A transformação urbana reflete as mudanças nas necessidades e preferências dos consumidores, novas tendências, ou, por vezes o regresso, devidamente reinventado às tradições antigas como a vida de bairro. Todos estes fatores, impactam a forma como os consumidores compram e interagem com as marcas e a forma como vivem as cidades.
Embora o tema do Covid seja algo que já pareça distante, num mundo em que as notícias correm a um ritmo alucinante, a verdade é que a transformação dos hábitos urbanos e de quem lá habita são indissociáveis de um acontecimento tão marcante como um lockdown ou políticas restritivas na forma como cada um de nós passou a viver dentro de casa ou mesmo na cidade ou vila onde habita.
Se por um lado, novos hábitos de compra surgiram ou tornaram-se bastante robustos, como as compras online e a digitalização associada ao consumo em geral, por outro, numa fase pós pandemia adensou-se um certo gosto pela vida em comunidade e a crescente valorização da conveniência e experiência e consequentemente do comercio de proximidade. Tudo isto afetou obrigatoriamente as maiores marcas e retalhistas que se apressaram a proporcionar novas formas de venda, maior rotatividade de produtos e novas formas de consumo. Daqui surgiu também a necessidade de mais e melhores formas de entrega pelo que o estabelecimento de centros de micro-fulfillment em áreas urbanas para agilizar a entrega de produtos se recriou. Sem esquecer as “soluções de última milha”, isto é, o crescente uso de tecnologias e serviços inovadores para entregas rápidas e eficientes, incluindo bicicletas elétricas, drones e veículos autónomos.
O “viver a casa” tornou-se uma tendência com o aumento notório das vendas de ferramentas de bricolage, decoração e home apliance, alavancando a estratégia de expansão de marcas como a Hôma, Espaço Casa e Rádio Popular, entre outras.
Cada vez mais são valorizadas as áreas urbanas, algumas por via da requalificação, outras com conceitos criados de raiz, que muitas vezes enquadram espaços verdes, serviços e comércio que se fundem com zonas de lazer, cultura e acima de tudo, segurança. Fruto desta nova necessidade de maior liberdade, espaços como o LxFactory ou o 8Marvila Retail são uma tipologia de espaços que ganham terreno (ou recuperam-no) e proporcionam uma nova forma de experienciar o ato de fazer compras: antigos armazéns, fábricas ou outro tipo de edifícios de grandes dimensões que estão ao abandono e/ou devolutos, são requalificados e é-lhes dada uma nova vida e propósito, tornando-se destinos urbanos altamente trendy, hubs de novos conceitos, dando espaço a novos criadores e projetos de F&B, bastante procurados por locais e turistas de todas as idades.
Para além disso, bairros emblemáticos da capital portuguesa, como o Príncipe Real brindam os seus visitantes com a recuperação de edifícios históricos, misturando a preservação do património arquitetónico com conceitos inovadores. É o caso da Embaixada: localizada no Palácio Ribeiro da Cunha, um dos edifícios mais emblemáticos do bairro trendy do Príncipe Real, este palácio neoárabe do século XIX foi transformado numa galeria comercial inovadora, onde uma série de marcas e artistas nacionais focados no design, artesanato, moda, gastronomia e cultura portuguesa expõem os seus trabalhos. Para além deste edifício, o Palacete Anjos ou a Galeria Nave, ambos no também no Príncipe Real, tornaram-se focos de exposições, cruzando as áreas de design, arquitetura e artes.
Estes complexos comerciais voltam a integrar-se na linha urbana das cidades e interagem facilmente com os consumidores, com as necessidades do seu dia-a-dia, integrando um mix de marcas existentes em grandes centros comerciais, bem como novos conceitos e dando espaço muitas vezes a alguns eventos complementares e iniciativas variadas. O crescimento destes espaços, fruto da resiliência que as marcas e os investidores apresentaram durante a pandemia da covid-19, vão acompanhando a transformação urbana, inserindo-se na expansão não apenas de grandes metrópoles como principalmente nas cidades secundárias que acolhem uma população vasta e com desejo de aquisição de produtos recém-chegados ao mercado.
O retalho está em constante transformação e adaptação, acompanhando a nível social, comportamental e urbanístico a evolução das cidades, tornando-as mais conectadas e adaptadas às necessidades dos consumidores modernos. Salientar ainda o desafio presente na reorganização do tipo de lojas, surgimento de novos conceitos, muitos deles associados ao turismo, que se tornam cada vez mais presentes, nos centros de cidade e zonas históricas e que impactam a forma como pensamos o futuro das áreas urbanas.