Imobiliário português é “muito maduro” e setor deve focar-se no mercado doméstico

O mercado da habitação português é considerado muito maduro e enfrenta agora novos desafios decorrentes dessa mesma maturidade. Um deles é a necessidade de monitorizar com muita atenção o mercado doméstico e o mercado de usados, que «é bem mais relevante do que parece». É o que defende António Ramalho, gestor e antigo CEO do Novo Banco, que foi o convidado da mais recente Executive Breakfast Session organizada pela APPII em Lisboa, a 29 de outubro. Neste encontro com os promotores e investidores imobiliários, partilhou a sua visão: «somos um mercado maduro de casas próprias, a maior parte das famílias terá conseguido mais rendimento com a valorização da sua casa do que com o seu trabalho» nos últimos anos. Destaca que o mercado está a passar por um período de «muito entusiasmo», mas deve agora refletir sobre o seu nível de maturidade, que «é determinante para os eventos futuros». Recorda que, particularmente desde 2015, os preços da habitação têm vindo a subir consistentemente a dois dígitos, «mais do que pensei», e em 2024 ficará muito perto dos 10%, admite. Isso também também é reflexo de algum «efeito de contágio» das aquisições por estrangeiros em alguns segmentos e zonas do país. E lembra que a estratégia do atual Governo recai sobre a promoção de nova oferta de fogos mas alerta que «80% das transações dizem respeito a fogos usados, por isso não são só as casas novas que vão resolver o problema nem definir o preço. O equilíbrio entre um mercado cuja oferta se concretiza a longo prazo e a procura opera a curto prazo deve ter atenção à relação entre o preço mediano e os rendimentos medianos da sua população. Há que evitar esse stress de “preço por rendimento”». António Ramalho acredita que o mercado deve, assim, apostar mais no mercado de compra e venda de fogos usados, para assegurar transações e valorizar este segmento, que deve ter «fiscalidade atrativa na transação e yields aliciantes para o proprietário». Para travar o aumento excessivo dos preços da habitação, e manter a oferta dento do alcance das famílias portuguesas, defende a baixa do IVA na construção para 6%. «Não devíamos estar a pensar quando baixa o IVA, mas sim quando voltaria aos 23%. Porque agora precisamos de uma política de promoção fiscal da construção» bem como de uma política de «libertação dos impostos sobre as transações, transferindo vantagens fiscais para a transação em detrimento da baixa tributação do património». Isso deverá para assegurar maior dinâmica de transações. Sobre o mercado de arrendamento, concorda que seria uma boa forma de garantir liquidez no mercado e também para as próprias famílias, mas tem faltado confiança no último século. «O problema do arrendamento vem desde sempre, nunca se tem apostado de forma credível e confiável nesse mercado. Mas a chave está na confiança. E a confiança não se pode legislar nem comprar, simplesmente acontece».

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