No ano de 2019 e pela primeira vez desde que sou presidente da APEMIP, recusei dar expetativas sobre a evolução das transações por saber a dificuldade que seria monitorizar um mercado com muita procura e pouca oferta, no entanto, adiantei que era expetável que se verificasse um ligeiro arrefecimento do mercado, o que se confirmou posteriormente nos números. De acordo com os dados oficiais recolhidos pelo Gabinete de Estudos da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), no segundo trimestre de 2019 venderam-se 42.590 alojamentos familiares, registando um decréscimo de 2,8% face ao trimestre anterior. No entanto, quando feita uma análise ao primeiro semestre deste ano, a variação homóloga é de apenas -0,1%, tendo-se registado um total de 86.416 casas vendidas. Os números não surpreenderam, e devem-se sobretudo à diminuição do stock disponível. Há poucas casas no mercado, e muitas das que existem não correspondem às necessidades e possibilidades das famílias portuguesas. Por outro lado, também a escalada de preços é um travão para o mercado. Há muitos proprietários que têm à venda cobre ao preço do ouro, convencidos de que tudo se vende, mas não é bem assim. Os potenciais compradores, mesmo os estrangeiros, começam a ser mais cautelosos e a pensar duas vezes antes de avançar com o negócio. Há que haver algum realismo e ajustar os preços à realidade do mercado e do ativo que se tem a carteira. Para 2020, a minha expetativa mantém-se: é difícil prever o comportamento do mercado, devido ao desequilíbrio entre a oferta e a procura no entanto creio que será um ano positivo, apesar dos sinais de abrandamento que deverão continuar a sentir-se. O grande desafio do mercado será por isso a criação de oferta para a procura existente, e que se concentra sobretudo nos jovens e na classe média e média baixa. Como tal, o tema central continuará a ser o da habitação, e por isso é expectável que o Estado, quer seja por via do poder central, quer seja por via do poder local, tenha um papel ativo na promoção do aumento da oferta habitacional a preços acessíveis, através da implementação de programas efetivos e de eventuais parcerias público-privadas, que permitam um aumento da oferta a preços controlados, que por sua vez acabariam por aliviar também os preços elevados que são hoje praticados devido à escassa oferta imobiliária. Neste aspeto, quero focar que o aumento da oferta é o único caminho que se deverá seguir para tentar resolver o problema habitacional das famílias, pois se houver a tentação de tentar controlar a procura através de eventuais medidas de carater legislativo ou fiscal, acabará por haver consequências desastrosas não só para o setor imobiliário, como para a própria economia nacional. Neste panorama de necessidade de oferta habitacional seria também importante que o setor da construção prestasse atenção à procura que existe, dirigindo o seu produto para este segmento e invertendo a situação que hoje se verifica e que se reflete numa grande maioria de projetos iniciados ou licenciados previstos para o segmento alto/luxo.