Esta é uma das conclusões do mais recente relatório “Hotels & Business – Especial Covid-19”, elaborado pela Cushman & Wakefield, que procurou recolher o relato de entidades de referência no contexto do turismo nacional, desde o presidente do Turismo de Portugal a operadores hoteleiros e proprietários de ativos turísticos, perspetivando medidas e antecipando aquele que poderá ser o curto prazo do setor turístico e hoteleiro
Neste estudo, que inclui a iniciativa Hospitality Lab, é apontado pela equipa de Research e pelos operadores envolvidos que há grandes diferenças entre esta crise e a anterior, iniciada em 2008. A grande maioria dos players vê mais semelhanças com o advento do 11 de Setembro e o pânico que gerou a nível global, que se dissipou entretanto.
Certo é que o setor hoteleiro enfrenta a crise atual mais capitalizado face a 2008, quando o nível de endividamento era maior. Mas, apesar de estar mais preparado, alguns participantes apontam que esta crise exige respostas rápidas da administração pública para resolver os problemas imediatos de liquidez das empresas, lamentando que algumas das iniciativas governamentais, como o recurso ao crédito, estejam a registar dificuldades burocráticas e de planeamento.
As empresas apontam como medidas mais importantes no apoio à liquidez o regime de lay-off simplificado ou a moratória de rendas.
Pode ler-se no relatório que «o turismo precisará de um plano de recuperação específico. Pois juntamente com o setor do retalho, é o setor mais afetado e, revelou-se nos últimos anos, um setor essencial para a economia ibérica».
«O plano estratégico a ser executado para a abertura das instalações requer o estabelecimento de um calendário específico, bem como a definição de condições de higiene e segurança, que podem agora ser certificadas pelo Turismo de Portugal», refere o relatório. «Uma vez retomado um certo nível de atividade, será necessário contemplar o desenvolvimento de um novo modelo turístico em Portugal que possa melhorar a competitividade das empresas por meio da melhoria de estratégias digitais, através da promoção das conexões ferroviárias e desenvolvimento de planos de reposicionamento de produtos em determinados destinos, onde a procura começava já a mostrar sinais de alguma fadiga».
Apetite do capital mantem-se
Agora, as operações hoteleiras devem ser repensadas, tendo em conta os novos possíveis cenários, «com o objetivo de apresentar projetos com o máximo de garantias para os acionistas, proprietários e gerentes».
Uma coisa parece ser certa: mantém-se o apetite e a liquidez dos investidores, que aguardam «menor incerteza operacional, que assegure maior certeza na reabertura dos negócios». Tudo dependerá do tipo de destino.
Portugal parece continuar a ser considerado como destino prioritário para festa. «A sua capacidade de oferecer segurança e confiança é superior à dos países tradicionalmente concorrentes no norte de África».
Os participantes alertaram para a necessidade de «ativar uma ambiciosa campanha de marketing para reforçar a imagem externa do país, a qual já começou a ser criada com o selo Clean & Safe do Turismo de Portugal».
Recuperação: não antes da próxima primavera
Os participantes neste estudo consideram que a recuperação em pleno do setor não deverá acontecer antes da Páscoa de 2021, o que está muito dependente da retoma das rotas aéreas. Soluções de gestão mais criativas terão de ser desenhadas.
Os hotéis urbanos podem beneficiar de melhores timings de recuperação se aproveitarem a procura nacional aquando das reaberturas. O turismo rural é também outra oportunidade, e pode recuperar mais rapidamente que os restantes, por envolverem menor concentração de pessoas.
Mas os especialistas concordam que ainda é cedo para perceber as consequências que o vírus pode ter nos hábitos de consumo dos turistas. Mas há um consenso de que a política de preços será fundamental para a retoma da procura a curto e médio prazo. «A partir da gestão de receitas, devem ser oferecidas soluções criativas e eficientes para que essa política de preços seja atrativa para potenciais clientes e lucrativa também para a unidade hoteleira», pode ler-se no relatório.
O serviço de F&B será também fundamental, apesar de ser talvez o mais afetado pela nova situação. «Algumas empresas hoteleiras poderão considerar uma reativação apenas oferecendo serviços de alojamento. Noutros casos, poder-se-á promover o serviço de quarto, garantindo assim a distância física necessária».