O pintainho dos ovos de ouro

Em Portugal, grande parte do problema económico advém precisamente das debilidades do setor secundário que desde 1992 observa uma redução da atividade com cada vez menor diversidade e competitividade.Desde a adesão à CEE, que a indústria transformadora que se encontrava espalhada um pouco por todo o país e era grande fonte de emprego regional foi reduzindo e desaparecendo. Foi a construção civil e obras públicas (CCOP) quem absorveu a mão-de-obra outrora destinada essencialmente à metalomecânica e afins, ganhando assim importância primordial no panorama português durante duas décadas.Com a crise internacional de 2008 e o pedido de resgate em 2011, o setor imobiliário foi severamente afetado e a CCOP parou, resultando em consequências gravíssimas para o nosso país, que aliás continua e continuará a sofrer.Ora, quando Teixeira dos Santos muito recentemente se referiu ao setor imobiliário como a “galinha dos ovos de ouro”, na verdade, creio que se estava a referir a uma das muito poucas galinhas que ainda existem na capoeira, pois todas as outras, já fugiram, foram mortas ou vendidas. Não sei se os ovos que esta põe serão de ouro ou não, mas o que sei é que é preciso que ela ponha ovos, seja eles quais forem.O problema é que a galinha ainda é uma franga e ainda não põe ovos de qualidade aceitável, ou seja, é necessário que antes de tudo, a deixem crescer.Do ponto de vista macro, verificamos que os benefícios da “retoma” do imobiliário sobre a economia são ainda muito ténues, ainda que possa ofuscar o dinamismo verificado em algumas zonas de Lisboa e Porto, pois atualmente o impacto transversal desta indústria na economia é ainda muito reduzido face às suas potencialidades.Note-se por exemplo que em Lisboa, no ano de 2005, entraram no mercado 52.000m2 de escritórios novos seguidos de mais 88.500m2 em 2006. Agora, o acumulado previsto para 2017 e 2018 é de apenas 42.000m2.No setor residencial, ainda de maior importância, a situação é semelhante. Os poucos projetos residenciais existentes são estrategicamente localizados e a grande euforia tem sido essencialmente em redor da reabilitação urbana dos centros históricos das principais cidades, que não deixa de ser interessante, mas que efetivamente tem um impacto pouco profundo na economia e quase nenhum a nível regional.Interessa portanto a todo o país, não só que deixe o mercado funcionar, mas como também, que haja incentivos para que este cresça de forma salutar. Ora, este crescimento, depende exclusivamente das vendas, ou seja, da capacidade de compra dos consumidores nacionais e do interesse dos investidores estrangeiros, muitos deles em busca de uma fiscalidade mais favorável ou de rentabilidade alternativa às baixas taxas de juro.Num momento tão sensível como este, o acréscimo de tributação sobre o património, por muito baixo que seja, não é bem-vindo, pois não só afeta a rentabilidade dos pequenos investidores, como também, gera uma sensação de insegurança e de risco acrescido, sobre um país que tem uma fome fiscal desmensurada, e que apesar das promessas, cada vez precisa de mais para alimentar o Estado.No mercado comunitário onde vivemos, há muitos outros países interessantes para os pequenos investidores aplicarem as suas poupanças, é tudo uma questão de rentabilidade. Queremos realmente reduzir a nossa?A porta da capoeira está prestes a abrir, e a fome é tanta, que vão tirar os ovos à força, deixando a franga assustada e atrofiada para os próximos anos. É pena.

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