O mercado logístico europeu vive duas velocidades distintas. De um lado, promotores e investidores intensificam a atividade económica e apostam numa recuperação mais rápida. Do outro, os ocupantes preferem avançar devagar, com uma estratégia mais seletiva e prudente nas suas decisões de expansão. Esta leitura resulta do 5.º Censo Anual de Logística Imobiliária Europeia, promovido pela Brookfield Properties, Savills e Analytiqa, que recolheu 715 respostas de investidores, promotores e ocupantes em toda a Europa.
Depois de um período de forte atividade, espera-se que 2025 registe um ritmo mais moderado no mercado. O setor industrial consolida o seu dinamismo com as estratégias de nearshoring e reshoring. A posição estratégica de Portugal aliada a custos energéticos mais baixos na Península Ibérica, tem atraído novas empresas que procuram espaço para servir os mais diversos mercados. Por sua vez, a taxa de disponibilidade no território nacional situa-se nos 3,5%, refletindo a escassez de desenvolvimento de projetos no país ao longo dos últimos 15 anos.
Segundo Pedro Figueiras, Head of Transactions da Savills Portugal “esta limitação na oferta tem gerado uma pressão crescente sobre as rendas, especialmente em ativos de qualidade. O mercado tem sido limitado pela baixa qualidade e obsolescência do stock no entanto, o pipeline de projetos especulativos que se está a desenvolver contribuirá para o desenvolvimento e crescimento do mesmo, desbloqueando tanto a atividade ocupacional, como a de investimento no segmento”.
A confiança dos investidores continua a crescer, com 46% a considerar que as condições de mercado estão mais favoráveis do que há um ano e 56% a prever um aumento no investimento ao longo dos próximos 12 meses. Os promotores acompanham esta tendência, com 36% a planear construir mais espaço, o que representa um crescimento de 12% face ao ano anterior. Este cenário traduz um otimismo cauteloso por parte dos ocupantes: 41% projetam um aumento nas suas necessidades de espaço logístico ao longo do próximo ano, apesar de 57% terem optado por adiar ou reduzir os seus planos de expansão.
A regulamentação ESG assume um papel cada vez mais estratégico na transformação do setor, com 88% dos ocupantes a reconhecê-la como um motor de mudança estrutural. Em paralelo, a inteligência artificial está a acelerar a inovação: 82% consideram-na uma tecnologia transformadora, um crescimento de 25% face ao ano anterior.
Ben Segelman, European Head of Logistics and Data Centre Real Estate, Brookfield, afirma que “o mercado logístico encontra-se num ponto de inflexão estratégico. Os investidores estão a antecipar tendências e a desenvolver proativamente os espaços que acreditam responder às futuras necessidades dos ocupantes. Estes, por sua vez, mantêm-se cautelosos, ajustando-se às pressões macroeconómicas, enquanto moldam as suas estratégias com foco em ESG e inteligência artificial. Os próximos 12 a 18 meses serão decisivos para alinhar a procura com os formatos de espaço mais adequados e competitivos”.
Já George Coleman, UK & EMEA Logistics, Savills, refere que “o Censo deste ano, que alcançou níveis recorde de participação, sublinha como as mudanças estruturais estão a moldar o próximo capítulo do setor industrial e logístico. ESG e IA são centrais nas estratégias dos ocupantes, enquanto os investidores e promotores disponibilizam os espaços que darão resposta a esta transformação. O setor continua a adaptar-se com resiliência e está a construir bases sólidas para um crescimento sustentado a longo prazo”.