Quem o diz é Francisco Rocha Antunes, do RICS, que acredita que este será um dos pontos centrais do mercado nos próximos 20 anos, bem como «o grande desafio da política» para esse período. «Temos mercado estruturado pela compra e venda, tivemos um princípio de mercado de arrendamento depois da nova lei, mas foi pontual. A habitação para arrendamento ainda não fechou equação óbvia».
Numa altura em que falta habitação para a generalidade da classe média, a Nova Geração de Políticas da Habitação foi já apresentada pelo Governo, mas a mesa concordou que ainda é preciso perceber «quais são as linhas de força, para começarmos a perspetivar um mercado diferente». Luís Menezes Leitão, da ALP, considera que a apresentação destas políticas foi «pouco concreta», e que «continuamos a ter uma certa desconsideração pelo mercado de arrendamento. As medidas deste governo geraram um descrédito enorme no mercado», referindo-se a questões como a introdução do AIMI, o prolongamento do período de transição de rendas ou a discussão em torno do AL.
A par disso, há uma clara «questão cultural» no que concerne a habitação em Portugal. «Há um desafio de educar a classe política da vontade de haver senhorios portugueses com capital português que fica em território nacional», considera Luís Rocha Antunes, da C&W. «Há portfólios que nos últimos 40 anos renderam 0, e isto é empobrecimento».
Bolha?
O presidente dos proprietários lisbonenses defende que «há uma bolha imobiliária», provocada pelos “golden visa”, que «não sabemos quando estoira». A este respeito, António Gil Machado, da VI, deixa a reflexão de que, de acordo com os números da Ci, os preços voltaram aos máximos de 2010, em média, mas os preços nos centros das cidades chegam a ser o dobro desse pico, «valores que não se imaginavam há uns anos». E, estes valores muito altos têm mais exposição mediativa, e «alteram a expetativa» do mercado no geral, concorda Francisco Rocha Antunes.
Já Paulo Silva, da ACAI, considera que «não há bolha, por falta de financiamento», pelo menos por enquanto. «O que vai acabar por acontecer é que alguém vai ter menos valias, e não há produto para mostrar onde está o preço dos melhores produtos», referiu.
Prolongar o ciclo – primeira meta do setor
O mercado entra em 2018 com o pé direito, e o testemunho dos profissionais presentes neste encontro deixa prever que o ano será tão bom ou melhor que 2017, a vários níveis.
Paulo Silva acredita que este ano será bom para o mercado «como tem sido desde 2015, e esperamos que 2019 também. Mas temos de pensar em termos de região, e gostava de ver mais disponibilidade política para se sentarem à mesa para falar essencialmente de acessibilidades, é uma questão que sem consensos partidários não se resolve».
Uma das grandes tendências do mercado imobiliário este ano continuará a ser a cada vez mais acentuada falta de escritórios em Lisboa e no Porto. Eric van Leuven, da C&W, lembra que esta questão «preocupa muito», numa altura em que os serviços partilhados procuram espaços no país, «com um modelo financeiro muito importante e rendas baixas. E a componente de habitação vai afetar estes modelos. É necessário evitar que Portugal deixe de ser competitivo».
Aliás, novos espaços de trabalho e «formas de trabalhar muito diferentes» foi a questão de futuro salientada por Pedro Ló, da APFM, ou a economia de partilha,: «não podemos pensar que o imobiliário daqui a 30 anos vai ser igual ao que era há 30 anos atrás. Será baseado no acesso e não na posse», considera Paulo Silva. Os próprios fundos imobiliários «vão ter um papel importante no investimento e na poupança dos portugueses, o que agora não está a acontecer», defende José Veiga Sarmento, da APFIPP.
Por seu turno, Manuel Puerta da Costa, da APAF, acredita que os agentes do mercado devem pensa-lo a longo prazo, e alerta para o facto de que «os sinais que foram dados nos últimos anos não nos permitem ser tão otimistas a 10 anos como poderíamos estar com os sinais dados antes disso». Lembra que «existe uma interação enorme entre os mercados financeiro e imobiliário hoje em dia».
Entretanto, «temos obrigação de prolongar os bons ciclos e encurtar os maus», notou Henrique Polignac de Barros, da APPII. «Temos de ter os pés bem assentes na terra, e antecipar certas medidas para não termos a desilusão da reversão deste ciclo», lembrando que em 2017, segundo dados da CPCI, foram investidos cerca de 20.000 milhões de euros no imobiliário, mais 20% que no ano anterior. «Se queremos manter o ritmo, temos de tomar providências».