Para além de compilar matérias de estratégia imobiliária, retratava também a situação económica do país, intervencionado pela troika, com atenção focada ao setor imobiliário, onde os bancos, maiores proprietários de imobiliário do país, tudo queriam vender, tudo queriam arrendar, e em alguns casos, nem oferecido.Vivíamos tempos duros no setor. Os promotores colapsaram, as construtoras desapareceram, e muitas famílias ficaram destroçadas, sem os seus imóveis e, sobretudo, sem capacidade aquisitiva, por via do colapso económico e financeiro do país.Assistimos a níveis de absorção, em todas as áreas (habitação, comercio, escritórios e logística) historicamente baixos, promoções imobiliárias abandonadas, algumas sem solução à vista, para desespero de todos os sobreviventes deste setor, e assistimos ainda a um êxodo de profissionais qualificados nunca antes visto.Se limitasse a minha análise atual à cidade de Lisboa, Porto (e em alguns casos ao Algarve) provavelmente o novo título para um livro com o mesmo conteúdo, à data de hoje, seria Compra-se, arrenda-se, ou aceita-se!Efetivamente o mercado imobiliário nestas duas cidades começa a dar claros sinais de alguma vitalidade, saindo do estado de coma em que se apresentava, e permitindo alguma alegria em alguns dos players mais atentos e ativos (o resto do país é ainda uma miragem).De facto assistimos já em 2015 níveis históricos de investimento, na sua grande maioria internacional, ao aumento do nível de absorção do mercado de escritórios, à significativa pressão nas yields, por via do excesso de liquidez internacional, e dos baixos valores das taxas de juro.Assistimos ainda a um aumento da procura na habitação, também ela oriunda do mercado internacional, sobretudo em três distintos mercados emissores que mais significado têm representado: o mercado Francês, por via sobretudo da lei de tributação de fortunas; o mercado brasileiro, pela necessidade de exportar capitais; e o mercado chinês, ainda por via do Golden Visa. Esta procura colocou no pipeline da construção projetos há muito adormecidos, de reabilitação, ajudando também ao sucesso do turismo que vê hoje uma agitação sem igual, enchendo as cidades, os hotéis e os alojamentos locais, os restaurantes e as lojas de rua de muitos e bons turistas. Lisboa e Porto estão hoje mais cosmopolitas e bem mais animadas, e a confiança dos empresários está claramente a mudar o rumo.Este fenómeno a que hoje assistimos, perfilando os arquitetos, os promotores e os construtores que sobreviveram à crise, e toda a demais cadeia, numa nova fase da atividade imobiliária está finalmente a dar um ânimo novo à confiança dos empresários do setor, prevendo-se a continuidade da esperança e de bons negócios para o ano de 2016.Mas o país real está ainda de “tanga”! A carga fiscal atrofia ainda a geração de riqueza. E as restantes atividades económicas, tal como a industria e a agricultura, sofrem ainda de grave doença económica, não gerando a riqueza necessária para o país.Não posso no entanto deixar de alertar, não querendo ser “velho do Restelo”, para algo que deve preocupar os agentes económicos do setor imobiliário. A sustentabilidade desta situação é duvidosa porquanto a economia em Portugal não gera riqueza suficiente. Continuamos a viver com uma constituição inimiga dos empresários e de quem gera valor, numa lógica de direitos e nunca de obrigações, e com um nível de burocracia e de carga fiscal excessivo. A produtividade em Portugal é ainda muito baixa prejudicando a sustentabilidade do mercado de compradores nacionais. Este período feliz que agora vivemos é totalmente dependente de uma lei Hollande, de uma economia e um programa chinês que não controlamos, da capacidade duvidosa (que agora verificamos ser impossível) do mercado Angolano continuar a comprar em Portugal, e da capacidade do mercado brasileiro transferir dinheiro para a Europa. O risco da desistência do investidor internacional por via do excesso de burocracia, ou da incerteza de um país que a cada ciclo eleitoral muda as regras legislativas e fiscais, prejudicando a geração de riqueza e o investimento de que tanto necessitamos.Refiro sempre que o imobiliário só faz sentido para as pessoas. E tem que dar resposta às suas necessidades. E é necessário que as pessoas gerem riqueza que permita, de forma sustentável, manter a atividade económica imobiliária num mix de mercado nacional e internacional.Por isso mesmo gostava que não fosse só 2016 a ser mais um ano de bonança, mas que pudéssemos pensar numa bonança sustentável de médio prazo, onde todos os agentes pudessem sentir a confiança e não a dúvida e a incerteza do amanhã.Que os agentes imobiliários não cometam os mesmos erros do passado, planeando convenientemente, para que amanhã não estejamos todos a escrever outra vez…Vende-se, aluga-se ou dá-se!