Perspetivas para o imobiliário português em 2020

Se o início do ano 2020 formulava no horizonte uma cada vez maior incerteza, fruto de uma crescente instabilidade política em alguns países da EU e. g. o Brexit, um aumento de tensão por parte dos principais polos de decisão mundial assim como a utilização abusiva dos recursos naturais, agora o que chamávamos de incerteza, tornou-se numa realidade da forma mais inesperada, uma pandemia, Covid-19. De repente o que para nós era adquirido, ter uma reunião de trabalho presencial, viajar, um jantar entre amigos, deixou de o ser, momentaneamente, assim todos esperamos, mas deixou de o ser, sem aviso, de um dia para o outro, companhias aéreas deixaram de voar, hotéis fecharam, comércio e escritórios fecharam, quem diria ser um cenário possível no século XXI? As consequências a curto prazo serão devastadoras, pois trata-se de uma paragem efetiva da economia real, com impacto e redução da capacidade produtiva, mas também por ausência, até agora, forçada da procura. Perspetivamos assim dois cenários possíveis: O primeiro configura um tempo de abrandamento da atividade económica e de isolamento social, até ao verão, com efetiva capacidade de resolução da pandemia. Este cenário beneficia de um conjunto de apoios de estímulo à economia, que embora não sejam suficientes para evitar uma recessão, permitirão estabilizar as bases para uma recuperação progressiva, a ter efeitos a partir de finais de 2021. O segundo cenário, período alargado ou incerto. Sendo este último de muito difícil equação, vamos concentrar a nossa atenção nas perspetivas para o mercado imobiliário tendo em consideração o primeiro: Habitação para a classe média portuguesa e jovens, era e continua a ser uma prioridade, alicerçada na necessidade absoluta de existência de produto adequado, para compra, mas sobretudo para arrendamento. Tipologias mais pequenas, flexíveis, com serviços associados. Reconversão de parte do inventário existente de casas nos centros das cidades, alocadas ao aluguer de curta duração, para arrendamento de longa duração. Escritórios, aproximar dos locais de habitação, criando a possibilidade de microcidades dentro da cidade. Desenvolver espaços adaptáveis e de gestão flexível adequados a novas formas de funcionamento das empresas. Na atividade turística, cada vez mais os momentos de lazer, vão ser valorizados e vistos como únicos e irrepetíveis, os hotéis têm aqui um papel chave na qualidade da experiência vivida, as nossas cidades oferecem narrativas extraordinárias que podem e devem ser valorizadas com o aparecimento ou reconversão de unidades hoteleiras com uma dimensão conceptual forte que integre o património cultural, chamamos os Concept Hotels. O momento é difícil, agora mais que nunca é importante não esquecer a resolução de questões, que no nosso entender são temas absolutamente chave e que têm vindo a retirar competitividade a Portugal enquanto destino de investimento, a demora dos licenciamentos, a instabilidade dos custos de construção e a capacidade construtiva, e uma maior estabilidade das políticas públicas em termos do quadro fiscal, legislativo e de enquadramento tanto do mercado habitacional como do enquadramento ao investimento. Uma coisa é certa quando tudo acabar, Portugal não será o mesmo!

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