Com os principais indicadores económicos positivos, níveis de incumprimento historicamente baixos e carteiras de NPL em mínimos, a banca portuguesa começa o novo ano confiante num mercado que se tem mostrado resiliente e à altura dos desafios. Participando num dos debates da apresentação do novo estudo da Century 21 sobre a habitação em Portugal esta quinta-feira, no Casino de Lisboa, Luís Ribeiro, administrador do Novo Banco, assume-se com um «otimismo moderado», já que «os principais indicadores económicos em Portugal são positivos». Diogo Sousa Louro, administrador do BPI, reforça que «temos tido um mercado de trabalho muito resiliente, e isso tem sido chave. Faz com que os rendimentos das pessoas se mantenham, por isso temos níveis de incumprimento historicamente baixos, sobretudo no crédito à habitação», também depois de um ano em que houve muitas renegociações de empréstimos com os clientes. E já é «bastante consensual que teremos chegado a um patamar máximo de taxas de juro de referência», aponta o responsável. «A perspetiva é de que comece a haver uma redução em meados deste ano. São relevantes para os nossos clientes não tanto as taxas de referência, mas mais a Euribor. Têm reduzido e esperamos que reduzam gradualmente, ainda vai demorar algum tempo a ter efeito. Mas só essa expetativa já deverá começar a ter impacto no mercado imobiliário». Luís Ribeiro concorda que em junho ou julho «podemos ter as primeiras reduções», e considera que alguns fatores têm levado «a alguma indecisão» por parte do BCE, que quer controlar a inflação, como o desemprego baixo. Miguel Belo de Carvalho, administrador do Santander Portugal, destaca que «as taxas já começaram a descer, o que o Banco Central Europeu está a fazer é gestão de expetativas, já que as taxas de médio prazo já estão muito mais baixas do que há 6 meses. E vão começar a sentir-se já reduções este trimestre». Considera que «a oferta dos bancos tem atuado muito nessas expetativas, nomeadamente com as taxas mistas. Quem contrata hoje um crédito já beneficia dessa expetativa». Simplex “faz todo o sentido” Este será o ano de colocar em prática o novo Simplex do licenciamento, que vai trazer necessidade de adaptação de todos os players do setor imobiliário, nomeadamente da banca. Diogo Sousa Louro acredita que «ainda é cedo para tirar conclusões do Simplex. Mas tudo o que sejam medidas para desburocratizar e tornar mais simples o início da construção, é fundamental». Acredita que «os incentivos fiscais são também muito importantes», e garante que «os bancos vão ser, como sempre, parte da solução, mesmo com todas as dúvidas que o Simplex pode ainda trazer. A cultura da propriedade foi cimentada pelo facto de os bancos terem dado sempre condições bastante favoráveis». Luís Ribeiro também aplaude «tudo o que seja para simplificar», mas defende que «tem de haver um conjunto de regras que protejam o consumidor, e o banco vai, naturalmente, trabalhar nelas». Miguel Belo de Carvalho concorda que «o Simplex faz todo o sentido e foi uma ótima iniciativa. Mas só depois de março» se podem tirar conclusões, pois ainda há várias regras a definir. Certo é que «os bancos terão de se adaptar, assim como todos os outros agentes». Desafios externos são os mais prováveis Os principais fatores desestabilizadores podem vir de fora. Diogo Sousa Louro alerta para os conflitos, como as guerras na Ucrânia ou no Médio Oriente, pois «em termos macroeconómicos, estamos melhor agora que no início de 2023». Luís Ribeiro recorda que «somos uma pequena economia aberta na União Europeia que sofre com os impactos e procura externos, e o turismo tem um peso enorme na economia». Aponta também «alguma instabilidade política, ainda que não seja determinante, na nossa opinião». No entanto, acha que as possíveis «indefinições» podem impactar um pouco na redução da procura por habitação, não necessariamente nos preços. Seja como for, «temos uma enorme escassez de oferta». Miguel Carvalho recorda que «Portugal está no centro do investimento, não só imobiliário, devido a uma série de atributos importantes para quem quer investir na Europa. Há condições para continuarmos a beneficiar desse interesse, mas precisamos de mais investimento nacional. O PRR e o Portugal 2030 podem ser importantes para isso».