Espaços de escritórios são “fator essencial” para captar e reter talento

«Até ao momento, o balanço que fazemos do segmento de escritórios é positivo», afirma Frederico Leitão de Sousa, Head of Offices da Savills, em entrevista à Vida Imobiliária. Embora o desempenho menos positivo verificado nos primeiros 6 meses do ano, esta segunda metade de 2023 «tem provado, mais uma vez, a resiliência deste setor assim como a importância que os espaços de escritórios assumem na vida das pessoas e empresas, uma vez que potenciam a cultura organizacional e o espírito colaborativo». Tendo em conta os acontecimentos globais, tais como a guerra na Ucrânia e o conflito Israelo-Palestiniano, «é importante continuarmos a capitalizar as oportunidades que surjam seguindo o exemplo de outros países, nomeadamente Espanha, Grécia e Itália que implementam, de forma consolidada, políticas de captação de investimento». Novo paradigma de escritórios Verifica-se uma «grande disparidade entre a realidade global e o panorama nacional no que ao novo paradigma de escritórios diz respeito», indica o responsável, acrescentando que a uma escala global «assistimos a um cenário menos positivo de aumento das taxas de disponibilidade, no entanto, apesar de se verificar um aumento das taxas de disponibilidade, existe uma movimentação das rendas que não é homogénea, ou seja, em mercados onde existem ainda margem de manobra para subida e uma procura assente em flight to quality, as rendas aumentaram». Adicionalmente, no panorama global «há um sentimento generalizado de “wait and see” por parte dos investidores», sendo que, em Portugal, «os dois primeiros pontos não se aplicam». Países como os EUA e outros países nórdicos europeus «exportam parte do seu tecido empresarial para o nosso mercado, por estas razões, a vacancy rate do mercado de escritórios nacional tem-se mantido estável», explica. “Os espaços de escritórios tornaram-se um fator essencial na hora de captar e reter talento” «Como sabemos, o chamado escritório convencional ficou no passado, dando hoje lugar a espaços que privilegiam a saúde e bem-estar das pessoas, a flexibilidade, regimes híbridos de trabalho e novas experiências. Quando as empresas nos procuram, têm já parte destes requisitos em mente, tendo em conta que o próprio mercado de Escritórios de Lisboa (e não só), apresenta cada vez mais ativos/espaços com estas tipologias», referiu Frederico Leitão de Sousa, acrescentando que «a nossa equipa especializada de Offices tem tido um papel importante junto dos clientes, no que respeita à consciencialização para este novo paradigma do setor, apresentando as melhores soluções para fazer face às suas necessidades operacionais». Frederico Leitão de Sousa, Head of Offices da Savills. “A tecnologia é hoje vista como um recurso essencial neste setor de atividade. Uma monitorização digital adequada permite aos proprietários e tenants obter uma maior flexibilidade e conectividade, quer a nível de edifícios inteligentes, quer no domínio da gestão do próprio espaço” Atualmente, os espaços de escritórios são vistos como lugares de experiência, «que conferem poder de escolha aos seus utilizadores no sentido de os mesmos terem a oportunidade de optar onde e como irão trabalhar. Por outro lado, as ferramentas tecnológicas têm assumido um papel muito importante no desenvolvimento da nossa atividade em geral, seja para que tornar os edifícios inteligentes, seja também para permitir um regime de trabalho híbrido». Frederico Leitão de Sousa considera que a tecnologia veio trazer uma «maior comodidade aos utilizadores assim como possibilidade de obter métricas, de forma a tornar a gestão do ativo/espaço, num processo mais eficaz, dados que são frequentemente utilizados no âmbito das políticas de ESG e sustentabilidade, onde são contabilizados os consumos energéticos, hídricos, das emissões de CO2, entre outros. Esta monitorização contínua, acaba por ser hoje crucial para o papel das empresas enquanto agente de mudança junto das suas pessoas e das comunidades envolventes». Completa dizendo que os padrões da sustentabilidade e dos critérios ESG «são hoje um must have para qualquer empresa, o que se reflete na qualidade de vida dos utilizadores. Um espaço de escritórios que não integre esta visão, é hoje considerado obsoleto». Tendência mais proeminente é o “return to office” O “Return to Office” é a tendência que «assume um maior destaque no segmento de escritórios. Perceber como as pessoas regressam ao seu local de trabalho, em que regime e qual a tipologia de espaço que mais se adequa à sua realidade laboral é, de facto, complexo. Adotar medidas e espaços que privilegiem as pessoas e o seu bem-estar é fundamental para gerar atração e retenção de talento». Estes espaços são vistos como um «fator essencial em prol do desenvolvimento do espírito colaborativo e de uma imersão na cultura organizacional, facilitando métodos de trabalho assim como a relação de confiança e proximidade entre as pessoas», completa. Perspetivas do setor para 2024 «Depende do contexto político e também dos níveis de instabilidade legislativa e fiscal que se verifiquem no país», frisa o responsável pelo setor de escritórios da Savills, dando como exemplo o anúncio do fim do regime de Residentes Não Habituais, que «veio provocar uma incerteza no sentimento dos investidores internacionais, causando um impacto negativo na atração e retenção de talento estrangeiro no país». Assim sendo, «teremos de nos manter competitivos para que continuemos a ser um destino de eleição», reitera. Para o próximo ano, as perspetivas do mercado de escritórios «se prenderão com a própria consolidação do segmento numa escala nacional, com a contínua atratividade das cidades portuguesas para fixação de novas empresas - Porto, Braga, entre outras - com a evolução positiva do nível das rendas, a implementação do modelo de trabalho híbrido e, por fim, com a tendência dos smart buildings a surgir num lugar de destaque». “O presente e o futuro são híbridos, disso não há dúvidas – é o modelo vencedor” «Este mindset deve hoje estar presente na forma de atuar de qualquer empresa, pois a flexibilidade é palavra de ordem. Não creio que se verifique um grande impacto, no futuro, na procura de espaços de escritórios ou uma redução das áreas. Acredito que este regime híbrido irá continuar a trazer a necessidade de reorganização para espaços por parte das empresas, para que as mesmas respondam aos requisitos atuais». Como conselhos às empresas que estão a considerar alterações nas suas necessidades de espaço de escritórios, Frederico Leitão de Sousa aponta que em primeiro lugar as empresas «deverão considerar quais as suas necessidades operacionais atuais e futuras, nomeadamente fatores como o seu tipo de negócio, dimensão da sua equipa, projeção de crescimento, entre outros». Em termos de localização, os critérios como «a proximidade da localização geográfica em questão aos clientes, a acessibilidade para as suas pessoas, as opções de transporte e as amenities locais, deverão também figurar no topo da lista», acrescentando que «a filosofia da empresa e o processo de change management são também cruciais para uma mudança bem-sucedida, pois as pessoas estão sempre em primeiro lugar». Para o responsável pelo setor de escritórios da Savills, «o conceito de adaptação é, sem dúvida, o que melhor caracteriza a realidade dos espaços de escritórios atualmente».

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