Esta é a previsão que a Associação da Hotelaria de Portugal faz para o fecho do ano, com base nos vários inquéritos aos associados que foi fazendo ao longo deste ano no decorrer da pandemia. Só no primeiro semestre, as contas apontam para uma perda de receitas de cerca de 70%, e para uma descida acumulada de cerca de 64%, com mais de metade dos hoteleiros a apontar quebras da ocupação entre 60% e 90%. Vale a pena recordar que a hotelaria pesava no ano passado 24% do total das receitas turísticas do país.
A perda estimada do número de noites é ligeiramente interior, entre 60% a 80%, num total de até 46 milhões de noites perdidas, face ao ano passado.
Com base na IV fase do inquérito à hotelaria feito pela AHP no âmbito da pandemia, fechado a 15 de outubro, 25% da oferta hoteleira nacional estava encerrada no mês de setembro. Mas esta percentagem deverá aumentar muito nos próximos meses, pois «as expetativas vão-se frustrando e vão sendo influenciadas pelas novas medidas». De acordo com Cristina Siza Vieira, CEO da AHP, «muitos hotéis de Lisboa, nomeadamente os mais dependentes de eventos, não vão abrir até ao final do ano».
No entanto, não se prevê uma “maré” de falências: «estamos a falar de grandes negócios, não de empresários em nome individual, e o grau de autonomia financeira dos hotéis aumentou muito nos últimos anos, apesar de a última crise ter sido há pouco tempo. Tudo vai depender deste grau de autonomia. Muitos poderão fechar, reabrindo novamente, o negócio pode ficar “on hold”», diz a responsável, que garante que, para já, «não se fala de falências». Mas garante que os hotéis «estão a fazer as contas».
As perspetivas até dezembro não são animadoras, e mostram que «o ano está mesmo perdido», diz Cristina Siza Vieira. A taxa de ocupação esperada (que tem em conta toda a oferta existente, e não só os hotéis que estão abertos à data do inquérito) não vai além dos 11% na Área Metropolitana de Lisboa, dos 9% nos Açores ou dos 15% no Algarve. O Alentejo e o Norte registam previsões um pouco mais animadoras, de 19% e 23%.
Parece ser certo que as reservas com reembolso vieram para ficar. 60% dos inquiridos afirmou ter reservas até ao final do ano 90% a 100% reembolsáveis. Cristina Siza Vieira destaca que «esta é a maior alteração de paradigma de todas».
Verão deu “balão de oxigénio” e animou perspetivas
Os meses de verão acabaram por ser mais positivos do que o esperado na última fase do inquérito, feita em maio.
Sem surpresa, agosto foi o melhor mês do período, e o Alentejo foi a região que mais se destacou, com uma taxa de ocupação de 71% nesse mês.
Já a Área Metropolitana de Lisboa destaca-se pela negativa, com uma das maiores quebras da ocupação, passando dos 90% no verão de 2019 para menos de 25% este ano.
O Algarve passou de uma ocupação semelhante para 40%, e mesmo o Alentejo registou uma descida de 20%.
Quanto aos preços, a quebra foi inferior à da taxa de ocupação, e Cristina Siza Vieira garante que «não houve saldos», apesar de os preços terem descido face ao ano passado. O Alentejo e o Algarve registaram preços médios acima dos 100 euros, enquanto que Lisboa se fixou nos 70 euros (quase metade do ano passado), o Norte nos 90 e o centro nos 68 euros.
O principal mercado de todas as regiões no verão foi o nacional. Espanha foi o segundo mais importante para a maioria das regiões, seguida pelos Países Baixos ou pela França. O Reino Unido não chegou a ser o terceiro principal mercado do Algarve, conseguiu apenas na Madeira.
Recursos humanos são a principal preocupação
A gestão dos recursos humanos é uma das principais preocupações dos hoteleiros. 51% afirma neste inquérito que não vai despedir nos próximos meses, mas 45% pretende reduzir o pessoal. 1% está a negociar o despedimento coletivo.
Uma das principais medidas que consideram que seriam essenciais nos próximos meses é o prolongamento do lay-off simplificado, a par da criação de novas linhas de apoio a fundo perdido ou não. «São, no fundo, soluções de apoio à tesouraria», resume Cristina Siza Vieira.
98% consideram que são necessárias mais medidas extraordinárias para o setor.
O maior constrangimento à atividade para a maior parte dos hoteleiros são as restrições ao tráfego aéreo, seguidas pelo medo de viajar, pela não retoma do segmento MICE ou da falta de apoios financeiros.
2019? Só em 2023
A maior parte dos associados inquiridos pela AHP não está confiante na retoma breve do turismo, com 60% a afirmar que o regresso a uma atividade equivalente a 2019 não acontecerá em breve.
A maioria considera mesmo que a retoma só virá em 2022 ou no segundo semestre de 2023 (27% neste último caso).
«Este poderá ser o maior esforço coletivo de sempre» para o turismo (e não só). Cristina Siza Vieira acredita que «independentemente da vacina, tudo aponta para uma retoma só em 2023».