«Ou pensamos já nas grandes tendências, ou quando quisermos alterar o cenário vamos pensar que devíamos ter pensado nelas há 20 anos», notou este responsável durante a última Executive Breakfast Session organizada pela APPII em Lisboa. Por isso mesmo, a CCDR vai «lançar um conjunto de Conferências 2050», que se propõem a debater estes mesmos grandes temas em conjunto com várias universidades do país.
João Teixeira exemplifica que «a ampliação do Porto de Roterdão começou a ser pensada há 30 anos» e, em Portugal, «nada se fez em relação às previsões demográficas que vemos hoje», que incluem um maior envelhecimento da população (logo, maior necessidade de residências sénior) ou um maior fracionamento das famílias, que procuram casas de tipologia interior, por exemplo.
Seguindo esta linha de pensamento, durante este encontro de profissionais, José Araújo, associado da APPII e diretor da Direção de Negócio Imobiliário do Millennium bcp, um dos Parceiros Principais da associação, partilhou que «continua a faltar em Portugal o desígnio das grandes obras, sejam novos hospitais, novas áreas universitárias, etc, projetos aos quais os privados se pudessem associar e que pudessem projetar o país em determinado setor». O presidente da CCDR acredita que «isto decorre desta tendência de não pensarmos a longo prazo, estas grandes obras devem ser pensadas com tempo e têm de ser tomadas decisões da sociedade, e não só decisões de Governo».
Esta sessão foi também uma oportunidade de o setor partilhar com a CCDR algumas das suas principais questões atuais, como sejam o tema da classificação do alojamento local, que é demasiado abrangente, de acordo com o vice presidente da APPII, José Almeida Guerra: «são aprovados alojamentos locais de 120 quartos. A classificação de usos é confusa nas câmaras».
Considera que o mesmo problema se aplica às residências sénior, por exemplo, onde muitas vezes é difícil perceber se o projeto se inclui na classificação de saúde ou apenas na habitação, «há que clarificar estas coisas e transmiti-las a todos os PDMs, o assunto é urgente».
Questão recorrente para os promotores é o tema dos licenciamentos e consultas nas autarquias: «as câmaras vão funcionando um pouco melhor, mas a consulta a todas as entidades competentes demora muito tempo. A CCDR poderia ajudar a promover que as câmaras tivessem uma mesa redonda com todos os presentes». João Teixeira considera que «é difícil transformar mentalidades, os técnicos estão sujeitos a uma legislação muito pouco flexível». Além de que «o sistema atual é altamente garantístico, mas todas as alterações demoram muito tempo, é o pior de dois mundos». Mas concorda que «as coisas têm vindo a melhorar no geral das autarquias, mas não com a velocidade desejada».
José Almeida Guerra partilhou ainda o facto de legislações como o RJEU estarem «desfasadas da realidade. Têm de se ajustar à economia, à demografia e sociologia».