Quem o diz é Carlos Ferreirinha, especialista em Inteligência da Gestão do Luxo, orador da última Executive Breakfast Session, organizada pela APPII em Lisboa, onde o tema de discussão foi o mercado do luxo a nível global, e em específico, o que o setor imobiliário pode aprender com estes exemplos e como se pode posicionar neste setor. Para si, «a rutura e progresso mais interessante para o imobiliário nos próximos tempos é a absorção inteligente de uma forma (tecnológica, de comunicação) favorável, porque ela é uma realidade».
Para o responsável, «o imobiliário acredita que o cliente não vai comprar na internet, mas se compra carros e roupa, porque é que não irá comprar imobiliário?». E, lembrou que «se o cliente tradicional não entrar, poderá entrar o filho» neste meio. Por exemplo na hotelaria, exemplificou que 88% das reservas hoteleiras feitas nos EUA em 2016 foram feitas online, 62% das quais pela geração entre os 20 e os 30 anos: «pode não ser a geração que tem o dinheiro, mas é a que influencia».
Isto porque «o consumidor final do imobiliário é impactado por uma série de coisas que estão a acontecer com ele», e por isso o setor tem de ter em conta a forma como as restantes áreas da sua vida o influenciam, como a gastronomia, os transportes, o turismo, ou a tecnologia, entre tantas outras. «Temos de saber como vamos vender imóveis a estes consumidores nos próximos anos», clientes que terão outras exigências, como por exemplo optar por não ter carro, apesar de terem a possibilidade de o comprar, e procurarem alternativas como a alimentação biológica ou maior eficiência energética.
E para exemplificar como as coisas mudaram, salientou o exemplo da hotelaria e da tendência crescente de surgimento de projetos boutique, «pequenos, customizados. Nos centros urbanos o imobiliário será cada vez mais pequeno, espaços mais convenientes, com serviços, isto vai mudar a inteligência imobiliária». «Todos os cenários têm de ser pensados, porque os tempos pedem outras estratégias e outras reflexões, há um movimento muito disruptivo».
Carlos Ferreirinha acredita que marcas de luxo históricas podem ser um bom ponto de partida para identificar formas de passar pelos tempos, sobrevivendo: «devemos entender como é que a Hermès ainda vende carteiras a 15.000 e 30.000 euros» depois de quase 180 anos de existência. Explica que «o luxo é um consumo emocional, e trabalha muito isto, mas o imobiliário nem tanto. Os clientes querem ser impressionados por um serviço extraordinário, e o produto tem de ser ótimo, no mínimo», e tem também de ter relevância contemporânea.
Por exemplo, «o imobiliário comunica de forma muito tradicional, por exemplo nas feiras. Tem de pensar onde pode comunicar mais e onde pode surpreender», porque «não se pode mais vender tradicionalmente, o mundo está mais rico, a riqueza absoluta produzida no mundo é muito maior que nos últimos anos, e vivemos uma crise de modelos económicos no mundo. Temos de ir além deste consumo».
Carlos Ferreirinha acredita que o desenvolvimento da capacidade de socialização e apostar na criação de conexões com as sensações dos clientes, alterando as linguagens, podem dar muito a ganhar ao imobiliário, bem como conhecer realmente os clientes, e mostrar muita confiança aos mesmos. Aumentar os serviços e explorar novas oportunidades de negócio serão sempre pontos positivos. «O mais importante é dizer porque é que a sua empresa existe, qual a sua relevância, é tornar as coisas mais fáceis, não mais simples».
Carlos Ferreirinha acredita que uma das grandes apostas de valor acrescentado do imobiliário nos próximos anos poderão ser os projetos sustentáveis feitos de raiz, numa época de «demandas mais sustentáveis. Temos de entregar hoje ao cliente o que ele vai querer amanhã, sem ele saber isso».
«Nem tudo na vida tem de ser luxo, mas podemos aprender com o luxo», onde «a qualidade nem é assunto, é ponto de partida», concluiu este responsável.