Banca está disponível para apoiar aumento da oferta de habitação

Os principais bancos portugueses defendem a criação de mais oferta de habitação no mercado, para conter os preços e tornar os ativos mais acessíveis, e garante que não há limitações de concessão de crédito. Foi o que partilharam os dirigentes do Millennium bcp, Caixa Geral e Depósitos e BPI participando na conferência “Observatório do Imobiliário”, organizada esta quinta-feira pela Century 21 em Lisboa. Miguel Maya, CEO do Millennium bcp, referiu que «consideramos este um tema muito sério, que poderia ter sido minimizado. É transversal a muitos países, mas isso não significa que não devêssemos ter feito o nosso planeamento, em função da evolução esperada do mercado de trabalho, por exemplo. As políticas públicas deveriam ter sido capazes de antecipar isso». Acredita que «o tema dos rendimentos das famílias não se resolve com a habitação, mas sim com maior produtividade, menos dogmas em relação às empresas, com maior capacidade efetiva de pagar maiores salários». No mercado, «o equilíbrio entre a oferta e a procura determina tudo. Se começarmos a flexibilizar a procura demasiado cedo, isso vai levar a um aumento dos preços relevante. A probabilidade de isso acontecer é reduzida, mas devemos ter isso em conta». Recomenda, por isso, aumentar a oferta. «Sabemos que o número de edifícios concluídos tem vindo a reduzir nos últimos trimestres, e também isso coloca pressão nos preços». Paulo Macedo, Presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos, recorda que o setor da construção perdeu uma parte significativa das suas empresas. «Vários empresários deixaram de estar neste setor, ou foram à falência. Recuperar esta capacidade construtiva vai levar algum tempo». Concorda que «precisamos de mais casas no mercado, e intervir no preço dos terrenos, para que o custo da habitação seja menor, e ter alguns apoios para a compra da primeira casa». Defende também mais investimento público, revisão de Planos de Pormenor ou a possibilidade de reconversão de ativos comerciais em habitação, para aumentar a oferta. João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, alerta que «está a faltar-nos tempo. [A habitação] deve estar na agenda principal do país, interessa a todos e às novas gerações, e não lhe temos dado a devida atenção. Perdemos muito tempo a discutir soluções, e precisamos de partir para a ação, concretizando o que temos vindo a dizer. Se dizemos aos jovens para ficarem cá, como é que vão viver? E onde? E os emigrantes?», questiona. «Só uma minoria tem acesso aos apoios, e a alternativa [arrendar] é muito cara, porque não há mercado de arrendamento». Seja como for, «temos de estar todos juntos neste tema, que cria emprego e crescimento económico». Incumprimento ou restrições não são problema Rejeitando constrangimentos na concessão de crédito, João Pedro Oliveira e Costa, garante que a banca «tem capital e capacidade suficiente para responder às necessidades de crédito. Temos regras, sim, mas temos capacidade. O problema é de fundo, e começa por uma política central. Não nos apontem os canhões a nós». Questionado sobre a taxa de esforço das famílias e sobre os níveis de incumprimento, Miguel Maya afirmou que «não me parece que haja um problema com a taxa de esforço, hoje até já pode chegar aos 50% do rendimento disponível afeto à amortização. Em alguns casos podemos ter até mais 10% quando há apoio de familiares». Recorda que «nunca tivemos, e não temos hoje, um problema de crédito vencido na habitação. O nível de incumprimento sempre foi muito baixo, é a última coisa que as pessoas deixam de pagar. Os dois temas que levam ao incumprimento são o divórcio e a doença». Paulo Macedo refere que, no caso da CGD, a taxa de esforço média até tem vindo a descer, de 42% para 36% no ano passado. «Com os aumentos salariais previstos para este ano, deverá ficar em torno dos 30% em 2025», prevê. Banca assume-se recetiva a projetos de Build to Rent O modelo de Build to Rent, ou construção para arrendamento, tem sido muito falado enquanto solução alternativa para criar mais oferta de habitação, mas não chegou ainda a Portugal. Paulo Macedo diz que a banca está recetiva, e que já financia várias entidades que compram para arrendar, mas a escala do projeto é determinante. Recorda que «o financiamento à construção aumentou significativamente no último ano», e só a CGD financiou mais de 1.000 milhões de euros em 2024. «Estamos disponíveis para esse tipo de projetos, e a maturidade não é um problema. Temos sempre de analisar a viabilidade dos projetos». E recorda para a importância da previsibilidade do investimento, seja legislativa, seja fiscal. Miguel Maya assume que o Millennium bcp «está ativamente à procura de novas oportunidades, mas os projetos têm de ser sustentáveis. Hoje já financiamos Build to Rent, mas as condições são diferentes [de outros projetos]». O responsável do Millennium bcp remata que «continuo a acreditar que a aquisição de casa própria é dos melhores investimentos que um particular pode fazer, é uma poupança que permite um rendimento disponível que compensa a redução do rendimento na idade da reforma. Não é só um crédito, é talvez o melhor produto de poupança que os portugueses têm».

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