Hotelaria e turismo focam-se na qualidade para garantir futuro resiliente

Apostar na qualidade para manter o setor forte e ultrapassar os desafios, é um dos principais objetivos do setor da hotelaria e do turismo em Portugal, que vê o futuro com otimismo, assim se mantenham as condições favoráveis a este que é um dos principais motores da economia. “Construir o turismo do futuro” foi o mote para o Pequeno-Almoço Conferência organizado pela Vida Imobiliária em Lisboa a 1 de julho, com o apoio da DILS e da Horwath HTL. A hotelaria capta hoje cada vez mais investimento imobiliário em Portugal, os especialistas acreditam que este volume pode continuar a crescer, e é um setor no qual vale a pena investir. Pedro Lancastre, CEO da DILS Portugal, destaca que “o mercado da hotelaria e do turismo está muito vivo, e houve um crescimento substancial entre o pré e pós-pandemia. As perspetivas são muito positivas para o futuro deste setor. Temos de surfar esta onda, e ainda há muito para fazer e acontecer em Portugal. O setor tem boas equipas para ajudar neste desenvolvimento”. José Gil Duarte, Managing Director da Horwath Portugal, deu algum contexto de mercado e destaca o papel que a indústria do turismo tem jogado depois de 2021. “É uma lógica transversal, que impacta praticamente todos os setores da economia”. Gonçalo Ponces, Head of Hospitality, Living and Natural Capital da DILS Portugal, enfatiza “a capilaridade do setor do turismo, para que se entenda o seu impacto nas receitas e em várias áreas da economia nacional. É um setor em plena transformação, o que se nota no investimento que em entrado no país a longo prazo e em vários segmentos de mercado. É um país em plena transformação a receber todos estes conceitos, com os seus próprios desafios”. O responsável avança que a hotelaria deverá passar a pesar 30% a 35% de todo o investimento imobiliário comercial feito ao longo do ano, sagrando-se a segunda principal classe de ativos. “Poderíamos chegar a 500 milhões de euros só em transações de hotéis este ano”, estima. “A procura é muito forte e são muitas entidades que nos batem à porta. O ‘preço por chave’ vai continuar a subir, aproximando-se dos preços de Madrid ou Barcelona. Isto coloca pressão, e traduz-se em liquidez”. Frederico Arruda, Partner da Refundos Explorer, confirma que “os fundos e o capital estão muito interessados neste mercado, mas este também está muito competitivo. É um segmento ‘estrela’ desta indústria. Estamos todos a melhorar. Temos ainda uma grande capacidade para crescer”. José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties, considera que “é bom saber que o setor está bem e recomenda-se. Há, de facto, um crescimento ao nível da procura e da qualidade. São boas notícias para os nossos projetos”. No caso da Vanguard Properties, e da zona da Comporta em particular, confirma o interesse na abertura de novos hotéis, “sempre com Branded Residences, entre os 150 e os 300 metros quadrados por casa e para venda, o que permite reduzir o investimento no próprio hotel e permite que mais pessoas possam usufruir dos serviços que o hotel disponibiliza”. João Rocha Neves, Cluster General Manager das Pousadas de Portugal, do Pestana Hotels Group, acredita que “há um caminho sustentado para o turismo em Portugal, com necessidades ao nível da visão e posicionamento estratégico”. Atesta o crescimento do setor, apesar de ligeiramente mais lento do que em anos anterior, nomeadamente em Lisboa, “onde há cada vez mais oferta para a mesma capacidade instalada”. Mas considera que “há espaço para continuar a crescer, nomeadamente em Lisboa, apesar dos desafios a nível das infraestruturas ou do posicionamento do mercado”. Paulo Carapuça, CEO da CJ Partners, defende que “há um grande trabalho para fazer na formação no turismo, muito valor para distribuir e afetar a um conjunto de projetos que podem qualificar cada vez mais o setor”. Uma das necessidades é a requalificação dos ativos, e exemplifica que “as Branded Residences têm posicionamentos de mercado e exigências de requalificação específicas. Isso preocupa-nos, porque queremos viajantes mais qualificados, e para isso precisamos de um produto de