Em termos de acesso à habitação, as famílias portuguesas estão obrigadas a uma taxa de esforço exponencialmente superior à das suas congéneres espanholas. De acordo com uma das conclusões da segunda edição do estudo sobre a capacidade de acesso das famílias à habitação, desenvolvido pela Century 21, Lisboa tem a maior taxa de esforço da Península Ibérica.
O estudo realizado em Portugal foi replicado em Espanha com os mesmos critérios de investigação. A primeira grande conclusão do estudo é que o rendimento líquido médio dos agregados familiares nacionais é praticamente metade do das famílias espanholas, tendo em conta o diferencial dos salários.
Em Portugal, o rendimento líquido disponível das famílias varia entre os 1973 euros em Lisboa e os 1426 euros de Viana do Castelo, enquanto a média das capitais de distrito se situa nos 1545 euros. Já em Espanha, o rendimento médio disponível das famílias nas capitais das comunidades autónomas situa-se entre os 2900 euros em Mérida e os 4300 euros em Madrid, mas na maioria das cidades este valor situa-se entre os 3300 euros e os 3700 euros.
Em contrapartida, ao contrário do que se observa com os rendimentos, há uma disparidade acentuada entre as diferentes capitais no que respeita o preço das casas, constata o estudo.
Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Ibérica, salienta que «a comparação realizada sobre o acesso à habitação em Portugal e Espanha evidencia as enormes divergências no rendimento médio familiar entre ambos os países, enquanto os valores dos imóveis se mantêm similares. Para além disso, existe o desafio comum da falta de oferta nas zonas de maior concentração demográfica, junto das principais metrópoles, com Lisboa e Madrid a liderarem os fluxos de procura. E a única forma de superar os desafios de acessibilidade da habitação é aumentar a oferta de soluções habitacionais, em linha com as expetativas e capacidades financeiras das famílias.
«Nesse âmbito, em Madrid existem dois megaprojetos urbanísticos - Madrid Nuevo Norte e Estratégia Sudeste (Valdecarros, Berrocales, Los Ahijones, Los Cerros e El Cañaveral) - que vão colocar no mercado cerca de 43 000 casas na capital espanhola, a partir de 2024. Uma realidade bastante diferente do que se antevê para Lisboa, ou mesmo para a AML», acrescenta o CEO da Century 21 Ibérica.
Taxa de esforço para compra de casa
No país vizinho, comprar uma casa de 90 metros quadrados supera os 33% da taxa de esforço aconselhada apenas em Barcelona (34%). Palma de Maiorca está agora no limite (33%) enquanto o acesso à habitação em Madrid e Bilbao está já a implicar mais de 30% do orçamento das famílias, embora ainda abaixo do limite. Nas restantes capitais, assim como no contexto das áreas metropolitanas de Madrid e Barcelona, o esforço para aquisição está no patamar dos 20%.
Em Lisboa, a compra de casa exige uma taxa de esforço de 67%, e no Porto de 50%. Ligeiramente mais baixa, a taxa de esforço em Faro atinge os 39%, aponta o estudo. Com a exceção das capitais, da grande parte dos concelhos da AML, AMP e Algarve, nas restantes capitais de distrito este indicador é de 30% ou inferior, com grande parte das cidades a situar o esforço para aquisição em cerca de 20%, e com os 13% da Guarda a fixar a menor taxa de esforço do País. No entanto, a taxa de esforço em 15 das 18 capitais de distrito é inferior à recomendada.
Arrendamento
Outras das conclusões da segunda edição do estudo prende-se com o facto de que, em Espanha, os valores para arrendamento apresentam uma forte heterogeneidade entre as capitais das comunidades autónomas, com a renda de 90 metros quadrados em Barcelona, Madrid, Bilbau e Palma de Maiorca a superar os 1000 euros mensais, num máximo de 1 609 euros na capital catalã.
Este valor praticamente triplica a renda mais barata do país: 473 euros registados em Mérida. Além desta amplitude acentuada, há ainda uma considerável dispersão nos valores praticados no arrendamento, com as restantes cidades a registarem rendas entre os 600 e os 900 euros mensais.
Já em Portugal, o estudo conclui que arrendar uma casa de 90 metros quadrados em Lisboa custa mais do triplo do que os 351 euros que se paga, por exemplo, em Beja, a cidade com arrendamento mais barato do País. A capital apresenta um preço médio de 1161 euros, um valor não muito distante da média dos 1017 euros cobrados na área metropolitana de Lisboa. As cidades do interior continuam a ser as mais acessíveis, mantendo uma tendência registada desde 2018.
“Desafios que as famílias portuguesas enfrentam no acesso à habitação”
A «menor disponibilidade de parque habitacional, para compra ou arrendamento, em linha com a capacidade financeira dos agregados familiares, baixo rendimento e maior carga fiscal são os principais desafios que as famílias portuguesas enfrentam no acesso à habitação», enfatiza Ricardo Sousa.
O estudo frisa que as respostas à necessidade de acesso à habitação passam, também, pela adoção de uma nova visão para a Área Metropolitana de Lisboa, com base numa estratégia de mobilidade intermunicipal e intermodal, que integre transportes, serviços e infraestruturas de apoio aos milhares de cidadãos que necessitam de se deslocar entre os concelhos da AML. A nova geração de políticas de habitação deverá basear-se numa perspetiva integracionista dos planos de habitação, mobilidade sustentável e infraestruturas.