A capital portuguesa baixou 4 posições neste ranking, mas continua a assumir-se como muito atrativa para os investidores estrangeiros, «pelos seus preços relativamente baixos, pelo Governo visto como flexível, pela tecnologia e crescimento da economia, mas continua a ser visto como um país pequeno com questões de liquidez», explicou Jacqui Collins, Director Business Development da ULI na apresentação oficial deste relatório anual elaborado em conjunto com a PwC, em Lisboa.
Esta responsável salientou também que os investidores começam a olhar para o mercado residencial como «sobreaquecido, devido aos RRNH ou aos “golden visas”», o que cria mais riscos, e «significa que vamos ver mais oportunidades fora de Lisboa».
Francisco Horta e Costa, Chairman da ULI Portugal e Managing Director da CBRE, atesta que «todos os setores do mercado atraem investidores, sem exceção», que «vêm de todas as partes do mundo» e «olham para os setores alternativos», como sendo o setor das residências de estudantes, residências sénior, ou mesmo a área da saúde e a logística, que é favorecida com o crescimento do comércio online e com as mudanças nos centros comerciais. O próprio Grupo Pestana pondera entrar no mercado do alojamento local, como afirmou João Pinto Coelho, Executive Board Member do grupo, na ocasião, explicando que esta pode ser «uma forma de diversificar a nossa oferta. É um conceito diferente», numa altura em que «o nosso preço é comparativamente mais baixo» com outros mercados comparáveis, e por isso temos espaço para crescer nos vários segmentos».
Francisco Horta e Costa lembra que «o começo do investimento estrangeiro em Portugal deu-se só pelo driver do comportamento do mercado de capitais. Não tínhamos crescimento económico, mas hoje há uma mudança de paradigma em Lisboa. Os fundamentals estão cá», e acredita que «é um mercado mais saudável e sustentável que em 2006, apesar de estar de acordo que há yields muito baixas».
Residencial assiste a algumas “exuberâncias” de preços
No debate em torno deste estudo e em jeito de perspetivar o próximo ano do mercado imobiliário, os intervenientes concordaram, de uma forma geral, que haverá algum sobreaquecimento do mercado residencial no centro de Lisboa.
Eduardo Netto de Almeida, Senior Partner e Managing Director da Lantia, diz ter «imensas dúvidas em relação ao caminho que o residencial vai tomar e ao tempo que este ciclo vai durar», com a preocupação de «fazer produto que se venda daqui a 2 anos, e não só daqui a 10». E lembra, a propósito de tendências de futuro, que «não faz sentido falarmos só em millennials quando parte importante da riqueza e da pirâmide demográfica está nas gerações mais velhas». Mas considera que os preços não estão «disparatados, principalmente se compararmos com outros mercados. Nos outros mercados a classe média também não consegue viver no centro, isso é normal».
Bernadro Pinto Basto, Chief Investment Officer da Norfin, acredita que se avizinha «uma correção dos preços dos ativos, de um excesso de exuberância e de liquidez», lembrando que «para muitos investidores, o imobiliário não passa de um ativo financeiro». Se «antes tínhamos dificuldade em convencer os investidores de que valia a pena investir em Lisboa», este especialista nota que «hoje queremos fazer ver aos investidores que as condições de mercado não são tão sustentáveis em muitos setores».
E, alerta, «sabemos que o rendimento médio disponível das famílias portuguesas não mudou nos últimos 10 anos, e que compram casa a 2.500 e 3.000 euros por metro quadrado, não a 7.000. Talvez haja muitos desenvolvimentos que vão ter uma rentabilidade muito inferior à esperada».
Grande tendência é a tecnologia, e cresce a diversificação
Jacqui Collins afirma que a tecnologia é o grande chavão do mercado imobiliário nos próximos anos, mesmo até 2030.
Os próximos anos do imobiliário serão pautados por maiores preocupações com o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dos ocupantes de qualquer tipo de edifício, até porque cada vez mais estes estarão dispostos a assinar contratos mais curtos em troca de maior flexibilidade. Isto vai também levar a um maior número de imóveis mistos, de forma a melhor equilibrar estas duas esferas da vida, onde a conectividade é obrigatória. Além disso, «as nossas cidades estão a ficar mais concorridas, com maior stress de mobilidade ou infraestruturas, e os promotores terão de responder a isso», alertou.
Neste relatório para 2018, os inquiridos deixaram fora do top 10 dos setores mais atrativos para investimento todos os mercados ditos tradicionais, como sejam o retalho ou os escritórios. No topo da lista está a logística, seguida pelo self storage, pelo arrendamento, residências de estudantes, residências assistidas/sénior, promoção de habitação, apartamentos partilhados, saúde, serviced apartments e data centres, que encerra o top 10. São todos «setores que podem requerer especificidades diferentes».
De acordo com esta responsável, os mais de 800 inquiridos para este relatório mostram-se cautelosos mas mais positivos para 2018, apontando a instabilidade política a nível global como uma das maiores ameaças aos negócios, «mas mostram-se menos preocupados que no ano passado», completa.