Turismo residencial “pode ser ainda mais alavancado e decisivo para a economia”

No ano passado, o turismo residencial foi gerador de cerca de 678 milhões de euros de proveitos de exploração (aposento), além de outros 212 milhões de euros de proveitos diretos. Empregava cerca de 13.000 pessoas em 2022 em todo o país, já que esta atividade não se restringe às zonas mais turísticas. Os números foram apresentados por Pedro Fontaínhas, diretor executivo da APR - Associação Portuguesa do Turismo Residencial e Resorts, na abertura da VII Conferência do Turismo Residencial e Resorts, que a associação organizou esta quinta-feira em Lisboa, na Fundação Oriente. O responsável recordou também um estudo que a associação fez com dados de 2019 para calcular o impacto deste setor e especificamente dos residentes não habituais na nossa economia, estudo esse que vai ser agora atualizado. Nessa altura, os novos residentes no país tinham um impacto de seis vezes o seu investimento inicial num prazo de 5 anos, num volume total de 20.900 milhões de euros. O seu impacto direto traduz-se no imobiliário, condomínio, despesas de manutenção ou impostos, mas o impacto indireto vai muito além disso, e inclui todas as despesas correntes, transportes, impostos, entre outros. «Isto é importante e reforça que o turismo e o imobiliário têm sido recorrentemente dos principais motores da economia portuguesa, e já contribuíram decisivamente para ultrapassar várias crises». Portugal tem ainda muito potencial para desenvolver no turismo residencial Podemos hoje afirmar que o turismo residencial já faz parte da estratégia turística do país, que é visto como um destino de referência com um posicionamento global, que era improvável há alguns anos atrás. No entanto, «o volume de negócios ainda está muito aquém do seu potencial. Todos os dias temos vários investidores a descobrir um potencial de investimento em Portugal e querem saber como o fazer», garante Eduardo Abreu, Partner da Neoturis. Na sua intervenção neste evento, recordou que «o turismo residencial é o nível mais avançado de fidelidade de um turista por um destino, é comprar casa depois de passar férias, uma decisão estrutural na vida. Isto traduz-se em capital e na vinda de mais pessoas, trabalhadores ou investidores. É um instrumento de promoção muito importante em termos de publicidade» do país. O turismo residencial tem vindo a crescer à boleia do crescimento do turismo, que deverá continuar em alta nas próximas décadas, segundo a Neoturis. «O potencial está todo aqui [Portugal], e não é acessível só às elites económicas, cada vez mais pessoas com tickets mais pequenos podem entrar no mercado». Uso misto e serviços qualificados estão entre as principais tendências Eduardo Abreu identifica que o desenvolvimento de projetos de uso misto são uma das tendências que deve estar para ficar: «muitos promotores nacionais e internacionais mostram interesse em fazer estes empreendimentos que conjugam serviços de hotel com residências, com maior segurança em termos de manutenção e gestão, com marcas globais associadas, como o Pestana Tróia, Four Seasons, Hyatt Residences, IGH, entre outros». Por outro lado, entram novos players no mercado, e apostam em vários tipos de ticket. «Há projetos para todos». Até porque, além do cliente premium mais tradicional, o mercado recebe hoje também os digital nomads, adeptos do teletrabalho, que procuram bem-estar, segurança. E se é certo que muitos destes clientes têm hoje cerca de 30 a 40 anos, «daqui a uns anos poderão ser clientes de outros tipos de ativos no nosso país», lembra Eduardo Abreu. O futuro passa por uma «cultura dos serviços», com amenities cada vez mais qualificadas. «É algo que os compradores cada vez mais apreciam». E também pela promoção do país como um todo: «A marca “Portugal” tem de ser mais forte que todas as outras». Alguns dos desafios para o futuro deste setor prendem-se com a legislação, seja ao nível daquela que é aplicada a cada tipo de alojamento, com estadas maiores e mais curtas, seja ao nível dos incentivos fiscais, como as Autorizações de Residência para Investimento. Seja como for, conclui, «pedimos uma descriminação positiva deste setor, porque pode ser ainda mais alavancado e decisivo para a economia portuguesa nos próximos anos». Preços e vendas sobem num mercado de resorts cada vez mais maduro Reforçando a forte ligação do mercado do turismo residencial e resorts com o mercado da habitação e também com a saúde da economia, Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, também marcou presença neste evento, apresentando alguns números-chave deste setor. Apesar de uma quebra do otimismo dos operadores de resorts face aos preços e à procura, reportada à Confidencial Imobiliário, a verdade é que «estes números contrastam com a realidade, porque os preços aceleraram no último semestre, e as transações também subiram fortemente em termos de volume». Sendo que «o motor