E tenho também defendido que a pretensa recuperação das contas públicas é um lamentável embuste: Mário Centeno ficará para a história como o Ministro que combinou uma austeridade escondida (vide cativações recorde) com uma fiscalidade estratosférica – basta verificar no INE que a maior carga fiscal em % do PIB em 45 anos de democracia foi atingida em 2019, seguindo o ardil de baixar uns tostões no IRS porque ajuda na propaganda, e aumentar muitos milhões nos impostos indirectos, que o tuga paga, não nota e não reclama. O povo sobrevive, mas são poucos os que conseguem gozar o privilégio da vida. Na minha visão, os impostos são inimigos ferozes da economia, do investimento e da criação de riqueza. A vergonhosa burocracia da Câmara Municipal, que em 45 anos não conseguiu resolver o mau funcionamento crónico dos serviços de urbanismo, dá uma forte ajuda na destruição de valor; não resisto a dizer que se eu tivesse sido vereador do urbanismo, metia-me no buraco da vergonha que esta gente não conhece. A crise do Covid veio apenas precipitar e agravar a crise, designadamente a crise do imobiliário em Lisboa. Como a dívida pública é estratosférica e foi aumentando em valor nominal, estamos à mercê da generosidade e do critério dos países que, ao contrário de Portugal, tiveram engenho para cuidar do futuro. O que vai seguir-se? Definhamento do negócio de alojamento local, começando pelas empresas menos estruturadas e mais débeis do ponto de vista financeiro. Vão sobrar apenas os mais profissionais, e vão também sobrar centenas de apartamentos que vão agora contribuir para o aumento da oferta residencial, seja para venda, seja para arrendamento de longa duração. Os 7.000 fogos residenciais que estavam em produção ou licenciamento vão enfrentar uma classe média/alta com redução de rendimento e em fase de receio de assumir dívida para compra de habitação. Muitos hotéis serão reconvertidos em habitação ou alojamento de estudantes. A crise económica vai determinar a falência de muitos negócios de retalho, com baixa generalizada das rendas, com excepção das zonas mais qualificadas. No imobiliário, como no País, estamos à mercê do dinheiro dos outros: as ajudas da EU fazem tanta falta à economia como os clientes estrangeiros fazem falta aos promotores imobiliários. Infelizmente, não tenho dons de adivinhação que me permitam prever o comportamento da procura e, por isso, não me resta outra solução que não seja esperar para ver. Soluções? Numa fase em que a Nação precisa de investimento como de pão para a boca, podem começar por baixar fortemente os impostos e tratar os investidores com o respeito que os políticos não merecem. Também se podiam esforçar para pôr os serviços da CML a funcionar profissionalmente e a despachar num máximo de 90 dias - é simples, é elementar e seria um contributo positivo para a criação de valor na economia. Infelizmente, aposto que nenhuma destas soluções se irá materializar. Pobre Povo!