O mercado de investimento imobiliário comercial, até junho, registou um volume total de investimento de 600 milhões de euros, 19% acima do registado no mesmo período de 2021. É o que revela a consultora Savills, que «o primeiro semestre de 2022 ficou marcado por uma evolução a duas velocidades». Nos primeiros três meses do ano houve um incremento do consumo pós-pandemia, no entanto o panorama mudou no segundo trimestre devido à guerra na Ucrânia.
Investimento
O patamar dos 391 milhões de euros, 62% acima do mesmo período de 2021, foi atingido no mercado investimento imobiliário comercial no segundo trimestre do ano. Houve assim uma recuperação da quebra de 21% registada nos primeiros três meses de 2022. Os segmentos de Logística e Hotéis foram responsáveis por 65% do volume de investimento.
No segmento logístico foram registadas 9 transações, num total aproximado de 200 milhões de euros. Aquila Capital, Bedrock Capital Partners e Square Asset Management integram o grupo de investidores que adquiriram ativos logísticos neste primeiro semestre. No segmento de Hotéis, foram fechadas 8 transações num montante total de 197 milhões de euros, com a venda do Hotel Pestana Blue Alvor à Azora European Hotel & Lodging Fund a constituir a maior transação, no valor de 75 milhões de euros.
De destacar também o investimento estrangeiro, com 77% de market share, com capital proveniente de países como Espanha, Alemanha, Suíça e China. «O mercado de investimento nacional continua a beneficiar dos fortes fundamentos de mercado que sustentam uma procura ativa alavancada por elevados níveis de liquidez. Os setores mais atrativos para os investidores continuarão a ser escritórios, logística, hotéis e o setor living», assinala Paulo Silva, Head of Country da Savills Portugal.
Escritórios
Na capital, o mercado de escritórios teve um desempenho bastante positivo, segundo a Savills: no primeiro semestre, o volume de absorção acumulado foi de 168.339 metros quadrados, um aumento de 53% em relação ao mesmo período de 2019. A zona do Parque das Nações (Zona 5) foi responsável por 30% do volume de absorção, seguida das Novas Zonas de Escritórios (Zona 3), com 24%.
No Porto, registou-se um volume de absorção total de 30.287 metros quadrados ao longo do primeiro semestre do ano. As zonas Out of Town e CBD Baixa foram as que registaram um maior volume de absorção, correspondendo a cerca de 36% e 37%, respetivamente. O setor das TMT´s & Utilities foi o grande impulsionador do volume de absorção alcançado no 1º semestre de 2022, tendo absorvido cerca de 14.050 metros quadrados.
No geral, as empresas apostam cada vez mais na mudança ou expansão de instalações como ações integradas nas suas estratégias ESG, «os ocupantes colocam agora no topo das suas prioridades temas como a sustentabilidade, a otimização dos seus espaços de trabalho, com repercussões diretas no bem-estar e produtividade dos seus colaboradores. Vivemos tempos únicos, de mudanças que vieram para ficar e a liquidez e valores alcançados nos novos projetos são o espelho desta importante e histórica mudança», refere Frederico Leitão de Sousa, Head of Corporate Solutions da Savills Portugal.
Retalho
Até março, os planos de expansão dos operadores mantiveram-se estáveis, após um período de contenção provocado pela pandemia, refere a consultora. O conflito armado, o aumento da inflação e entre outros fatores, levaram à adoção de estratégias mais conservadoras. Os supermercados de proximidade foram responsáveis pela maior dinamização do consumo na área do retalho, a par do e-Commerce, que impulsionou novos modelos de negócio e diversificou os canais de distribuição das empresas do setor alimentar.
Os Retail Parks continuam a ser uma classe de ativos atrativa para marcas e investidores. O segmento de lojas de rua registou uma quebra de 23% nas aberturas de novas lojas na capital. As lojas de rua dedicadas ao comércio de produtos alimentares e bebidas verificaram o maior número de aberturas, seguidas pelas lojas de Moda e Acessórios.
Para José Galvão, Associate Director do Departamento de Retalho da Savills Portugal, «apesar da pressão, assistimos a sinais de recuperação. O tráfego nos centros comerciais aproxima-se dos valores de 2019; o retalho alimentar de proximidade continua em franca expansão; o segmento de saúde e bem-estar - clínicas e ginásios – acompanha a procura crescente por estes serviços; a restauração demonstra uma resiliência e capacidade de adaptação exemplares. Sinais que permitem encarar com otimismo o futuro».
Industrial e Logística
Nos primeiros seis meses do ano, o mercado nacional registou um volume de absorção de cerca de 160.000 m² , sendo que em Lisboa, o primeiro semestre do ano apresentou um resultado a rondar os 104.000 m² de volume de absorção.
A logística e os bens de consumo são os principais sectores responsáveis pelo volume de absorção. Nos próximos quatro anos, o mercado de Lisboa deverá contar com cerca de 288.000 m² de novos espaços, com 45% já em fase de pré-arrendamento. «Irá prevalecer uma procura robusta predominantemente de logística para apoiar o crescimento dos 3PL´s, paralelamente a uma procura por soluções logísticas de proximidade e de formatos mais adequados a operações de cross-docking. A procura de unidades industriais está também a começar a ganhar visibilidade e a atratividade de Portugal é cada vez maior para estes investimentos», frisa Pedro Figueiras, Associate Diretor do Departamento Industrial & Logístico da Savills Portugal
Residencial
Na Área Metropolitana de Lisboa foram vendidos cerca de 26.000 fogos até junho, um aumento de 9% face ao mesmo período de 2021. Já na Área Metropolitana do Porto, verificou-se um acréscimo de 4% relativamente aos primeiros seis meses de 2021. O preço médio de transação na AML foi de 2.663 €/m² e, na AMP, a subida do preço médio de venda atingiu os 28%, para 2.172 €/m² .
De acordo com o Diretor do Departamento Residencial de Lisboa da Savills Portugal, Miguel Lacerda, «o mercado residencial poderá registar uma curva de crescimento menos acentuada no futuro, não comprometendo o interesse e evolução do mercado residencial prime, que se mantém firme por via do investimento internacional e de compradores nacionais que vêm no mercado residencial uma alternativa segura aos seus investimentos».
Hotéis
No setor de Hospitality, de destacar o aumento das dormidas internacionais e dos hóspedes, com a percentagem de hóspedes internacionais a aumentar 56% face ao primeiro semestre de 2020. O ADR em regiões como o norte de Portugal e o Algarve já está acima do registado nos primeiros seis meses de 2019. Em termos de RevPAR, os resultados de 2020 e 2021 já foram ultrapassados, com o fim das restrições de viagem, nomeadamente internacionais, a impulsionar o setor.
O segmento manteve-se também ativo em termos de investimento: oito transações que totalizaram cerca de 197 milhões de euros, com os investidores a demonstrarem uma preferência por ativos em destinos consolidados como o Algarve e o Porto.