AHP: turismo interno poderá ser balão de oxigénio do verão

AHP: turismo interno poderá ser balão de oxigénio do verão

Falando à Vida Imobiliária no Conversas Diárias – Especial Covid-19, a líder da associação acredita que se vive «um tempo negro em que a proximidade entre o imobiliário e a hotelaria é posta à prova. O setor do turismo em geral e a economia em particular sofrem muitíssimo nesta altura».

De acordo com o último inquérito feito pela AHP junto dos seus associados, e com 90% das unidades atualmente encerradas, além de 94% das empresas em lay off (4% vai fechar até junho), a estimativa é de uma perda até 13,1 milhões de dormidas entre março e junho, o que vai gerar uma perda de receitas até 1.800 milhões de euros para a hotelaria. Em consequência, o INE prevê uma quebra de 3% no PIB.

No verão, poderemos ver «um tempo de turismo interno nomeadamente porque o transporte aéreo está todo em terra, e não podemos agora contar com esse apoio. Isso significa que teremos de virar-nos mais para o mercado interno alargado, nomeadamente Espanha e Portugal, esses poderão ser um balão de oxigénio».

Para isso, será preciso algum «músculo económico nas famílias», mas ainda assim, Cristina Siza Vieira admite que «as perspetivas não são muito luminosas. Temos instabilidade sanitária, não sabemos como é que as fronteiras vão estar». Será necessária «muita imaginação, campanhas, ligação entre público e privado para captarmos este mercado alargado».

Quanto às medidas de apoio implementadas pelo Governo, a AHP considera que estão a ser «ajustadas» nesta fase. Segundo o mesmo inquérito fechado no início de abril, 94% das empresas estão a recorrer ao lay off simplificado. As linhas de apoio estão a ser procuradas, e destaca pela positiva a flexibilização da linha para os empreendimentos turísticos. Já a banca «está totalmente disponível e a operar bem, está interessada». Alerta, no entanto, para a necessidade de celeridade dos apoios prestados pela segurança social.

 

TAP vai ser “vital para a retoma do turismo”

Cristina Siza Vieira acredita que «vai ser vital para a retoma do turismo continuar a ter a TAP», e é com «preocupação que se olha para a situação atual e para a necessidade absoluta de ajudas de Estado». E avisa que «isto será assim em toda a Europa, senão em todo o mundo».

«Todas as companhias aéreas estão neste momento em dificuldade máxima, com a paragem do negócio aéreo, e não há expetativas que possa ser retomada a breve trecho. A TAP em particular já sabemos que é uma companhia vital, abriu o país a uma série de mercados, como o Brasil ou os EUA. É fundamental para o turismo nacional», afirma.

A responsável considera também que o facto de Portugal estar a controlar a pandemia e a ter «uma resposta ajustada do SNS», acompanhada por «uma boa imagem política e gestão e organização» pode ter um «efeito tranquilizador. Projeta uma imagem de controlo e organização externa». E acredita que o trabalho feito na captação dos mercados internacionais «em devida hora» voltará a ter retorno.

 

“Mixed Use”: tempo de reflexão para a hotelaria

Cristina Siza Vieira acredita que com a crise chega «um tempo de reflexão para a própria hotelaria», nomeadamente no que diz respeito aos usos mistos dos ativos: «O mixed use terá de ser agilizado nos hotéis».

A reflexão surge numa altura em que muitos alojamentos locais estão a ser convertidos para o arrendamento de longa duração, adaptando-se à paragem da procura. E não são boas notícias para a hotelaria, «porque é sinal que não é negócio para ninguém», apesar de que «trazer o arrendamento para as cidades é necessário, e disso não há dúvida», considera.

De acordo com a responsável, «temos de refletir sobre novos modelos de negócio» na hotelaria. E arrisca mesmo dizer que «vários hotéis que estavam em pipeline, e não sabemos quando vão abrir, têm modelos que me parecem talvez um pouco rígidos».

«Não sabemos quanto tempo vai demorar a recuperação do turismo tal como o conhecemos. A europa tem de estar muito unida, porque é o continente que mais depende do turismo. Temos de recuperar este pilar da economia europeia e da paz entre os povos», conclui a responsável.