qualidade. Isso ajuda-nos a nós, promotores, a elevar as classes de conforto dos edifícios”. Já João Pita, diretor de Investimentos Imobiliários da Optylon Krea, confirma “a boa dinâmica do mercado turístico em Portugal. O mercado mostra uma dinâmica muito interessante, com espaço para crescer e perspetivas positivas para os próximos anos. Há espaço para os novos formatos se consolidarem”. Na experiência da Ando Living, que começou com a aquisição da Lovely Stay, “a qualidade da experiência turística traduz-se no resultado da operação, e conseguimos uma estada média mais longa”. Neste momento, a empresa pretende consolidar a sua marca, para depois “entrar definitivamente no mercado das Branded Residences”. Aeroporto e tensão com residentes são os principais desafios O setor do turismo português vive momentos de consolidação e afirmação ao longo dos últimos anos, mas há desafios que a indústria identifica claramente, e que está pronta a enfrentar. As limitações do aeroporto de Lisboa são talvez o desafio mais óbvio para o crescimento, pois já estão a limitar a procura, como se fosse “um tampão”, afirma Pedro Lancastre. “Temos de pensar como dar a volta a esse texto. Uma das formas é apostar na qualidade, em detrimento da qualidade. Melhores turistas, melhor oferta. A Comporta é exemplo disso”. Bernardo Trindade, presidente da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal e administrador da Porto Bay Hotels & Resorts, alerta também para esta questão, e defende que uma das alternativas é o aumento da estada média no país, pelo qual a AHP muito se tem batido, maior utilização do aeroporto dos aeroportos do Porto ou do Algarve e definir, assim que possível, o futuro da TAP. “Temos de olhar para todas estas questões para garantirmos a nossa estabilidade”. Recorda também que a recuperação da hotelaria depois da pandemia “foi muito mais rápida do que qualquer um de nós podia prever”, e identifica “a crescente animosidade” entre residentes e turistas como o principal tema a debelar. Garante que “não metemos a cabeça na areia, temos de lidar com esse tema, e minorar esta tensão. Os investimentos pagos através da taxa turística são uma forma de mostrar aos residentes o bom impacto do turismo, por exemplo. Hoje, nada nos diz para onde vão as verbas ao certo. Defendemos que qualquer equipamento construído com verbas da taxa turística deve ter algum ‘selo’ que diga isso mesmo, para esbater esta tensão”. E completa que “o que queremos é continuar a contribuir para que a nossa economia floresça”. Frederico Arruda alerta para a questão da segurança, que tem sido “um dado adquirido, mas hoje é uma preocupação mais premente. Começam a aparecer algumas críticas menos positivas dos turistas sobre algumas zonas da cidade. Mas ainda não é um tema para os investidores”. Por outro lado, destaca os tempos do licenciamento, atestando que os investidores estão mais avessos a esse risco. “Só procuram hotéis já em operação ou prontos a construir”. Paulo Carapuça concorda, e considera que “alguns atrasos e burocracias são impensáveis, e os instrumentos que existem hoje ainda não permitem a agilidade processual”. Também aponta que se deve olhar com atenção para a questão da mobilidade, que contribui para a componente da habitação e, por conseguinte, também para os recursos humanos, por forma a que o turismo “não seja um fator opositor” no dia-a-dia das cidades. José Gil Duarte acredita no “futuro muito promissor” do setor, assim se mantenham alguns fatores, como a gestão do destino, a perceção de segurança do país, a qualificação dos recursos humanos, que “importa reforçar, numa indústria que tem dificuldade em atrair talento. É preciso valorizar as profissões”. Destaca também a necessidade de melhorar as acessibilidades, a necessidade de simplificação dos processos de licenciamento e a boa ponderação da regulamentação do alojamento local nas dinâmicas territoriais em que se inserem, e concorda com a necessidade de perceção de relação direta entre a taxa turística e os investimentos feitos nas cidades. O encontro decorreu nos escritórios da DILS em Lisboa, a 1 de julho

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