O crescimento económico português esteve em destaque no primeiro dia do Portugal Real Estate Summit. Quais são as perspetivas para a economia portuguesa e para os mercados imobiliários? Foi a pergunta-chave do primeiro painel de debate, moderado por Roger Cooke, com a presença do economista António Ramalho e de Cristina Casalinho, diretora-executiva de Sustentabilidade do Banco BPI.
Cristina Casalinho atentou para a mudança que temos vindo a assistir em termos de fluxos migratórios: «desde 2017, a demografia está a mudar bastante em Portugal. Atualmente, temos um fluxo imigratório acentuado: esta imigração diversificada traz consigo uma ampla variedade de perfis e nacionalidades, com ênfase especial nos imigrantes que estão a colmatar a escassez de mão-de-obra para empregos menos qualificados. Estas dinâmicas vão ter impacto no mercado imobiliário».
“As grandes subidas das taxas de juro podem estar perto do fim”
Quanto ao aumentos das taxas de juro, a representante do BPI considera que «as grandes subidas podem estar perto do fim, mas a inflação mantém-se, e temos outras forças que vão manter a inflação em níveis mais elevados do que anteriormente. Quando os bancos centrais chegarem a um nível de taxa de juro que considerem adequado, deverão manter-se por um tempo».
Para António Ramalho, «estamos agora a usar as taxas de juro para reduzir o consumo, mas não está a funcionar». A Europa «precisa de taxas de juro positivas por um longo período, ainda que considere que o BCE irá descer ligeiramente as taxas a um certo ponto, ou pelo menos conter o aumento», opina.
“Evolução dos salários tem sido um dos maiores problemas”
Um dos maiores problemas tem sido «a evolução dos salários, que afeta principalmente a classe média», frisa Cristina Casalinho. Os aumentos salariais nos últimos anos «parecem não ser suficientes para compensar o aumento da inflação e o aumento geral do custo de vida», algo que também «afeta a atração e retenção de talentos, que é fundamental para fortalecer a economia».
Cristina Casalinho designa a sustentabilidade como um «grande game changer», sendo que «precisamos de adotar um modelo económico diferente e isso passa pela forma de fazer negócios». Com o aumento dos custos da energia, «torna-se evidente que no setor imobiliário é crucial construir casas cada vez mais eficientes em termos térmicos», sublinha.
Por sua vez, António Ramalho afirma que «é bom estarmos a reduzir significativamente a dívida pública e, quando olhamos para os resultados ao longo da última década, as conquistas são muito positivas».
Investidores prevêem que clima económico se mantenha inalterado
Ao serem questionados sobre as suas expectativas para o clima económico em Portugal, para os próximos 6 meses, mais de metade dos investidores (56%) prevê que o clima económico vai manter-se inalterado, a passo que apenas 15% aponta uma melhoria no cenário económico. Em contrapartida, 37% dos investidores antecipa um agravamento no clima económico português.
Deloitte Real Estate Market Sentiment
Ricardo Reis, Partner Deloitte, apresentou na conferência os resultados do inquérito “Deloitte Real Estate Market Sentiment”. De acordo com o estudo, o sentimento geral não é muito otimista: perto de 45% dos inquiridos esperam que as condições económicas piorem nos próximos 12 a 18 meses. No caso específico de Portugal, as perspetivas económicas são também pessimistas, todavia antecipa-se que o investimento estrangeiro mantenha uma boa performance.
Quase 60% dos inquiridos antecipa que o custo do capital vai aumentar, bem como um pior cenário no que toca ao capital disponível para investir. A maioria dos investidores (38%) respondeu estar à procura de oportunidades para investir, contra apenas 13% a assumirem estarem vendedores sobretudo. Em Portugal, o segmento de hotéis e o residencial (21% cada) são as classes de ativos preferidas pelos investidores atualmente.