Aumenta o interesse em investir em centros de dados na Europa, e Portugal não é exceção, apesar de este ser ainda um mercado pequeno. E este investimento deverá disparar nos próximos anos.
Esta é uma das principais conclusões do novo relatório da CBRE “Mercado de Centros de Dados em Portugal”, que destaca que o desenvolvimento de tecnologias como a Internet das Coisas (IoT), da inteligência artificial, da automatização e da computação em nuvem, a par do surgimento de novas aplicações de internet e da intensificação das redes sociais, tem vindo a movimentar volumes exponenciais de dados, tendência alavancada com o aumento do teletrabalho devido à pandemia.
A procura por parte de empresas de computação em nuvem (incluindo os prestadores hiperescala que ocupam grandes áreas e constroem os seus próprios centros de dados) foi responsável por grande parte do crescimento nos mercados europeus tradicionais e começa agora a revelar um interesse semelhante no mercado português, segundo a consultora.
Mas o mercado nacional é ainda pequeno, com uma presença limitada de operadores internacionais e ainda sem prestadores de hiperescala. A CBRE identificou 27 centros de colocação e alojamento de dados, mas 12 prestam serviços de IT e alojamento, «o que significa que o operador possui não apenas o centro de dados, mas também os servidores internos - ou seja, trata-se de uma venda de um serviço em oposição a um arrendamento de espaço, o denominado mercado de colocação». A maioria destas instalações encontra-se em Lisboa e no Porto e é gerida por empresas portuguesas de telecomunicações ou de infraestruturas.
Anthony Labadie, Diretor de Data Centre Solutions da CBRE para o mercado ibérico, explica que o mercado de data centres na região EMEA deverá continuar a desfrutar de um crescimento sustentado ao longo de 2021 e em 2022 e que o desenvolvimento e a implementação de novas tecnologias, tais como 5G, IA, RV, cloud, entre outras, vai potenciar este crescimento e gerar novas oportunidades para investidores em Portugal: «a presença de novos investidores, combinada com a crescente procura, vai impelir os prestadores de serviços a assegurar elevadas capacidades em data centres para atender às necessidades dos seus clientes, tanto do setor público como do privado. Portugal, e Lisboa em particular, vão verificar uma grande transformação no cenário atual dos data centres». Segundo o responsável, «estão previstos chegar ao mercado novos projetos ambiciosos em resposta ao crescente interesse de prestadores de serviços internacionais em estabelecer uma presença no mercado português».
Novos projetos anunciados
Segundo a consultora, recentemente foram anunciados três grandes projetos, nomeadamente no Porto de Leixões, pela Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL); em Castanheira do Ribatejo, pela Merlin; e o projeto Sines 4.0, por parte da Start Campus (uma parceria entre a Pioneer Point Partners e a Davidson Kempner Capital), o qual prevê o desenvolvimento de cinco centros de dados, com uma capacidade de 90 MW cada.
Nuno Nunes, Senior Director para a área de Capital Markets da CBRE Portugal, explica que «Portugal apresenta diversos fatores que atraem os investidores para o mercado de data centres, entre os quais se destacam as taxas de rentabilidade estáveis e elevadas face a outras classes de ativos, assim como a possibilidade de ter custos energéticos mais reduzidos devido a uma maior oferta de energias renováveis, o que se traduz numa preocupação com a sustentabilidade que é cada vez mais evidenciada pelos fundos de investimento institucionais».
Operadores de centros de dados que ainda não estão presentes no país estão também interessados em entrar. Os já estabelecidos procuram expandir as suas instalações.
Adicionalmente, a recente conexão com dois novos cabos submarinos de fibra ótica que conectam Portugal com outros continentes, como o EllaLink, com ligação ao Brasil, e o Equiano, da Google, com ligação à África do Sul, «coloca o país numa importante posição estratégica no mundo das telecomunicações e contribui para exponenciar o crescimento do mercado de centros de dados», completa a consultora.