Esta foi a opinião partilhada por vários profissionais do setor participantes do webinar “Desafios e Oportunidades”, organizado esta semana pelo SIL e pela Tektónica, que se realizam pela primeira vez em simultâneo em outubro próximo.
Durante a ocasião, Luís Gamboa, da VIC Properties, referiu que é certo que «estas crises afetam as classes médias e baixas, mais do que o mercado de luxo». Acredita que este último manterá os seus preços, e que os restantes segmentos registem «algum ajustamento, mais nas periferias do que nas cidades, mas não antecipo uma quebra generalizada dos preços no imobiliário». Tudo dependerá da duração da crise.
Pascal Gonçalves, do grupo Libertas, também está convicto de que «há muito pouca oferta de habitação nova, e por isso não antevemos um ajuste significativo. Dependendo da crise económica, o primeiro reflexo de descida será no mercado dos usados, que é normalmente mais acessível».
Crise vai obrigar a repensar os espaços
«Esta pode ser uma oportunidade para repensar a organização dos espaços da habitação», acredita Nuno Malheiro, do Focus Group.
Existe flexibilidade para mudar a tipologia das habitações, que podem ter mais espaços de trabalho (se o teletrabalho continuar a ser uma constante na vida das empresas), mais divisões para maior privacidade, aumentar o espaço social, ou áreas exteriores, como varandas e outros espaços verdes.
E este responsável acredita que mais pessoas poderão procurar morar fora dos centros urbanos, com uma maior possibilidade de trabalhar a partir de casa. Isto vai levar a uma procura por tipologias superiores.
E também os escritórios vão sofrer alterações, não estruturais, mas de uso: «o edifício em si não tem tendência para mudar, mas sim a organização do espaço de trabalho de cada uma das empresas. Com esta experiência do teletrabalho, muitas perceberam que o sistema até funciona bem, e podem reduzir o número de pessoas que estão no escritório. Não necessitaremos nem mais nem menos área, mas sim menos pessoas. Isso significa mais teletrabalho», completa Nuno Malheiro.
Elisabetta Trezzani, da Renzo Piano Building Workshop, está convicta de que a arquitetura vai «trabalhar mais na qualidade e sustentabilidade dos espaços interiores e exteriores». E garante que «nem tudo tem de ser um custo extra, tudo depende do projeto».
E o setor dos materiais tenciona adaptar-se a estas novas exigências. Ricardo Mota, da Margres, afirma que «se o mercado da construção se alterar, nós também teremos de responder da melhor forma. Se as áreas mudarem, isso pode refletir-se também nos produtos».
José Ávila e Sousa, da Preceram concorda, e garante que a marca já trabalha «numa série de produtos e soluções sustentáveis», que se podem adaptar às novas realidades.
Boa gestão da pandemia coloca país na “pole position”
A gestão que Portugal tem feito da pandemia de Covid-19 tem sido bem vista a nível internacional, e o destino continua a ser visto como um dos mais seguros do mundo. Isto vai ajudar no momento da retoma, acreditam estes especialistas.
Pascal Gonçalves destaca que «Portugal está a transmitir uma imagem de união e de solidariedade, tem sido um exemplo de civismo. Somos um dos países mais seguros, e isso será reforçado. Portugal pode mesmo ser destino para começar uma nova vida».
Luís Gamboa considera que esta confiança «coloca-nos na “pole position” para um arranque mais rápido nos próximos tempos».