«No mundo digital já não precisamos de ter milhões para investir»

«No mundo digital já não precisamos de ter milhões para investir»

Este foi apenas um dos vários exemplos apresentados por Ricardo Luz, empresário, business-angel e fundador da Gestluz que, conjuntamente com Lionel Hill, Chief Digital & Technology EMEA da CBRE, subiu a palco no último Almoço-Conferência Vida Imobiliária. O evento, que decorreu no hotel Intercontinental Lisboa no passado dia 5 de julho, reuniu na plateia uma centena de profissionais, que não quiseram perder esta oportunidade para saber mais sobre o «Proptech – A Inovação Tecnológica no Imobiliário».

Lembrando que «a tecnologia é fortemente disruptiva para a forma como se montam e fecham negócios imobiliários em todo mundo», Lionel Hill alertou os presentes: «a transformação digital é algo que já está a acontecer e vai revolucionar profundamente o mundo imobiliário».

Uma enorme mudança que está a trazer novos players para o mercado, e para a qual os profissionais se devem preparar, abrindo os seus horizontes, acrescentou Ricardo Luz. «Não vale a pena fecharmo-nos na nossa bolha, assumindo que somos especialistas no setor e que, por isso, não seremos afetados por esta vaga da tecnologia. Isso sim, será um grande erro», considera o empresário português.

Até porque, lembrou Lionel Hill, «é curiosa a forma como as coisas têm acontecido nos últimos cinco anos. Nessa altura, ninguém parecia realmente preocupado nas questões relacionadas com o Proptech, mas num espaço curto de tempo este tornou-se um debate incontornável para o futuro do setor». Primeira lição a ser retirada: na era digital, os acontecimentos sucedem-se a um ritmo mais rápido que nunca.

 

As várias faces da mudança

«A revolução que aconteceu noutros setores, dos media às finanças, do setor automóvel a retalho, e que no espaço de poucos anos fez com que alguns negócios consolidados tivessem de repensar totalmente o seu modelo, sob pena de extinção; também está a chegar ao imobiliário. Ela está a acontecer neste preciso momento, e tudo isso vai impactar diretamente nos valores líquidos do mercado», afirma Lionel Hill.

Por isso mesmo, disse o especialista da CBRE, «é preciso estarmos atentos às várias tendências que estão a emergir em todos os subsetores imobiliários, do marketing aos escritórios», enumerando de seguida alguns exemplos. «No mercado de escritórios, os ocupantes estão cada vez mais focados nos serviços agregados e de valor acrescentado, nomeadamente ao nível da gestão das suas instalações; e isso é algo a ter em conta pelos arquitetos, promotores e proprietários de imóveis». A mudança é também evidente na forma como se comercializam os imóveis e como se projetam instalações, «estando ao dispor do setor várias ferramentas interativas que permitem, à distância de um clique, criar ambientes 3D muito completos, oque tem implicações muito vantajosas o nível da promoção e do cálculo de custos».

Atenta a tudo isto, a CBRE tem investido também nesta área, adquirindo soluções como o Floored. Uma ferramenta online de floor planning e fit out, «que foi a primeira empresa Proptech a ser adquirida pelo grupo, democratizando uma tecnologia que há apenas meia dúzia de anos era não só muito rudimentar como também muito dispendiosa e que, como tal, não estava ao acesso de todos. Simultaneamente, o grupo tem também desenvolvido parcerias com outras empresas do setor tecnológico, abrindo novas oportunidades aos seus clientes, dando como exemplo o Stowaga. «Trata-se de uma plataforma que permite arrendar por curtos períodos espaço logístico, funcionando como uma espécie de airbnb do mercado industrial». Novidades que, pelo menos para este especialista, são geradoras de «um grande entusiasmo».

 

Ser “especialista” já não basta

«Pessoas que não têm nada a ver com o mercado imobiliário estão a criar tecnologia, e têm muito know-how de como funcionam as coisas no mundo imobiliário. A tecnologia está a mudar cada vez mais rápido, a aumentar e a tornar-se disruptiva em muitos modelos de negócio – imobiliário incluído. E, como tal já não existe aquele conceito do “este é o nosso mercado”», afirmou Ricardo Luz.

Economia da partilha, o acesso ao capital e a melhoria dos processos de negócio são algumas das áreas onde o impacto do Propetch mais se faz sentir. «No mundo em que nós vivemos, as pessoas não aceitam o vazio» e, além disso, «a nova geração não tem o mesmo conceito de propriedade do das gerações anteriores» diz o fundador da Gestluz, advogando que estas são algumas das razões que têm impulsionado a criação de modelos de plataformas como o Airbnb. O acesso ao capital também se está a expandir graças ao proptech. «Com as ferramentas certas, posso ter um projeto para desenvolver em Singapura, por exemplo e, a partir daí atrair investidores oriundos dos quatro cantos do mundo». Sem falar, das oportunidades que se abrem com as plataformas de financiamento coletivo, ou crowdfunding, graças às quais é deixou de ser necessário ter milhões para investir em grandes projetos. Além disso, explicou ainda Ricardo Luz, «há muitas tecnologias que podem ser usadas para melhorar os processos de negócio, começando desde logo pela realidade aumentada».

É preciso também não esquecer que «algumas das novas tecnologias são tão disruptivas que podem vir a aniquiliar negócios existentes, e isso é algo que não pode ser menosprezado». Um exemplo, é o da Open Door, uma startup norte-americana que desenvolver um algoritmo que identifica zonas subavaliadas em algumas cidades a americanas, comprando aí de seguida edifícios inteiros, que depois melhora e volta a revender.

Novidades que, a seu ver, não devem ser encaradas como más notícias, até porque trazem também oportunidades. Sem esquecer que «quem está no mercado tem um trunfo essencial: o conhecimento do cliente! E quem tem esse conhecimento tem em sua posse um ativo que nenhuma destas startups tem!».