Otimismo com realismo

Depois de um período de confinamento cujo impacto nos diversos setores económicos foi incontornável, lidamos agora com a indefinição sobre o futuro e com a crescente certeza de que teremos que nos adaptar a uma nova normalidade. No imobiliário, o surto pandémico foi uma “machadada” para um setor cujo crescimento sustentável se previa, pela manutenção do número de transações que acabou por cair, resultado do impedimento das empresas em realizar visitas durante o Estado de Emergência, e depois pela instabilidade económica e laboral que leva investidores, cidadãos e famílias a adiarem decisões de investimento. Não é por isso surpreendente que o número transações de alojamentos familiares tenha caído neste primeiro trimestre do ano, e foi também isso que fiz por transmitir aos media nos últimos meses, com o objetivo de evitar o pânico que propagou durante a crise da Troika, em que diariamente o imobiliário fazia capa de jornais e aberturas de telejornal pelas quebras que registava. Sou sempre apologista do realismo e em veicular mensagens que correspondem à realidade e àquele que é o sentimento geral do sector e das empresas que represento. Se o mercado está a sentir dificuldades, não adianta branquear a realidade, que mais cedo ou mais tarde virá ao cimo através dos números, sobretudo neste período em que o setor não tem qualquer responsabilidade e controlo sobre o que está a acontecer a nível sanitário. O pior desta pandemia é a incerteza que dificulta o planeamento. Torna-se complexo gizar estratégias que não sabemos quando poderão ser efetivamente postas em prática, mas sei que quando esta fase passar, as empresas que conseguirem sobreviver envidarão todos os esforços para se afirmarem como força motriz da recuperação económica. O imobiliário é um negócio que se rege sobretudo pela confiança, e o nosso papel é garanti-la com o máximo de transparência e por isso acredito verdadeiramente que este será um dos primeiros sectores a recuperar. Neste momento, está a haver uma fase de adaptação por parte das empresas à nova realidade, mas creio que podemos e devemos ser otimistas com realismo. Temos uma oportunidade de dinamizar o mercado de arrendamento e de apostar no investimento para este segmento que se estima que cresça. Há também uma janela de oportunidade na captação de não residentes que, não sendo imediata (devido às questões sanitárias e de restrição de voos) será decerto dinamizada pela generalização do teletrabalho e pela segurança que o País tem vindo a transmitir No panorama do património construído, também não há nenhuma justificação para que haja uma desvalorização, sobretudo nos segmentos médio e médio baixo, em que a oferta continua a escassear. De acordo com o inquérito realizado pela APEMIP, 83.9% das empresas revelam que no mês de maio os preços se mantiveram. As descidas registadas, não são mais do que ajustes a preços que estavam acima do valor de mercado. Se os cidadãos souberem ser responsáveis e pugnarem pelo cumprimento das regras de higiene e segurança, impedindo que o “milagre português” seja invertido, teremos todas as condições de retoma. Saibamos adaptar-nos aos novos paradigmas de mercado e conseguiremos garantir a nossa sobrevivência, enfrentando, uma vez mais, os desafios que se colocam no nosso caminho.

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