O relatório “Flash – Mercado Imobiliário Angola 2016” mostra que o impacto da crise do país, marcada pela quebra do preço do petróleo, pela instabilidade cambial e pela desvalorização do kwanza, sentiu-se também «fortemente» no imobiliário. 2016 foi ano de redução «mais evidente» da actividade, quando a procura de imóveis voltou a decrescer perante um menor dinamismo de empresas internacionais no país. Consequentemente, baixou o número de transacções bem como os preços e as rendas dos ativos.
Segundo a Proprime, a oferta de escritórios e habitação tem procurado novos mecanismos que permitam escoar os produtos já existentes e os que estão em construção sendo que, no caso dos escritórios, uma das tendências que reflete este ajuste é o facto de os espaços novos já não serem entregues em bruto, e incluem agora níveis de acabamentos como o piso técnico.
Actualmente, e segundo mostra este relatório, a absorção de escritórios em Luanda é cada vez mais lenta, resultado da menor actividade económica e de um abrandamento nos planos de investimento das empresas estrangeiras. Não têm sido lançados novos projectos, mas os que se encontravam em construção mantiveram o seu plano de desenvolvimento, o que fez com que as rendas médias no CBD de Luanda caíssem 20% em 2016 para 80 dólares/m². Os preços de venda recuaram 10% para os 6.400 dólares/m².
No caso da habitação, os novos empreendimentos estão a apostar em apartamentos com tipologias maiores e em áreas mais generosas, perante um novo paradigma em que a procura doméstica vai ganhando mais força. Anteriormente, os expatriados quadros das multinacionais tinham um peso muito mais significativo na procura por casa na capital, e procuravam casas com áreas mais pequenas. Agora, os preços médios de venda dos apartamentos em Ingombota fixam-se nos 5.670 dólares/m², ao passo que as moradias em Talatona desceram 9,5% para os 4.093 dólares/m²
Valdire Coelho, director executivo da Proprime, comenta em comunicado que «os produtos imobiliários são cada vez mais ajustados à nova realidade de um mercado que continua a sentir o forte impacto das condicionantes económicas que afetam o país». E explica que «numa altura em que muitas empresas multinacionais reviram os seus planos de investimento e operação em Angola, o mercado doméstico tem ganho crescente relevância na absorção dos produtos imobiliários, que, neste contexto e face à instabilidade cambial, são encarados como um ativo de refúgio para muitos pequenos aforradores particulares e também para muitas empresas, que procuram adquirir os espaços que ocupam em vez de os arrendarem».
Nota ainda para o mercado hoteleiro, que também se ressente com a crise, até porque o grosso do turismo é motivado pelo segmento de negócios. O número de turistas estrangeiros tem vindo a crescer significativamente nos últimos anos, o que se reflecte nas taxas de ocupação das unidades. Em 2016, a hotelaria da capital registou taxas médias de ocupação de cerca de 40%, que comparam com os 80% a 85% dos anos anteriores, com as médias diárias a descer entre 20% a 25% em todas as categorias. Mesmo assim, os hotéis de 5 estrelas têm diárias médias de 380 dólares/noite.
Valdire Coelho nota que «o mercado imobiliário angolano enfrenta, sem dúvida, sérios desafios neste momento, especialmente nos segmentos de habitação e de escritórios e, com especial foco, em Luanda». Mas considera que «temos que saber olhar para o mercado e perceber que este continua a oferecer outras grandes oportunidades, ainda que num contexto com características diferentes. Outros segmentos, outras localizações e um novo tipo de desenvolvimento imobiliário abrem novas janelas de oportunidade».
A título de exemplo, destaca «a indústria, a logística e as grandes obras de infra-estruturas são um desígnio nacional, o que poderá gerar negócios muito interessantes para o sector imobiliário, assim como o desenvolvimento regional, já que há cada vez mais coisas a acontecer fora de Luanda».