Na totalidade dos centros, no ano passado a Mundicenter registou um aumento do tráfego na ordem dos 2,5%, e de 5% em termos de vendas, o que mostra que continua a tendência de aumento dos gastos e do consumo por cada cliente.
Fernando Oliveira, administrador da Mundicenter, explica em entrevista à VI que «esta tendência vem já de anos anteriores, em que as vendas crescem mais que o tráfego, apesar de Portugal ter tido a maior quebra das vendas de retalho em maio, por exemplo. Mas há que ter em conta que as condições climatéricas podem ter uma grande influência na venda de vestuário, por exemplo», explica.
O centro comercial das Amoreiras foi o que teve as novidades mais significativas no último ano, nomeadamente a renovação da área de restauração e a abertura do novo miradouro panorâmico sobre a cidade. A Mundicenter investiu cerca de 1 milhão de euros neste último. Segundo o responsável, «ainda estamos a colher os frutos» destes investimentos», mas o balanço é positivo.
No caso do elevador panorâmico, «já realizámos várias atividades, como eventos de ginástica ou meditação, uma corrida, eventos de empresas, etc. Desde a abertura até julho já registamos a passagem de cerca de 15.500 pessoas, 70% nacionais e 30% estrangeiros», sendo que o número de visitantes estrangeiros deverá aumentar durante o verão. «Queremos que o elevador se vá colocando nos circuitos turísticos, é algo que vai crescendo e é claramente um fator de valor acrescentado para Lisboa, acho que é um bom contributo para a cidade enquanto atrativo turístico». E completa que «é difícil saber quando é que o investimento será rentabilizado porque há valor acrescentado paralelo à utilização do miradouro e é difícil contabilizar. Mas o nosso objetivo é a complementaridade que tem ao centro comercial das Amoreiras, enquanto ponto de interesse de visita ao centro comercial».
Já a renovação da restauração do centro «está claramente a dar frutos. Estamos com um crescimento de 20% em acumulado, em termos de vendas, em situações comparáveis, já com a restauração aberta, e sentimos que as pessoas estão contentes com a alteração», explica Fernando Oliveira. Nota ainda que «a obra está concluída, todos os espaços estão ocupados, à exceção de 2 que se encontram em renovação».
Este responsável destacou ainda a atividade do Strada Outlet, que «tem continuado a consolidar-se enquanto outlet, e continua a ter um bom desempenho de vendas e tráfego com crescimentos de 2 dígitos». Já em Braga, no Braga Parque, «já começamos a re-arrumar o espaço, criando novas áreas para acomodar outras insígnias relevantes. Isto será feito em 2 fases, a segunda vai decorrer a partir do final deste ano e durante o início de 2017».
Impacto do turismo
Apesar de ser difícil medir o impacto do turismo nas vendas dos centros, é indiscutível o impacto crescente que tem tido nos centros comerciais da Mundicenter, com o tráfego a crescer a par com os anos anteriores.
E o turismo faz-se sentir essencialmente nas Amoreiras, «que está nas imediações de vários hotéis de 5 estrelas, e assim tem algum peso significativo. Tem algum peso no Strada também mas não é ainda relevante. Já em Braga, destaque para o turismo da Galiza».
Em termos gerais, os turistas chineses são os que mais pesam, seguidos pelos angolanos, brasileiros, franceses e espanhóis.
Apoios ao lojistas começam a diminuir
Com o instalar da crise, também a Mundicenter teve de dar «algum apoio» aos lojistas dos seus centros, «nomeadamente descontos nas remunerações mínimas, o que tem vindo a diminuir de forma acelerada na grande parte dos centros», explica Fernando Oliveira. «Alguns já não têm estes descontos, mas claro que alguns lojistas ainda não estão no seu pleno. Ainda damos algum apoio, mas este tem vindo a diminuir significativamente».
Pela positiva, nota que «já estamos a cobrar direitos de ingresso em alguns casos, o que já não acontecia. Não é generalizado, mas já começa a existir. Nomeadamente nas Amoreiras, em Oeiras ou em Braga, os centros que estão melhor colocados». Já os contratos mantiveram-se na base dos 6 anos, apesar de «situações pontuais em que se prolongavam não por 6 mas por mais 1 ou 2 anos, para ver como corria, mas continua a ser regra nos nossos centros».
Tendências para ficar
Com a crise, «houve alterações em termos de consumo que vão ficar, como por exemplo aproveitar as oportunidades, os preços, a procura de promoções, saldos contínuos, os consumidores continuam muito focados em aproveitar esse tipo de oportunidades». Fernando Oliveira acredita que «o preço passou a estar muito presente, penso que isso vai continuar. As próprias marcas continuam a fazer as promoções, entraram nesta espiral de redução de preços que é muito difícil de sair dela. O mercado é que está a funcionar assim, não é só uma insígnia ou duas. É complicado alterar esse funcionamento de mercado».
Onde mais se assistiu a uma alteração de hábitos, «que reflete a melhoria que as pessoas sentiram depois de 2014 e 2015», foi na restauração, «um setor que tem um desempenho superior aos restantes setores, independente do IVA. O que é certo, é que a restauração nos nossos centros registou uma alteração de comportamento. No acentuar da crise notou-se diferença na quantidade e no que consumiam ou deixaram de ir, e agora estão a regressar. As pessoas começaram a comer mais fora de casa outra vez. No restante, penso que se mantém muito a atenção no valor do dinheiro».
Por outro lado, «as grandes marcas continuam a ser as grandes marcas mesmo depois da crise. Algumas vão surgindo para determinados nichos de mercado, mas nota-se muito mais na restauração por exemplo, do que no vestuário. A grande parte de lojas que têm aberto com novos conceitos a nível nacional é mesmo a área da restauração. A dinâmica é muito grande, penso que também é relativamente mais fácil do que estar a criar um conceito de vestuário, pela cadeia logística que envolve».
A atividade corre bem, «temos os centros comercializados praticamente a 100%, o que revela uma certa estabilidade em termos de mercado», mas Fernando Oliveira salienta que «não encontramos um único indicador económico em Portugal que tenha uma evolução positiva, e essa é a nossa preocupação. Isto mantém-nos na incerteza que vivíamos nos últimos tempos. No imediato, as coisas estão a desenvolver-se razoavelmente, mas há uma certa inércia. No futuro, vamos aguardar, e aguardar a discussão de orçamento para 2017 e o que é que isso significa para as pessoas», e realça ainda que «neste momento estamos com níveis de poupança dos mais baixos em termos históricos. E portanto não há grande flexibilidade para ajustamentos se houver mais restrições». «Da nossa parte, vamos continuar a trabalhar para termos a melhor oferta possível nas melhores condições possíveis para quem nos visita e quem quer comprar nos nossos centros», conclui.