Imobiliário português acolhe procura americana crescente

O mercado americano está a ganhar peso no imobiliário português. São cada vez mais os compradores que escolhem o nosso país para investir, e este fluxo estrangeiro está apenas a começar, segundo os especialistas. De acordo com os números da Confidencial Imobiliário, no primeiro semestre de 2024, os norte-americanos representavam 13% do total investido por estrangeiros em habitação na zona da Área de Reabilitação Urbana de Lisboa, cerca de 60 milhões de euros, e 12% do número de transações, apenas atrás dos franceses, que representam 12% das operações entre estrangeiros e 15% do montante (67,8 milhões de euros). Na experiência da Quintela e Penalva, parceira da Knight Frank em Portugal, o público americano já é o mais representativo entre os estrangeiros no seu mercado em Lisboa, e é também o que tem o ticket médio mais elevado. Mas há clientes para todos os gostos e zonas do país, sejam famílias, casais ou reformados, por exemplo. Compram vários tipos e gamas de imóvel. No ano passado, 7,5% dos clientes da consultora eram americanos, gerando um volume de vendas de 12 milhões de euros, valor que a Quintela e Penalva tenciona «pelo menos duplicar» em 2025, segundo Jorge Costa, COO da Quintela e Penalva. Falando sobre este tema aos jornalistas na última quinta-feira, o responsável recordou que a procura americana tem crescido em Portugal principalmente desde 2017 e 2018. Em Portugal, encontram qualidade de vida, distâncias relativamente curtas, boas infraestruturas e estabilidade política. Rodrigo Carvalho, presidente da Câmara de Comércio de Portugal em Nova Iorque, que participou nesta conferência de imprensa remotamente, lembrou que, nos últimos anos, «houve uma explosão do conhecimento sobre Portugal. A opinião sobre Portugal é muito boa. A detenção da TAP por David Neeleman, o trabalho do Turismo de Portugal e da AICEP também contribuíram para isso, bem como o aumento do número de rotas aéreas», não só para Lisboa e Porto, mas também para o Algarve ou para os Açores. É um interesse que até pode começar com a visita turística, mas já vai além disso. E não duvida que «estamos só no início. O turismo vai continuar a crescer, e com isso vem a vontade de investir, de viver e de ter negócios próprios no país». Aliás, a segunda habitação já é uma tradição na cultura americana, e muitos têm casas no sul onde passam o inverno, por exemplo, os chamados “snow birds”, e Portugal pode começa a ser uma escolha. Seja como for, na experiência da imobiliária, a maior parte dos compradores americanos que agora escolhem Portugal quer mudar de vida, e instala-se de forma mais permanente. E os responsáveis garantem que eventuais benefícios fiscais não são motivo desta procura, já que essas vantagens podem podem variar substancialmente consoante o estado de origem dos cidadãos, ou ser mesmo inexistentes. «Estamos só no início. O turismo vai continuar a crescer, e com isso vem a vontade de investir, de viver e de ter negócios próprios no país» Custo de vida é extremamente competitivo em comparação com os EUA A qualidade de vida e a autenticidade do destino europeu é um dos principais atrativos de Portugal para os norte americanos. O imobiliário é o primeiro investimento nesta mudança, e não só os preços dos ativos são muito mais baixos do que no país de origem, como também as várias despesas associadas, como impostos, custos de manutenção, seguros ou serviços domésticos. A saúde é um dos pontos mais importantes. Em Portugal, os cidadãos podem ter acesso ao Serviço Nacional de Saúde ou a seguros com custos significativamente inferiores, que garantem serviços de qualidade. Rodrigo Carvalho afirmou que «o tema da saúde está na ordem do dia, e o sistema dos EUA não deverá mudar radicalmente nos próximos tempos. Ter acesso ao sistema português é muito útil». No ensino, podem encontrar várias escolas internacionais e universidades conceituadas com custos muito inferiores. E mesmo quem quer investir a nível empresarial, encontra em Portugal mão-de-obra muito qualificada e competitiva, nomeadamente engenheiros, incluindo informáticos. «A qualidade da mão-de-obra é muito importante», recordou Rodrigo Carvalho. Outra vantagem é que algumas fábricas podem usar uma grande percentagem de energias renováveis na sua produção, «o que ajuda a cumprir as suas quotas de carbono e objetivos de ESG». Prata Riverside Village é exemplo desta procura O empreendimento Prata Riverside Village, promovido pela VIC Properties na zona de Marvila, em Lisboa, tem sido testemunha desta crescente procura americana. Marcos Drummond, diretor comercial da VIC Properties, testemunhou que «estes clientes querem mudar, mas também procuram alguns pontos de familiaridade, e o nome do arquiteto Renzo Piano é global. O próprio processo de revitalização de Marvila é-lhes familiar, pois já aconteceu parecido em quase todas as grandes cidades industriais americanas. E querem fazer parte disso». Além disso, com a pandemia e a normalização do teletrabalho, trabalhar de outro sítio passou a ser possível, o que torna a proximidade do aeroporto ainda mais interessante. No Prata Riverside Village, 55% dos clientes (apartamentos) são portugueses, e o restante é distribuído por 40 nacionalidades diferentes, 5% norte-americanos. Sociedade descontente: procura por Portugal manter-se-ia com qualquer presidente «Vamos continuar a ter muitos americanos a vir para Portugal, independentemente de quem ganha as eleições», acredita Sofia Baptista, diretora de Parcerias da Quintela e Penalva. «Somos um “país-boutique” interessante» para uma sociedade muito fragmentada, extremada e descrente. Com um custo de vida muito alto e problemas sociais que não existem em Portugal, «tudo hoje é mais inseguro e desagradável», segundo a responsável. Em Portugal, encontram a segurança que procuram. Sem esquecer o interesse em ter um segundo passaporte, o que já se notava no primeiro mandato de Donald Trump, segundo Rodrigo Carvalho. Sofia Baptista confirmou que a Quintela e Penalva quer manter uma relação estreita com os parceiros americanos para aproveitar este interesse, e «para que os clientes não venham para Portugal desacompanhados». O registo na americana National Association of Realtors «é uma aposta nossa, queremos transmitir mais credibilidade».

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