da valorização tem sido o produto novo, que tem mais serviços, é mais diferenciado e qualificado». Ricardo Guimarães identifica um mercado bastante mais maduro, «com características muito diferentes de há uns anos». Prova disso é que zonas do país que não eram tão fortes neste produto imobiliário estão agora com níveis de preço mais próximos do Triângulo Dourado do Algarve, por exemplo. Tal acontece também nas cidades, como Lisboa ou Porto, onde já não são apenas algumas ruas específicas a registar certos patamares de preço, mas todo o mercado é mais uniforme. «O nosso mercado tem muitas dificuldades, mas é hoje muito mais interessante do que há algum tempo atrás. Não devemos estar constrangidos pela última crise, pois estes projetos são muito estruturais e desenvolvem-se a longo prazo. É um mercado viável, e que funciona muito bem em Portugal», conclui. Branded Residences têm potencial para crescer também em Portugal O segmento das Branded Residences é um “braço” do turismo residencial que está a crescer muito a nível global. Segundo a Savills, existem já 700 esquemas de Branded Residences por todo o mundo, número que deverá quase duplicar até 2030. Este setor começou por ser dominado por marcas hoteleiras, mas hoje em dia tem também várias marcas não hoteleiras a operar. O destino mais procurado do mundo é o Dubai. Um dos grandes atrativos deste tipo de produto é que permite um premium até 30% acima do mercado já existente em determinado destino. São os serviços, gestão, amenities e marca associados que acrescentam valor. A Martinhal já tem Branded Residences em Lisboa, nomeadamente no Parque das Nações: «é um hotel, mas dá para viver lá, com todos os serviços incluídos, desde reparação, limpeza, conectividade», explica Chitra Stern, Owner & CEO da Martinhal. O público deste produto premium é maioritariamente internacional, e por isso a Martinhal aposta também na educação, tendo já aberto uma escola internacional na zona, a United International School of Lisbon. «Não nos podemos esquecer das infraestruturas, que são necessárias para que os compradores considerem estas localizações atrativas. Temos de pensar mais alargado». A Accor Living também aposta neste mercado, tem 42 projetos de Branded Residences em operação em todo o mundo e «abrimos uma nova a cada 5 semanas», garante Daniel von Barloewen, Regional Vice President da Accor One Living. O responsável identifica como tendências o lifestyle, o premium e o segmento médio, «tem tudo a ver com a profundidade do mercado». As yields esperadas pelos investidores em Branded Residences variam entre os 1,5% e os 4%. Para si, «Portugal já está muito à frente, e tem muito potencial. O Algarve já tem muitas histórias de sucesso, e a Comporta tem também muito potencial, está suficientemente perto de Lisboa para beneficiar da tendência crescente do teletrabalho. Também o Porto e o Douro têm muito potencial, na minha opinião». As Branded Residences fazem parte do novo caminho de desenvolvimento de Vilamoura. Pedro Reimão, CEO de Vilamoura, afirmou em debate que Vilamoura se quer consolidar, e «continuar o reposicionamento do destino, para que seja mais conhecida em todo o mundo, para atrair mais pessoas, e as Branded Residences são parte disso. Temos projetos turísticos puros, habitação, hotelaria, vários conceitos e produtos para testar». APR segue esforço de promoção de Portugal “como destino líder” No seu discurso de abertura, o também presidente da APR, Pedro Reimão, assinalou que a APR vai continuar a trabalhar para «posicionar Portugal como destino líder, alavancando os fatores competitivos do país. Queremos fomentar a inovação e a excelência em todos os aspetos, e contribuir para que o turismo residencial em Portugal seja reconhecido». Para o efeito, a APR definiu um conjunto de prioridades, entre as quais o posicionamento face à legislação: «este setor tem assistido a alterações constantes, que afetam a forma como os empreendimentos são construídos, licenciados e operados, e criam um clima de incerteza e imprevisibilidade que nos prejudica. Por isso, temos tentado intervir». Por outro lado, a associação quer promover a sustentabilidade ambiental, «uma necessidade óbvia para todos hoje em dia. Tentamos promover o desenvolvimento sustentável através da promoção de padrões que incentivem os nossos associados a minimizar os impactos e a maximizar o bem-estar comum das comunidades onde se inserem». E porque «não estamos sozinhos no mercado global», o país tem de ser «capaz de competir com outros destinos noutros países. Queremos contribuir para a competitividade do setor através de iniciativas como estas, que contribuem para a partilha de experiências e boas práticas, mas também desenvolvendo ferramentas e serviços». A associação quer também fortalecer o «sentimento de pertença de todos a este setor. Porque seremos mais fortes se formos mais unidos», conclui.

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