O estudo foi ontem apresentado em Lisboa, e de acordo com o mesmo, «Lisboa vai continuar a atrair muitas das intenções de investimento em 2017», notou Peter Walker, vice presidente de Comunicação Estratégica da ULI. O ranking tem Berlim, Hamburgo e Frankfurt no top 3, seguidas por Dublin, Munique e Copenhaga, em 6º lugar. Lisboa é seguida por Estocolmo, Madrid e Lyon, que encerra o top 10, ao passo que Paris e Londres ocupam agora o 17º e 27º lugar, respetivamente.
O responsável acredita que a palavra que melhor pode descrever o estado do mercado em 2017 é «incerteza». Seguro de que este é um importante guia para o mercado, admite que «este relatório levantou mais questões do que aquelas a que respondeu». Um pouco à semelhança deste ano, as incertezas geopolíticas na Europa estão muito presentes na tomada de decisão dos investidores, às quais agora se somam o Brexit, votado em junho, e agora a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. No próximo ano, algumas das principais preocupações prendem-se com as eleições em França e na Alemanha, que podem trazer mudanças políticas significativas para a Europa.
O estudo indica que, a nível europeu, 92% dos inquiridos acredita numa descida do investimento no Reino Unido, e 48% acredita que o investimento imobiliário vai subir na Europa, por consequência direta do Brexit. 89% anseia por estabilidade política no velho continente, mas apesar de todas as variáveis, «os investidores continuam a ver valor no investimento imobiliário». E os setores que mais investimento e interesse deverão atrair em 2017 são, por ordem, a saúde, residências da 3ª idade, residências de estudantes e habitação.
Em Lisboa, as yields são significativamente mais altas do que em vários mercados tradicionais europeus, e «os investidores olham para os bons retornos com algum risco». No nosso país, as principais preocupações prendem-se com as incertezas de uma economia de pequena escala, ou com o grande foco da procura em produto prime. Mas os investidores vão olhando para as alternativas em termos de produto.
Portugal em recuperação espera volume de investimento semelhante aos últimos anos
A sessão de apresentação do estudo contou também com uma apresentação de Francisco Horta e Costa, chairman da ULI Portugal e managing director da CBRE, sobre “O mercado imobiliário português no pós-troika”, e com um painel de debate com Aniceto Viegas, diretor geral da Nickel Real Estae, Eduardo Abreu, partner da Neoturis, Fernando Ferreira, diretor de Investimento da JLL e Manuel Puerta da Costa, administrador executivo da área imobiliária do BPI Gestão de Ativos, moderado por Jorge Figueiredo, real estate lead partner da PwC.
Francisco Horta e Costa salientou que «num imobiliário pós-troika radicalmente diferente» é de esperar um volume total de investimento em imobiliário comercial em 2016 «ligeiramente inferior a 2015, mas ainda assim valores recorde», tendência que os profissionais esperam que se prolongue em 2016. Segundo Fernando Ferreira, «2016 pode ser o 2º melhor ano de sempre dos últimos 10 anos», mas «somos um mercado muito periférico, e qualquer mudança pode destabilizar». Mas acredita que «mesmo que tivesse havido um Trump em 2014, a Blackstone teria investido o que investiu».
As perspetivas são também boas no turismo, como atesta Eduardo Abreu, segundo o qual «estamos relativamente otimistas», já que o país «tem projetos de grande viabilidade, como os hotéis Tivoli ou Vilamoura». «O problema é que, muitas vezes, os investidores querem projetos maiores do que aqueles que existem».
Aniceto Viegas salientou a necessidade de novos escritórios para responder à crescente procura das multinacionais, e que «apesar da reabilitação urbana, começam a aparecer terrenos e projetos inacabados nos quais se pode pegar agora», o que, aliás, vai ao encontro do defendido por Francisco Horta e Costa, que acredita que «à semelhança dos escritórios, devemos assistir à construção de mais casas novas, principalmente em quantidade».
Manuel Puerta da Costa acredita que «a dívida portuguesa não será fator de importância para o investimento nos próximos 12 meses», e apesar das incertezas europeias, a atividade em Portugal não deverá ser muito abalada. Até porque «temos duas eleições importantes em 2017, provavelmente com ascensão da extrema direita. É um tema que vai continuar a pesar na segurança, e deverá acabar por beneficiar Portugal» enquanto refúgio de investimento.