No âmbito do Portuguese Housing Market Survey (PHMS) de março, inquérito de sentimento realizado todos os meses pelo RICS e pela Ci, os profissionais responderam a duas questões adicionais relativas às expetativas de recuperação das vendas e dos preços do mercado residencial no atual contexto de pandemia.
Registou-se em março uma deterioração abrupta no sentimento dos operadores que atuam no mercado habitacional, com as medidas adotadas para combater a propagação do coronavírus a restringir fortemente as expetativas relativas às vendas.
De acordo com este inquérito, o indicador de procura (consultas por novos compradores) caiu em março (saldo líquido de -59% dos inquiridos a reportar uma queda), após dois meses de subidas consecutivas, registando uma descida em todas as regiões cobertas pelo inquérito (Lisboa, Porto e Algarve).
Já o volume de vendas desceu para 52% dos inquilinos no mês de março. Com a expetativa de manutenção das medidas de distanciamento social nos próximos meses, as expetativas de vendas no curto-prazo estão firmemente em território negativo, com um saldo líquido de -71% dos inquiridos a esperar que os níveis de transações caiam no curto-prazo.
Relativamente aos preços, a quebra em março foi atestada com um saldo líquido de respostas de -18%, e todas as regiões têm expetativas negativas num horizonte de 3 a 12 meses. No próximo ano, a descida generalizada poderá ser de pouco mais de 7%.
Em março desceu também a procura por arrendamento, com um saldo líquido de respostas de -37%, que se afigura como a primeira leitura negativa deste indicador desde 2014. 63% das respostas antecipam uma quebra no valor das rendas no curto-prazo.
Ricardo Guimarães, diretor da Ci, comenta em comunicado que «é natural que as expetativas de curto-prazo estejam em baixa, refletindo a incerteza sobre quando esta crise do Covid-19 irá terminar. Esse é um fator crítico, por razões de saúde e económicas. Ainda assim, as opiniões quanto ao período pós-crise são menos pessimistas e antecipam uma recuperação no espaço de 12 meses depois que o surto esteja controlado».
De acordo com o responsável, «alguns operadores notam que já anteriormente estava a acontecer uma desaceleração do mercado, motivada pelas alterações legais aos regimes dos Residentes Não-Habituais e dos Vistos Gold. Ainda assim, há uma perceção global de que a retoma irá depender muito da extensão que esta crise terá na economia e do impacto no rendimento das famílias e na disponibilidade das empresas em voltar a investir».
Para Simon Rubinsohn, Chief Economist do RICS, «a descida sentida nos indicadores da atividade atual bem como nas expetativas futuras claramente refletem as medidas emergência adotadas para limitar a propagação do coronavírus. O feedback também sugere que o legado do Covid-19 poderá ser de tal dimensão, que qualquer retorno ao que pode ser chamado de “normalidade” na economia vai levar tempo e que as famílias vão manter-se cautelosas também por um bom tempo».