganhar cada vez mais força. «O ESG deixou de ser um “nice to have” para se tornar num “must have” entre os grandes investidores», rematou Francisco Horta e Costa.Um setor de «importância vital para a economia»Na visão de Luís Marques Mendes, «2022 traz-nos um mundo de incertezas, mas também um leque de enormes oportunidades», sendo que nesta fase «os dois maiores desafios que se colocam a Portugal são essencialmente o ritmo de recuperação da nossa economia e a incerteza política». Convidado pela CBRE para fazer um enquadramento socioeconómico do ano que agora arranca, para o político, analista e comentador, questões como a tensão diplomática entre a Rússia e o Ocidente, o conflito na Ucrânia, as eleições na França, a cisão entre os diversos estados membros da União Europeia (EU) quanto à migração, o ritmo da inflação na Europa e, claro, a evolução da pandemia e da vacinação, são os principais focos internacionais de incerteza nesta fase, e cujo desenvolvimento irá inevitavelmente afetar as economias a nível global, Portugal incluído.No entanto, «se é evidente que vivemos num mundo atípico do ponto de vista geopolítico, também é verdade que estamos a iniciar uma época de grandes oportunidades. Por um lado, depois de uma enorme recessão como a de 2020, arrancamos agora um período de acelerado crescimento económico. Depois, em segundo lugar, não podemos esquecer que até 2030 Portugal vai receber da EU cerca de 61.000 milhões de euros em fundos comunitários, um dos maiores volumes de sempre, e que significa que em média vamos receber por ano cerca de 8.000 milhões de euros por esta via, ou seja, mais do dobro da média de 3.500 milhões de euros anuais que chegaram ao longo dos últimos dez anos. O grosso deste valor, cerca de 50.000 milhões de euros chega até 2026 e terá de ser obrigatoriamente aplicado nos próximos quatro anos, pelo que esta é uma oportunidade que não podemos perder, não só para investir, mas para conduzir importantes reformas legais e fiscais, com vista a fomentar ainda mais o investimento no nosso país e aumentar a sua competitividade perante outros Estados Membros porque, afinal, a bazuca também lhes chegará».Considerado «um setor vital para a economia», o imobiliário é uma das áreas onde o Governo deveria apostar neste computo reformista. «Há burocracia a mais e flexibilidade a menos neste setor, e isso dificultará em muito a execução das próprias metas definidas pelo próprio governo no campo da habitação no âmbito do PRR», conclui Marques Mendes.

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