Habitação acessível passa por criar confiança e parcerias público-privadas

Criar confiança e parcerias público-privada.
5ª edição da Conferência da Promoção Imobiliária em Portugal (COPIP).

A 5ª edição da Conferência da Promoção Imobiliária em Portugal (COPIP) reuniu players do setor para discutir o desafio da habitação acessível. Um dos temas centrais foi a necessidade de parcerias público-privadas para alavancar o mercado.

Tiago Eiró, CEO da Eastbanc, salientou a urgência de criar confiança para o investimento em habitação acessível. «Nos EUA, o Build to Rent é o segmento que mais cresce, e aqui não acontece porque ainda não houve confiança para isso. Cada vez que revemos regulamentos e concursos, estamos mais perto».

Claude Kandyioti, CEO da Krest, acredita que «as coisas podem mudar e melhorar um dia, sim, mas não será hoje. E não sabemos quando». Lisboa «está bloqueada com os problemas políticos, e o Porto é um bom exemplo do que se está a tentar fazer. O problema é a nível nacional. Sempre que tentamos explicar o programa que temos na Bélgica, não funciona», disse o líder da promotora imobiliária belga.

Tiago Eiró reforçou que «gostávamos de fazer habitação acessível. Nos últimos 3 ou 4 anos tentámos, em escala, e continuamos a acreditar que há espaço para fazer; penso que o tema é mesmo a confiança e também as parcerias».

6% de rentabilidade poderia ser interessante para quem faça um investimento de longo prazo

«Tem-se trabalhado em fazer o programa certo, mas talvez fosse melhor várias formas de fazer, mais flexíveis, com mais variáveis, porque os nossos critérios também poderão ser certamente diferentes. Se balizarmos demasiado as regras e os critérios, as pessoas não aderem, acho que é isso que tem acontecido», salientou o líder da EastBanc Portugal, acrescentando que «6% de rentabilidade poderia ser interessante para quem faça um investimento de longo prazo».

Por outro lado, Carlos David, Diretor de Desenvolvimento da Nhood Portugal, trouxe a perspetiva de dinamizar o investimento privado. «Temos de pensar como criamos mecanismos para dinamizar o investimento privado». Na realidade portuguesa «vemos muitos projetos com incentivos ou promoção pública, mas na realidade espanhola o foco não é o investimento público, e sim o investimento privado».

“Portugal e Espanha são mercados em crescimento”

Claude Kandyioti sublinha que «Portugal e Espanha são mercados em crescimento, tudo o que colocamos no mercado vende-se bem, e isso faz-nos sentir confortáveis, e assim tornamo-nos parte do programa. Compramos um grande terreno em Alcochete que vamos transformar em urbano, vamos investir aqui em habitação acessível, não sabemos bem ainda como, se num programa, se fora de um programa. Vamos levar tempo a transformar este ativo seja como for. Temos de ter controlo sob os terrenos e conseguir criar estes terrenos urbanos».

Já do lado da Eastbanc, «estamos a desenvolver habitação de luxo e escritórios numa zona onde há 20 anos ninguém lá queria estar», disse Tiago Eiró, acrescentando que «estamos a fazer isso a 6%; porque é que se discute ainda se devemos fazer a 6% ou não? Foi esse incentivo fiscal que permitiu recuperar as nossas cidades».

Em termos de licenciamentos, «mecanismos como o Simplex vão acelerar se o mercado imobiliário avançar, sendo o IVA a questão mais premente. O licenciamento continua a ser um tema crucial ligado ao IVA. Com mais oferta no mercado, a procura não se concentrará apenas no luxo, e uma diferença de 17% faz toda a diferença», ressaltou Carlos David.

Tiago Eiró reforçou que «temos de pensar que os promotores querem ganhar dinheiro, mas também podem ser pessoas sérias e ter a sua reputação em jogo. Nós já fazemos com IVA a 6% em vários projetos, por exemplo. E não é um lucro excessivo. Para os preços baixarem, tem de haver capacidade construtiva».