Imobiliário é crucial para formar “bases do desenvolvimento económico sustentável”

No primeiro ciclo de conferências do Portugal Real Estate Summit, a intervenção de Carlos Costa realçou a importância do setor imobiliário na construção de um futuro económico sustentável para Portugal. Durante uma entrevista conduzida por Gilberto Jordan, Chairman do Editorial Council da Iberian Property, o antigo governador do Banco de Portugal abordou questões cruciais sobre o estado atual da economia e os desafios que o país enfrenta. «Temos de falar sobre o setor imobiliário se quisermos estabelecer as bases para um desenvolvimento económico sustentável», começou por afirmar Carlos Costa. O antigo governador do Banco de Portugal enfatizou que «a habitação, a mobilidade, a educação, a saúde e as relações interpessoais constituem o capital social», advertindo que «ao deteriorarmos o nosso capital social, estamos a comprometer não apenas as empresas, mas também a economia como um todo». Carlos Costa fez uma análise do percurso da economia portuguesa desde a crise de 2011, elogiando o trabalho realizado. «A recuperação da economia portuguesa desde a crise de 2011 tem sido notável, especialmente considerando a dificuldade daqueles tempos. No entanto, é fundamental reconhecer que, apesar dos progressos atingidos, a situação atual ainda deixa a desejar», afirmou. “Temos de garantir que as empresas conseguem criar habitação acessível para os seus funcionários” O responsável alertou para a atual desproporção entre a qualificação da população e as oportunidades disponíveis, afirmando que «nos encontramos numa situação em que existem mais pessoas qualificadas do que oportunidades de emprego adequadas. Dizer que o país está a perder a sua população mais qualificada transmite uma mensagem negativa». Neste sentido, «é urgente de criar mais oportunidades no mercado de trabalho», acrescentou. Defendeu ainda a criação de um ambiente favorável ao investimento, sendo que «precisamos de criar a ideia de que o investimento público deve vir antes do privado. No lado do investimento público, precisamos de uma melhor e mais apertada gestão do capital, e no lado do privado, de mais oportunidades». “Precisamos de um setor equitativo e aberto” No que toca ao setor financeiro, destacou a necessidade de uma reorganização na banca. «Haverá uma grande reorganização entre os bancos internacionais, os regionais e os locais. Isto não significa que a concorrência será menor, mas que será protagonizada por diferentes atores» afirmou, acentuando que «precisamos de um setor equitativo e aberto» que permita maior transparência e acessibilidade. Carlos Costa abordou ainda a questão das taxas de juro, afirmando que «a pior posição para um investidor a longo prazo é não ter um plano de investimento bem definido». Relativamente à descida das taxas, prefere uma abordagem «cautelosa», uma vez que «acelerar esse processo pode acarretar riscos demasiado grandes para os investidores». “Crescer e recuperar” Por fim, apelou à necessidade de um crescimento sustentado, sublinhando que «é fundamental impulsionar a recuperação económica através de um aumento significativo da produtividade, aliado a uma formação e educação adequadas», acrescentando que «o verdadeiro desafio não reside apenas na emigração dos jovens, mas na incapacidade do país em gerar oportunidades que os mantenham. Precisamos de criar um ambiente que valorize e recompense os esforços, onde o investimento se torne uma prioridade e todos os recursos sejam utilizados de forma otimizada». Com uma análise abrangente, Carlos Costa deixou claro que o setor imobiliário é um dos pilares fundamentais da economia portuguesa, afirmando que «o desenvolvimento do capital social está intrinsicamente ligado a pilares como a infraestrutura e a habitação», sublinhando a importância de «promover um desenvolvimento sustentável que beneficie tanto a economia quanto a sociedade». “Devemos assistir a um aumento do volume de transações, bem como dos retornos” Antes de Carlos Costa subir ao palco, Ricardo Reis, da Deloitte, apresentou um retrato do sentimento global dos investidores imobiliários, baseado num inquérito recente da consultora. Os acontecimentos dos últimos anos — como o fim da pandemia, o início da guerra na Ucrânia e a inflação — resultaram numa «abordagem mais cautelosa por parte dos investidores». No entanto, sublinhou que «estamos agora num ponto de viragem» nesta dinâmica. «Hoje, temos um sentimento mais otimista. É previsível um aumento no volume de transações, bem como nos retornos», afirmou, acrescentado que os investidores «não estão a sair do imobiliário e vão continuar a investir em Portugal, mas o refinanciamento é um ponto de pressão que se mantém». Ricardo Reis recordou ainda que «o problema da habitação se deverá manter, não sendo só português, mas também europeu e global». Ricardo Reis, Partner, Deloitte.

CONTEÚDO EXCLUSIVO PARA ASSINANTES