Os “fundamentals” do mercado imobiliário como destino de investimento mantêm-se e o excesso de liquidez internacional gerado pela pandemia parece pretender continuar a ser canalizado para este mercado. 2021 voltou a registar volumes de investimento significativos e até próximos dos valores pré-pandemia, o que é notável e comprova que o setor imobiliário é resiliente.Porém, 2022 não deixará por isso de ser um ano menos desafiante. Muitos serão os desafios.Desde logo, mantém-se a incerteza gerada pela pandemia, quanto ao seu fim e depois quanto à resposta e evolução da economia em cenários pós-pandemia.Depois, outro dos grandes desafios é a dificuldade de fornecimento e o aumento do custo das matérias-primas. É um problema de geopolítica internacional, que não controlamos o que agrava ainda mais a incerteza que acarreta. O risco de incumprimentos e litigância começa a ser latente.Também o aumento do custo de construção é um tema que preocupa, desde os promotores imobiliários privados, que têm cada vez mais dificuldade em encaixar estes aumentos e antecipar investimentos, às próprias entidades públicas com responsabilidades na criação de habitação, que têm visto com maior dificuldade o arranque de mais projetos de habitação social e perigado mesmo a execução do PRR.Dramática também é a escassez de mão-de-obra. Faltam-nos trabalhadores de todos os escalões, incluindo qualificados e a capacidade instalada no nosso País é insuficiente. Os trabalhadores que emigraram (desde a crise financeira de 2008) continuam a não ver neste País um aliciante para voltar, mesmo que isso signifique voltar à terra natal ou à família. Os baixos salários e as fracas condições que aqui se oferecem, quando comparados com outros destinos como França, Alemanha, ou Luxemburgo, ou a perspetiva de um trabalho pesado e cujas profissões não estão ainda dignificadas, não são atrativos para voltar.Diria ainda que tudo isto poderá agravar-se, com a execução dos PRR´s, nacional e estrangeiros. Será um verdadeiro desafio, que deve preocupar os nossos governantes. É que se estes programas visam trazer recuperação e resiliência às empresas e à economia, corremos o risco de, no que toca a esta fileira, a execução das obras ali previstas poder trazer o seu contrário. Há décadas que não havia investimento público na construção, se agora juntarmos a construção pública à construção privada, o resultado está à vista. E o pior será mesmo a execução dos PRR´s estrangeiros, como o francês, o alemão, entre outros. Com melhores condições de trabalho e melhores salários, é fácil perceber para onde tenderão a ir todos os trabalhadores. É também fácil perceber as consequências que esta concorrência vai levar na escassez das matéria primas e no preço da construção a nível europeu.Também a inflação e o eventual aumento das taxas de juro, aliado à incerteza do regresso do turismo, ou a nova conceção de trabalho vs. teletrabalho e as consequências nos espaços são desafios a considerar.Tudo desafios que um setor imobiliário, que já deu provas de ser um dos primeiros sectores a levantar-se depois de uma crise financeira, de ser o setor mais resiliente numa crise sanitária, económica e social, cá estará para enfrentar e procurar ultrapassar.