No que respeita ao mercado imobiliário, e muito embora para a iad Portugal tenha sido um ano de forte crescimento, para o mercado como um todo foi um ano de viragem. Tendo presente que só temos disponíveis ainda as estatísticas oficiais referentes à primeira metade do ano, parece ser relativamente seguro que 2019 será o ano que interrompe o ciclo de crescimento que se registava desde 2013. A meio do ano, o crescimento (em número de transações) tinha estagnado face a 2018 embora se registasse ainda um crescimento em volume, graças ao aumento de preços, se bem que com um ritmo de crescimento em abrandamento. Tudo leva a crer que o resto do ano tenha confirmado essa tendência. Dado que os preços mantém ainda uma tendência crescente e o interesse comprador é uma evidência, parece tratar-se mais de um desajuste entre a oferta e a procura. Desajuste no que respeita ao tipo de oferta e, sobretudo, em relação aos preços. À entrada de 2020, parece já certo que as duas principais autarquias do país, Lisboa mais do que o Porto, continuarão empenhadas em diminuir a pressão do Alojamento Local sobre os preços do mercado imobiliário nos centros das cidades. Por outro lado, as recentes alterações legislativas no que respeita à reabilitação urbana contribuirão para uma alteração da atitude dos promotores face aos investimentos no centro das duas maiores cidades portuguesas. Em relação à outra grande alavanca do investimento imobiliário dos últimos anos, o “Golden Visa”, aumentam os rumores de que o estado poderá intervir, ajustando as regras para diversificar o investimento. Assim, a oferta que tem marcado os últimos anos - tipicamente orientada para o investidor, nomeadamente estrangeiro, e para o mercado de luxo - parece desgastada. Simultaneamente, com taxas de juro em mínimos históricos, bancos com níveis assinaláveis de liquidez e a taxa de desemprego em níveis também eles historicamente baixos, parecem estar reunidas todas as condições para o acolhimento de uma diferente oferta de produto imobiliário, desta feita claramente orientada para a classe média e média-baixa, em novos ambientes residenciais e periféricos às grandes cidades. Os dados relativos ao licenciamento de novas construções são indicadores fiáveis que apontam nesse sentido, sendo certo que não será ainda em 2020 que a oferta será suficiente para satisfazer essa procura. Paralelamente, há claro interesse investidor por produtos tais como o arrendamento tradicional e as residências quer seniores quer universitárias. No que diz respeito ao mercado não residencial, continua a registar-se uma procura muito elevada por escritórios para arrendamento, havendo, nomeadamente no Porto, um número muito significativo de projetos em vias de concretização. Por último, continua ainda muito ativo o setor do turismo, que tem sido também responsável por uma volume muito importante de investimento no mercado imobiliário. Em conclusão, e apesar estarmos a assistir ao fim de um ciclo, não parece haver motivos para pessimismo. Trata-se, isso sim, de um ajuste do mercado que, estamos em crer, se prolongará pelos próximos 2 a 3 anos e que se materializará em novas oportunidades de negócio mais próximas das expectativas do lodo da procura.