O nosso país pode continuar a ser um “porto seguro” num mundo que atravessa um momento especialmente instável. Francisco Horta e Costa, diretor geral da CBRE, dava esta perspetiva otimista do mercado durante a apresentação do novo relatório da CBRE “Tendências do Mercado Imobiliário”, uma conferência organizada em parceria com o jornal Expresso. Para o responsável, «apesar de algum alarme» com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, «o cenário é otimista para o imobiliário, mantenha-se tudo o mais estável possível».
A consultora prevê que o investimento na reabilitação urbana para habitação (rendimento) abrande um pouco, nomeadamente devido à falta do tipo de produto que tem vindo a ser colocado no mercado (localizações prime, segmento premium), pois grande parte da oferta em determinadas zonas do centro das cidades já foi transacionada. Em compensação, é esperada nova construção este ano, também em Lisboa, onde escasseia oferta sobretudo para o segmento médio e para o público português, nomeadamente primeira habitação.
Ainda na área residencial é esperado um aumento do número de transações (de compra e venda), a chegar às 150.000, mais 30.000 que em 2016, pelas contas da consultora. Novos projetos de construção nova, vocacionada para 1ª habitação e não para rendimento, deverão arrancar já este ano, pois a procura assim o parece ditar.
A área de escritórios e logística tem talvez a falta de oferta mais evidente do mercado, e qualquer promoção nova nesta área é vista pela CBRE e pelos agentes do mercado como uma boa oportunidade. Com grandes empresas (como o BNP Paribas, já instalado no nosso país) “à porta” em busca de grandes espaços de escritórios de qualidade, ou mesmo distribuidores como a espanhola Mercadona, que agora entra no nosso país, a precisar de infraestruturas logísticas adequadas, a construção especulativa mostra-se imperativa. Neste momento, não é possível corresponder às necessidades de muitosdos interessados, que requerem edifícios recentes e grandes áreas.
Por outro lado, as rendas deverão subir, o que é mais um fator a jogar a favor da promoção, pois permite “fechar a conta” de forma mais confortável do lado dos promotores.
Segundo a CBRE, começa a haver algum financiamento para promoção, ou mesmo alternativas à banca, como seguradoras.
Turismo tem impacto transversal
Quer seja no mercado habitacional, no retalho, no investimento ou na reabilitação urbana (além da própria hotelaria), o denominador comum parece ser o turismo, que tem dado um forte ânimo a estes segmentos do mercado.
Por um lado, segundo o departamento de Research da CBRE, transitam para 2017 um total de 900 milhões de euros em transações de investimento comercial, a concluir, ao que tudo indica, no 1º trimestre deste ano, e só a CBRE está envolvida num volume de negócios de cerca de 400 milhões de euros, entre «um grande portfólio de escritórios, retail parks ou centros comerciais».
É esperado um crescimento das rendas no comércio de rua (nas localizações prime e adjacentes) e mesmo nos centros comerciais, que apesar de fazerem parte de um mercado bastante maduro, «não estão parados» e apostam na diversificação, ampliações ou reconversão de espaços e integração de novo mix comercial, também tendo em conta os novos visitantes: os turistas.
Já na hotelaria, segundo a participada da CBRE, a Neoturis, a boa performance do turismo já bem conhecida tem ajudado os hoteleiros a melhorar as suas rentabilidades, e agora espera-se a entrada de várias novas marcas no país, que têm exercido grande pressão na oferta disponível, entre os quais a W, que vai abrir hotel no Algarve, uma nova marca do portfólio da SOCIMI espanhola Merlin, no Parque das Nações, ou mesmo a Hilton ou a InterContinental, que procuram oportunidade para abrir unidades no nosso país.
Subida das taxas de juro pode desafiar o imobiliário em 2017
Pedro Santos Guerreiro, diretor do Expresso, traçou o contexto económico português presente e o que poderá acontecer nos próximos meses, tendo em conta alguns fatores como a política do país, o crescimento económico ou a dívida pública. Segundo o mesmo, «todos os fatores apontam para uma pressão de subida das taxas de juro», o que poderá acontecer «provavelmente em 2018 ou ainda em 2017», e que terá impacto no imobiliário, «muito sensível à taxa de juro».
Para o responsável, «o que fazemos aqui dentro (do país) é necessário mas não é suficiente para garantir estabilidade e financiamento, pois estamos dependentes de muito do que acontece a nível global», e «a possibilidade de Donald Trump nos causar danos é gigante», acredita, o que se soma a uma Europa com eleições já este ano, e com um Brexit em processo, por exemplo. A nível da perceção exterior do país, avançou que «as agências de rating querem saber de 2 fatores essenciais, que são a solidez dos bancos e do Governo».