Sem Alojamento Local não há retoma do Turismo

Esta crise no alojamento local tem números que marcam: em 2020 comparado com 2019, em média a quebra de faturação ultrapassou os 70% no país e 80% nos centros urbanos. Para entender o que isto significa basta pensar que a maioria dos operadores do AL (2/3) são particulares. Para estes, o AL é equivalente ao salário. É imaginar, por exemplo, o que aconteceria se uma família perdesse 80% do seu rendimento e passasse a ter dívidas todos os meses durante mais de um ano, mas com um detalhe, ao invés de receberem subsídio desemprego, o apoio vinha essencialmente através de empréstimos, assim quando voltassem a ter emprego, uma parte do salário seria para pagar as dívidas contraídas. Foi isto o que aconteceu com quase 50.000 famílias de micro empresários (não magnatas) que viviam do AL.E esta crise não acabou, a única coisa que acabou com este novo surto foi a esperança da retoma recomeçar a sério com o início do verão. O Turismo, e tudo que gira em volta dele, está mesmo em risco se não tiver um novo balão de oxigênio de apoio para ultrapassar este novo surto. Falta pouco (esperamos), mas é justamente a reta final.De volta aos números, o ano de 2020 marcou o setor por ser a primeira vez na história do AL que o número de registos diminuiu em destinos chave como Porto e Lisboa e cresceu no interior. Os números oficiais (RNAL) mostram uma diminuição de cerca de 100 registos em Lisboa, mas os números reais mostram um cenário completamente diferente. O sistema da ALEP que monitoriza a oferta real das plataformas identificou em 2020 uma diminuição definitiva de 1.825 anúncios de apartamentos. Isto representa uma quebra de cerca de 10% da oferta de apartamentos em AL em Lisboa. Para alguns, esta quebra era a solução do problema da habitação nos centros urbanos. Nunca aconteceu, nem poderia ter acontecido. Achar que imóveis maioritariamente T0 e T1 com 30 ou 40 m2, em zonas históricas sem elevador, sem estacionamento, muitas vezes sem acesso a carro, em prédios centenários, poderia ser uma solução para a habitação das famílias da classe média é simplesmente desconhecer as pretensões mais básicas da classe média portuguesa.Os problemas estruturais da habitação, estes continuam, e vão levar décadas a resolver como a falta de um stock público para as classes mais baixas ou o grande elefante na sala que ninguém quer enfrentar: o enorme receio que os proprietários, em especial os pequenos proprietários, têm do arrendamento e das leis que estão sempre a mudar.É importante ter claro, que o alojamento local na sua essência não é uma forma de rentabilizar um imóvel. É sim, um serviço muito exigente que, infelizmente para nós, mesmo em anos de pico como em 2019 nunca gerou os tais ganhos fabulosos que eram apresentados nos media ou debates políticos. Prova que o AL é Turismo é o dado pouco conhecido que 40% das dormidas nacionais de turistas já são feitas em alojamento local. Em Lisboa os relatórios da taxa turísticas mostram que o alojamento local representa 50% das dormidas e no Porto mais de 60%. O alojamento local mostrou ser uma opção de preferência nesta altura de crise pela privacidade, por oferecer locais isolados, sem grandes concentrações. Vimos em 2020 os distritos do interior crescerem em AL, mostrando o potencial que o AL tem em levar o Turismo a zonas isoladas de forma gradual e sustentável. Acima de tudo, é hora de assumir que o AL é pilar do Turismo, que sem o alojamento local não vai haver retoma do Turismo.

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