Hotelaria

Hotelaria do Porto e Norte antecipa um 2023 positivo

Em 2022 o mercado hoteleiro do Porto e Norte recuperou para níveis pré-pandemia e as expectativas para 2023 são de crescimento, em grande medida, alavancado pelo interesse do mercado americano e pela potencial chegada do mercado asiático. Contudo, há desafios e no caso do Porto, entre os principais, destacam-se a conectividade aérea e a mobilidade.

14 Dezembro 2022

Após um interregno de quase dois anos, «a recuperação do setor do turismo tem sido surpreendente», reconheceu Luís Pedro Martins, Presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), sublinhando que «em um ano estamos quase a recuperar os valores de 2019.». Contudo, «há problemas à vista e os empresários devem preparar-se para alguns desafios», acrescentou.

As palavras de Luís Pedro Martins resumem bem o sentimento do painel de convidados que participaram no mais recente Pequeno-Almoço Debate da Vida Imobiliária, realizado no dia 29 de novembro, sob o mote “Gaia, nova centralidade de turismo de alta gama”, um encontro entre o Município, representantes institucionais, associativos e operadores hoteleiros.

Também Manuel Proença, representante da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) no Norte e Presidente do Grupo Hoti Hotéis, reconheceu que o setor hoteleiro «está num momento relativamente bom, de recuperação, e para 2023 as perspetivas são de crescimento, na ordem dos 5%». A par da incerteza gerada pela guerra e da evolução da taxa de inflação, o setor tem ainda outras preocupações, nomeadamente, «os custos da hotelaria, não só a mão-de-obra, mas também das cadeias de abastecimento». Um cenário que Manuel Proença admite que vá originar «a correção dos preços».

Da parte dos operadores hoteleiros o sentimento é de alguma expetativa. Com uma atividade consolidada na região, Adrian Bridge, CEO do Fladgate Partnership e do The Yeatman Hotel, vive duas experiências a ritmos distintos. O The Yeatman Hotel, uma referência da hotelaria da região, «neste 2022, que quase só começou no final do primeiro trimestre, igualou 2019». O World of Wine (WOW), o quarteirão cultural instalado em Vila Nova de Gaia e inaugurado durante a pandemia «tem tido uma atividade positiva desde junho», pelo que «acreditamos que vai atingir os nossos objetivos a partir de maio de 2023».

Também o Hilton Porto-Gaia, um hotel de cinco estrelas, na zona histórica de Vila Nova de Gaia, «abriu durante a pandemia, timidamente, mas desde março deste ano conseguiu em oito meses atingir os objetivos fixados para 2022», contou Mónica Gonçalves, General Manager, Hilton Porto-Gaia. Admite, por isso, que para 2023 «estamos muito positivos».

Também a dinâmica de mercado, o volume de pedidos de informação e de transações, confirmam o interesse pelo mercado hoteleiro nacional. Segundo Gilberto Martins, Regional Business Development / CBRE & Partner Neoturis «2022 foi talvez um dos melhores anos de consultoria e de transações e isto antecipa um futuro positivo».

Conetividade aérea é um problema. Mobilidade é um desafio

Passando em retrospetiva o período em que a atividade esteve condicionada pela pandemia, Manuel Marques, COO da Douro Azul, referiu «a incapacidade de usarmos o tempo que nos foi dado para antecipar o que aí vinha. As pessoas só não viajavam porque não podiam, logo que foi possível elas estavam cá.». Mal preparados, sobretudo na conetividade aérea, tivemos um verão marcado por rotas não repostas, voos cancelados e tempos de esperada desmesurados. Isso mesmo relatou Luís Pedro Martins, «no mercado europeu tivemos a Lufthansa e a EasyJet a reforçar frequência de voos no Porto. A título de exemplo, a EasyJet tem hoje mais um milhão de lugares face a 2017. Nos destinos de longo curso, assistimos a um reforço da presença do mercado americano com a United Airlines. Inversamente, o mercado brasileiro, e que em 2019 ocupava o terceiro lugar, hoje caiu para sexto porque faltam voos da TAP. Estamos a trabalhar com outras companhias, por exemplo a Azul, para suprir esta falha». Em falta estão os mercados da Ásia e do Pacífico. Sobre estas novas rotas e chegada de novas operadoras, Luís Pedro Martins deu nota da previsão de chegada da Emirates, em 2024, e da potencial chegada da Qatar Airways já em 2023.

A par da conectividade aérea, os operadores reforçaram a importância de promover a região como um todo. «O posicionamento não pode ser de cidade, mas de destino. Não é Gaia, não é Porto. É Porto e Norte. Quando promovemos o nosso hotel promovemos o Porto, Gaia, Matosinhos, o Douro», referiu Mónica Gonçalves. Para isso é importante criar acessibilidades que aproximem as duas margens, pois «as pontes existentes já não são suficientes», referiu Manuel Marques.

Esta visão da região como um todo pode, na perspetiva dos operadores, ajudar a «minimizar o impacto do turismo no dia a dia da cidade» e que na opinião de Manuel Marques «só é tão grande porque há um problema de espaço dedicado ao turismo. É um espaço que é escasso. Algo que pode ser resolvido promovendo a mobilidade». Na sua opinião, é igualmente importante «reforçar a oferta cultural, porque o turismo não se faz só de hotéis». Reunidas estas duas condições – mobilidade e cultura – a atividade sairá reforçada com a valorização do destino e o aumento das estadias.

Destino Porto e Norte capta a atenção de operadores nacionais e internacionais

Numa perspetiva mais transversal, Nuno Constantino, fundador e proprietário da Wotels Hub, deu nota de que também «os hostel e segmentos médios registam resultados francamente positivos». Na sua opinião «a pandemia “limpou” o um bocadinho o setor. No caso dos hotéis mais pequenos a maioria ficou fechada durante a pandemia. Despediram as suas equipas e na hora de voltar não estavam preparados. Estavam incapazes e regressar. E isso reforçou a posição daqueles que resistiram.». De chegada ao Porto, com a Wotels Hub, Nuno Constantino revelou que «estamos pelo menos há seis anos à procura de uma oportunidade no Porto.».

O interesse pelo destino Porto e Norte estende-se aos investidores estrangeiros, sendo que um dos mais recentes negócios foi a venda do The Lodge Hotel, uma unidade de luxo situado em Vila Nova de Gaia, pelo empresário português Mário Ferreira a um fundo espanhol gerido pela Azora Capital.

Anfitrião deste encontro, António Miguel Castro, Presidente do Conselho de Administração da Gaiurb, admite que «Porto, Gaia e Matosinhos têm reforçado as suas relações, conscientes de que juntos são muito mais fortes» e sublinhou a transformação alavancada pelo turismo «mais pessoas, como novas necessidades, que estão a mudar o urbanismo e a promover a regeneração do território.».

O Pequeno-Almoço Debate da Vida Imobiliária “Gaia, nova centralidade de turismo de alta gama” teve como anfitrião António Miguel Castro, Presidente do Conselho de Administração da Gaiurb; e moderação de António Gil Machado, Diretor da Vida Imobiliária. Participaram neste debate Adrian Bridge, CEO do Fladgate Partnership e do The Yeatman Hotel; Manuel Proença, representante da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) no Norte e Presidente do Grupo Hoti Hotéis; Mónica Gonçalves, General Manager do Hotel Hilton Porto-Gaia; Luís Pedro Martins, Presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal; Manuel Marques, COO da Douro Azul; Nuno Constantino, fundador e proprietário da Wotels Hub; e Gilberto Martins, Regional Business Development / CBRE & Partner Neoturis.