O que nos dizem as estrelas nesta viagem do inferno ao céu?

Como sempre os ciclos acontecem, pelo que devemos antecipar com normalidade as correções de mercado. A verdadeira dificuldade é compreender o momento do ciclo, como podemos viver mais tempo numa conjuntura benigna de mercado e qual a força do movimento de correcção! Nesta edição da Vida Imobiliária em que tentamos antecipar o ano, que começou de forma auspiciosa, os operadores de mercado parecem não querer embalar em euforias mas o tom é de um natural otimismo. Pela minha parte, deixo um par de indicadores a seguir para entender o ano. O impacto do turismo e dos não residentes – o crescimento do turismo em Portugal, e já agora em Espanha, está em alta e nada prevê problemas nesta frente. Temos feito bem o trabalho de casa e temos espaço para crescer, apesar do estrangulamento que representa para Lisboa um aeroporto no limite da capacidade. Mas na compra de habitação por não residentes, há sinais para uma maior prudência… os chineses já cá não andam e uma mudança política em França está a fazer diminuir o ritmo de compras. Os Brasileiros tem estado mais ativos, mas não fazem o mesmo volume… Política de financiamento e nível de juros – os juros só podem subir, falta saber quando e a que ritmo. A política de crédito dos bancos tem uma pressão por lucros que só acontecem com mais crédito, mas uma supervisão mais apertada vai tornar impossível voltarmos ao que aconteceu há 10 anos… Ou assim esperamos. Ainda assim, o volume de crédito concedido já voltou a crescer acima das amortizações, o que significa que o Stock de crédito à habitação na nossa economia cresceu ao fim de quase 8 anos em queda. Mais promoção… para quem? A promoção imobiliária está de regresso, com muitos atores em grande ritmo de produção e outros a entrar. Mas no centro do Porto e Lisboa quem chegou ao mercado encontrou muita procura, mas agora que o volume de oferta acelera continuará a existir procura para todos, aos preços a que se atingiram? Se a exigência de novas construções é evidente em alguns segmentos, como nos escritórios, em algumas áreas de negócio vai ser necessário ponderar melhor os riscos! Onde está o risco dos grandes imóveis? Para mim, é a pergunta dos mil milhões… O problema de 2008 foi o sistema financeiro local absorver quase por completo o risco e quando o mercado virou levou os bancos a serem socorridos. E foram quase todos! No momento seguinte, foram fundos oportunistas americanos que compraram… mas que já estão a vender a estruturas societárias cada vez mais complexas. Entender onde está o risco é conhecer o ciclo, quando o risco estiver em mãos locais, então temos motivos para estar preocupados! Partilhando no inevitável e inebriante otimismo, o que mais me assusta é a velocidade com que fomos do inferno a este céu azul reluzente! Só nos resta ficar atentos ao que nos dizem as estrelas!

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