O Salão Imobiliário de Lisboa recebeu a conferência “Este país não é para jovens? – Os desafios da habitação para as novas gerações”, uma iniciativa da ERA Portugal, que propôs-se a debater os problemas que limitam o acesso das gerações mais jovens à habitação.Dando início à conferência, Rui Torgal, CEO da ERA Portugal, atentou ao facto de que os jovens portugueses ficam em casa dos pais, em média, até aos 33 anos, a passo que a média europeia situa-se nos 26.5 anos, apontam os dados do Eurostat. «O peso crescente das despesas com a habitação, ou a quebra da riqueza líquida das famílias mais jovens, parecem ser alguns dos fatores que mais contribuem para uma compra mais tardia da primeira habitação», aponta o CEO da ERA Portugal, acrescentando que importa «discutir as ideias e apontar caminhos que ajudem os jovens a dar um passo fundamental no seu processo emancipação: os jovens procuram encontrar o seu espaço, a sua própria habitação».Estão os bancos “sensíveis a esta adversidade”?Na mesa-redonda de debate, António Ribeiro, do Banco Santander, argumentou que a dificuldade de acesso ao crédito à habitação «resulta de um conjunto de normativas aos quais os bancos têm de respeitar, que dificulta e limita muito a própria imaginação do setor financeiro para encontrar soluções». Primeiro, há que «fazer um enquadramento legal da operação e, posteriormente, analisa-se o risco do ponto de vista do banco, se é possível fazer o crédito ou não», explica.Para António Ribeiro, a dificuldade no acesso ao crédito não advém «das taxas de juro que estão a ser cobradas pelos bancos». O crédito da habitação, como modelo atual do dia-a-dia, «é um modelo intelectual cinzento», pois «não permite grande imaginação», justifica António Ribeiro, acrescentando que o setor financeiro «pode fazer parte da solução, mas é um jogo de equipa, o banco não resolve sozinho».“Um dos principais obstáculos: a questão do rácio LTV”Por sua vez, Alexandre Poço, Líder Nacional da Juventude Social Democrata, sublinha que «temos de colocar este problema [compra da primeira casa] porque se não andaremos ano a ano nesta discussão». Considerando que «é impossível, por uma questão regulamentar, voltar a uma situação em que se financiava a 100%, 110% ou 120%», Alexandre Poço sustenta que hoje «um dos principais obstáculos é a questão do rácio LTV». Neste momento «estão em discussão 35 iniciativas em discussão no grupo de trabalho da habitação» e, no que diz respeito ao rácio LTV, «apresentamos uma proposta no sentido de assumirmos uma responsabilidade contingente do Estado, naquilo que é a outra parte do financiamento (10%), sendo que a proposta que avançamos é a de haver uma garantia do Estado para a compra da 1º casa até aos 35 anos, para casas até um valor de aquisição de 250 mil euros».Na vertente do intermediário de crédito, Rui Lopes, CEO da Simplefy, «o papel do intermediário de crédito é poder simplificar e juntar todas as ofertas para oferecer ao cliente fundamental». O responsável acrescenta que o papel que queremos ter «é ser o voicespot do público, dos jovens em concreto e dos consumidores em geral».Romana Xerez, professora investigadora, a autora do Estudo “Acesso à habitação própria em Portugal”, o acesso à habitação por parte dos jovens, nos últimos anos, «agravou-se de forma acentuada». A investigadora nota a disparidade entre a “geração dos pais” que «teve tudo», no que diz respeito à habitação, e esta nova geração «que nada tem». Romana Xerez falou ainda sobre o programa Mais habitação que «escassas soluções» apresentou aos jovens.“Queremos aumentar o parque habitacional e melhorar o existente”Presente no debate, Filipa Roseta, Vereadora da Habitação da Câmara Municipal de Lisboa, assume que na CML «aterrámos a correr, com a crise habitacional que estamos a viver. Elaborámos uma Carta Municipal da Habitação que tem estratégias para o concelho e o que nós podemos fazer». Primeiramente, «queremos aumentar o parque habitacional e melhorar o existente, e a CML, enquanto maior senhorio do país, tem uma responsabilidade enorme», justifica Filipa Roseta, adiantando que «das 2.000 casas da câmara que estavam vagas, já recuperámos 830», sendo que, até ao final do ano, «vão ser atribuídas». O segundo pilar passa por «melhorar o acesso», através do apoio à renda: «a CML paga um terço da renda a quem paga mais do que um terço do seu rendimento em renda, ou seja, a câmara dá um apoio à renda universal. Já estamos, neste momento, a apoiar mais de 300 famílias e pretendemos apoiar até às 1000 famílias». Filipa Roseta afirma que este apoio «é bom para aguentar o mercado privado». Para além dos objetivos de aumentar o parque habitacional e melhorar o acesso, a CML pretende combater a pobreza: «mapeámos 36 zonas de pobreza na Carta Municipal da Habitação: queremos erradicar a pobreza em Lisboa».