Os centros comerciais, tal como os conhecemos nos últimos 30 anos, vão acabar. Esta é uma das principais conclusões do estudo “Fim dos centros comerciais, ou início de uma nova geração?”, esta semana divulgado pela CBRE. A análise baseia-se no fenómeno de encerramento de vários centros comerciais nos EUA, um mercado, contudo, muito diferente do europeu e do português. A consultora não acredita que o mesmo aconteça no nosso país, pelo contrário.
No ano passado, as vendas nos centros comerciais portugueses registaram uma subida de 8,4%, enquanto que o número de visitantes aumentou 0,5% depois de 3 anos de quebras. E o mercado de investimento neste segmento de ativos nunca esteve tão ativo: só no 1º trimestre deste ano foram transacionados 4 centros comerciais, num valor acumulado de 673 milhões de euros. Estão atualmente em comercialização outros 10 centros, o que faz a consultora antever um novo recorde de investimento em centros comerciais no fecho de 2018.
Mas, para ter sucesso, os centros comerciais portugueses terão de se adaptar a um novo estilo de vida, sobretudo devido a questões como o comércio eletrónico ou mudanças radicais de mentalidades. Apenas os que se conseguirem adaptar sobreviverão neste “novo” mercado.
Cristina Arouca, diretora do departamento de Research da CBRE, explica que «as caraterísticas e a situação do comércio nos Estados Unidos são bastante diferentes daquelas verificadas no nosso país, já que o grau do excesso de oferta, da obsolescência do stock e da penetração do comércio online em Portugal é muito menor do que nos Estados Unidos. Contudo, haverá desafios».
«Não há dúvida de que o comércio eletrónico é uma força disruptiva que obriga a mudar o chip para manter a competitividade», continua. «A internet torna extremamente conveniente a compra a partir de casa ou do local de trabalho e vai ser cada vez mais difícil convencer os consumidores a deslocarem-se aos centros comerciais. A este respeito, a digitalização a experiência de compra e no centro e os serviços de conveniência são chave para o futuro do setor».
A análise de Big Data será muito importante para que os retalhistas conheçam melhor os seus clientes, bem como a implementação de novas estratégias de marketing mais personalizadas. Incorporar a compra online nos centros deverá ainda facilitar o desenvolvimento de estratégias omnicanal e fortalecer o serviço ao cliente.
Destaque ainda para a incorporação crescente de oferta não retalho nos centros comerciais, que vão além do lazer ou da restauração. Os centros incorporam cada vez mais um leque de equipamentos de conveniência como serviços de saúde, serviços públicos ou espaços de coworking.
Cristina Arouca completa que «os centros comerciais continuam a ser um importante pilar da nossa sociedade e local de convergência, apesar dos desafios. Não é por acaso que operadores pure play como a Zalando e a Amazon estabeleceram-se com lojas físicas para melhorar o serviço que prestam aos seus clientes. O setor está a responder de forma positiva, comunicando de maneira muito mais personalizada e usando os dados disponíveis para responder às expetativas dos consumidores. Para vingar num mundo cada vez mais digitalizado, os centros comerciais devem aumentar a capacidade de atrair consumidores, proporcionando uma experiência cada vez mais integrada».